Não posso dizer que fiz tudo do meu jeito - talvez pelo meu modo cordato de levar a vida. Ela já me deu muita porrada violenta, não dava para toda hora ficar batendo boca com a dita cuja - portanto era mais fácil ouvir os desaforos e seguir caminho. Mas deu mais certo do que errado - e agora, na segunda metade de minha vida (sim, os 100 anos são os novos 70 - dona Canô e Niemeyer comprovaram isto), exatamente no primeiro dia do ano de 2013, tive um longo momento de silêncio absoluto, o que provocou uma gritaria interna pedindo decisões para esta segunda metade.
Não estou querendo mais conquistar posições - estou querendo ter tempo para os pequenos prazeres.
E também para me proporcionar coisas novas, geminiano que sou - o que quer que isto signifique, pois não sou um conhecedor de astrologia.
Sempre me foi difícil acompanhar ao pé da letra um plano diretor - inclusive dentro de minha profissão, ainda mais na vida, pois achava que a margem de erro era mais excitante do que seguir passo a passo uma receita pré-estabelecida. Mas já está na hora de aprender com alguns erros, e este - a predisposição do desacerto - terá de ser suprimida na medida do possível.
Vou encarar alguns medos ancestrais. O primeiro - vou aprender a nadar. Ainda não sei nadar absolutamente nada, e tenho a companhia de minha querida amiga e comadre A., que está me incentivando a fazer isto junto com ela, que tem o mesmo "déficit". O receio de parecer ridículo, agarrado a uma pranchinha e sendo amparado por um professor da metade de minha idade (ou menos...)pelo menos será compartilhado - ou seja, vexame a dois é meio vexame.
Hoje soube que meu afilhado de quase cinco anos deu uma bronca severa no cachorro que comeu seu dinossauro, com momentos cômicos da melhor qualidade. Não quero mais perder muitos momentos como este.
Vou tentar tirar algumas pequenas férias sem nenhum motivo profissional, desinteressadas - faz muito muito muito tempo que isto não ocorre.
Vou tentar beber menos. Não deve doer tanto.
Cuidar um pouquinho do corpo está na lista de ações - saúde principalmente, sou completamente desencanado (leia-se irresponsável) com isso.
Ler mais. Tenho um medo absoluto da perda da memória, e acredito piamente que ler - além de prazeiroso, diminui as chances disto acontecer.
Voltar a tocar piano está nos planos. Tocava muito bem quando garoto, depois Eduardo me presenteou com um piano de um quarto de cauda, mas eu travei - achei que estava duro, junto à lembrança que tinha de mim mesmo. Como não pretendo dar recitais mundo afora, vou aceitar esta falta de prática como um "work in progress" eterno.
Boulangerie e patisserie estão anotados no caderninho.
Já falei beber menos?
Tirar a palavra procrastinar de meu dicionário. Ou pelo menos fazer uso comedido deste verbo.
Guardar dinheiro - deve ter um jeito de eu fazer isto. Preciso encontrar este gene no meu DNA. Não de forma avara, mas como medida profilática para o futuro.
E no final da vida, poder cantar ao piano
"I´ve planned each charted course
Each careful step along the byway...
...The record shows, I took the blows
And did it my way."