E eis que hoje, em virtude de ter ido comer uma coxinha comentada num restaurante no Baixo Augusta, que me garantiam as redes sociais estar aberto - e que não estava, óbvio! - acabei (ou melhor seria dizer ME ACABEI) na Rostisserie Bologna, antiga casa paulistana que serve frango assado, lagarto a vinagrete, cuscus paulista & otras receitas clássicas de nossa culinária. Pedi na hora uma coxa creme,
iguaria que acrescentou dígitos à minha silhueta desde tempos da faculdade no Mackenzie. Quando ela chegou, estranhei - cadê o ossinho que segurava a coxa? Olhei no expositor e todas as coxinhas estavam nesta nova versão, mais clean, mais "sofisticada"...Será que ninguém pensou que a carne junto ao osso, quando assada ou cozida, tem um sabor inigualável? E que segurar a coxinha pelo ossinho, além de tudo, remete a tempos imemoriais, quase pré-históricos, reafirmando nossa masculinidade?
Como ainda pedi um camarão empanado - este sim original até o rabo (literalmente falando, ok?), e um pequeno cuscus para arrematar (por favor, evitem as imagens de duplo sentido nesta frase...), achei que se redimiram no conjunto da obra. Ao pagar a conta, decidi finalizar esta refeição de modo coerente - pedi um Sonho de Valsa, que não comia há muito.
Tentei abrir a embalagem como de costume, e não consegui. Nova tentativa, novo erro. Pânico...Será que o velhinho alemão se apoderou de mim? Estaria com algum transtorno miotônico (sempre quis usar isto, sorry...), havia perdido a coordenação dos movimentos, O QUE ESTAVA ACONTECENDO?? Entrei no carro, respirei fundo, tentei isolar o meu ser interior do exterior barulhento para rever a ação, e então olhei fixamente para o bombom. Cuja embalagem tinha mudado de forma! Não era mais um papel celofane rosa envolvendo um aluminizado, era um trangênico, um pacotinho que imitava a antiga embalagem. Tive que usar os dentes para desembalar o conteúdo, engolindo nesta ação um pedacinho do papel que vai ficar grudado no meu esôfago por alguns anos...Depois disto, nem posso garantir que o sabor era o mesmo, juro. Tinha ficado tão irritado intrigado com isto, que perdi o prazer da mordida.
Algumas coisas não deveriam mudar, permanecer eternamente iguais, como a Torrada Petrópolis do Aeroporto Santos Dummont, inalteradamente gordurosa e deliciosa ao longo dos tempos, a segunda melhor coisa deste aeroporto carioca - a primeira é a vista, claro.
Meu mestre Mies Van Der Rohe pregava "God is in details". Sou agnóstico, mas aceito a frase de bom grado, e prego que, se Ele está nos detalhes, o Anjo Caído está no excesso destes. Talvez o básico irá nos salvar, o simples nos redimirá. Aleluia, irmãos!