Bem, é preciso ter coragem para fazer algo já feito por outrem, sem incorrer no risco da comparação com saldo negativo. E no universo vigente das releituras - como se estas conseguissem o fôlego da criação original - as vezes o caminho toma liberdades desnecessárias.
Lincoln, o caçador de vampiros, é uma daquelas bobagens "da moda" - misturar clássicos da literatura com algo absolutamente trash. O resultado também é outra bobagem.
A über-famosa Monalisa de Leonardo da Vinci, bem como a cena da criação do Universo de Michelângelo Buonarroti, já renderam versões divertidas e/ou pretensiosas.
E falando em pretensioso, minha crítica recorrente - transformar algo perfeito numa "coisa" geralmente cafona, como o intitulado "mago da cozinha" (ô título brega!) fez com o pato no tucupi, um dos pratos mais particulares da culinária brasileira, como pode ser visto - se você tiver paciência e estômago - AQUI.
Mas eu criei coragem, e fiz uma receita de uma "guru" particular, a Patricia Scarpin do delicioso TECHNICOLOR KITCHEN - brownies de chocolate ao leite. Ficaram perfeitos, e eu ainda ousei colocar nesta receita perfeita um elemento particular, um restinho
Mas ainda me falta a coragem de assumir uma empreitada - copiar o cuscuz de camarões que minha mãe fazia. Era tão perfeito em sua textura e sabores, apimentado na medida certa, nem seco nem muito molhado, bom de tal forma que eu abria a geladeira e, se me deparasse com uma (raríssima) sobra dele, tirava largas fatias e comia gelado mesmo, inclusive em horas impróprias como de madrugada ou antes do café da manhã. Ela não tinha medidas exatas para este prato, portanto a receita me foi legada na forma da lembrança, dos momentos em que eventualmente ajudava ela na mistura das farinhas de milho e de mandioca, ou na decoração da forma, ou experimentando várias vezes antes do término afim de acertar o sal e a pimenta.
Vou encarar este projeto no próximo final de semana, já com a certeza de não alcançar o resultado esperado. Pois sempre falta alguma coisa para matar cem por cento a saudade.