food, art & spirits

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sábado, 27 de outubro de 2012

ford. tom ford




Adoro ousadias, e Tom Ford sempre consegue ser ousado - foi este elemento que conseguiu no passado levantar a marca Gucci sob sua direção criativa, depois de anos de tédio e balancetes negativos. Com sua sexualidade exp lícita e altíssima qualidade de execução, ele faz o que considero roupas "para mulheres", e não para eternas mocinhas. Eternas mocinhas são aquelas senhoras de idade incompatível com o tamanho de suas sainhas Chanel, por exemplo.
Mas o que faz Tom Ford neste blog? Sua intenção de ser claro. Sua roupa é sexy, poderosa, com poucos mas definitivos elementos - e o vídeo acima é a antítese dos atuais desfiles de moda das marcas mundiais. Ele prefere mostrar suas roupas para um grupo pequeno e seleto, e fazer um vídeo (sob sua direção) que mostra em poucos minutos todo seu DNA - poder, glamour, sexualidade, atitude.
E eu gosto desta posição em relação à gastronomia. Detesto pratos "mocinha" - não prego a brutalidade gastronômica, sempre reafirmo isto - mas não gosto de comida que não me emocione. Sem "punch", sem pegada - nada a ver com quantidade, e sim com essência, com economia precisa de elementos muito bem explorados. Por isso adoro a cozinha de Paola Carosella, do Arturito - consegue uma culinária de precisão e emoção provavelmente com muito trabalho, mas sem frescuras, direta, sensual, sem muitos rabiscos ou firulas desnecessárias. Não aguento mais pratos rabiscadinhos, assim como também não aguento mais ver desfiles onde você não vê a roupa, e sim o "conceito" de um kaiser por detrás da marca. Exceção feita à Alexander McQueen, esse podia fazer qualquer coisa que eu adorava, mas é  porque eu nunca soube explicar o que ele fazia, tamanha sua originalidade. Esse faz falta ainda, apesar do talento de sua sucessora. Portanto... Menos babado e mais pernas à mostra. Menos chapéu e mais desenvoltura. Menos cenário e mais substância. Less is more, gente! As periguetes que o digam - menos pano, mais corpo à mostra. Acho que não usei um bom exemplo para terminar o texto...

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

pretinho básico




Muita atitude as vezes atrapalha...e isto é um mea culpamea culpa, mea maxima culpa. Quando mudei-me para meu apartamento novo, resolvi não permanecer mais no borralho - toda vez que eu dava jantares em casa, eu ficava metade do jantar na cozinha, metade na sala preocupado com o que acontecia na cozinha. Então, na reforma, decidimos primeiro abrir completamente este ambiente para a sala, para que esta fizesse parte da "ação", por assim dizer. Quebramos tudo,  nem uma paredinha sequer dividindo as áreas, limitada apenas por uma viga no teto e uma diferença de piso. E, para não entrar em conflito com o restante da sala, decidimos que ela seria preta e cinza e cheia de coisas, como o resto da casa. (pausa - por mim ela seria INTEIRAMENTE preta, mas fui convencido ao contrário pela cara metade). Aí foi um tal de procurar os aparelhos mais adequados ao projeto, iluminação que fosse prática mas ao mesmo tempo dramática, toda uma longa série de pequenos detalhes que fariam a diferença. Quando ficou pronto, eu mesmo falei WOW! Ficou muito bom, apesar de ainda estar faltando a coifa, mas os livros que mais uso, as coqueteleiras que adoro, o vidro de farmácia em cristal e os bules ingleses de louça, mais algumas obras de arte e objetos deixaram minha cozinha como uma extensão da sala.




Tudo ia muito bem até o dia seguinte. Uma cozinha de uma casa de pessoas que 1)gostam de comer e 2)gostam de cozinhar, por mais que esteja arrumada, sempre tem uma baguncinha (estou sendo sutil). Esqueça aqueles cenários de programas culinários, onde as panelas aparecem e desaparecem como que levadas por gnomos prestativos. Qualquer jantar para 6 pessoas implica em 12 ou 18 pratos, 12 ou 18 taças, uma montanha de talheres, xícaras, um arsenal de matar qualquer um que, como eu, está elevando o transtorno obsessivo-compulsivo a novos patamares de exigência. Fora a pretensão deste que vos escreve de estar agora enveredando em caminhos nunca dantes navegados, tais como massas, bolos, ou seja - farinha. Este produto tem uma capacidade de se multiplicar num ambiente negro que nenhum físico conseguirá explicar. O simples fato de abrir um pacote novo de farinha causa uma performance moderna - farinha para todo lado. (antes que me chamem de apatetado, não, não estou exagerando e não tenho duas mãos esquerdas...). Agora, fazer gnocchi, nunca mais. Sobrou uma poeira branca nos armários, nas juntas da cerâmica preta, no belíssimo móbile de vidro, no vidro de farmácia, nos puxadores dos armários, na persiana - catástrofe! - no Leopoldo, e só não entrou na geladeira pois a maldita apita quando fica aberta. Parecia mais  o laboratório de um traficante colombiano. Claro que minha fiel escudeira já me proibiu pediu que diminuísse um pouco este ritmo frenético, apelou até para uma intolerância a glúten que eu nunca soube que ela - ou eu - tínhamos.
Sim, black is beautiful na voz da Elis, nos desfiles de moda, no cartão de crédito, mas na cozinha é f**a.