food, art & spirits

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quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

bumpy night ou descompromissos, desacertos, descombinações


E não é que eu caí na cilada, logo no início do ano, de descumprir uma de minhas premissas para 2012? Eu prometi para mim mesmo não entrar em polêmicas desnecessárias (escrito e lavrado aqui) e por causa de uma rede social quase recebi um despacho virtual. Um amigo da rede, sr. N., inteligente e ufanista pregou em um post as qualidadades de um fondue bourguignone comido em...Recife, com molhos tártaro, rosê, de tomate seco e outros, servido com salada e batatas fritas. Achei meio insólito este prato quentinho -estou sendo modesto no adjetivo - (provavelmente a palavra fondue derive de fondre, que significa derreter em francês) e ainda mais com os molhos citados - tenho problemas sérios com o que fizeram com o molho golf, transformando-o numa mistura de maionese/creme de leite/catchup, confesso. Resultado : recebi uma saraivada de chumbo virtual. Mas a coisa ainda estava suave, até que alguém citou o termo "pitoresco", como característica positiva para este prato quentíssimo no calor pernambucano de janeiro de 2012. Levantou a bola para mim...e eu apenas concordei - "...também acho comer fondue com molho rosè e tomates secos, em Recife, pitoresco...". Achei que a senhora que tinha postado isto não perceberia minha "sutil" ironia. Mas, quem manda subestimar quem não se conhece, não é mesmo? Ela quase me mandou uma praga via Facebook, declarou-me mau-humorado e chato e preconceituoso e sei-lá-o-quê e mais alguns adjetivos depreciativos e, se eu bobear, deve ter fotos minhas no aeroporto daquela capital, em placas escritas "Procura-se".

Mas a vida dá voltas...Ontem, ao chegar em casa, um pouco de preguiça de cozinhar, e lembro de um pacote de salsichões de excelente origem esperando por ação no freezer. Queria uma salada morna de batatas para acompanhar, mas...cadê as batatas? Aliás, tinha uma batatinha, solitária, no fundo da gaveta da geladeira, fazendo o quê não sei - que receita eu fiz que utilizava todas as batatas disponíveis, menos uma? Porém destacou-se na imensidão da geladeira meio confusa ontem uma porção de tomatinhos-cereja, e lembrei-me de uma receita de clafoutis de tomates, que que a  Karen, do blog Kafka na Praia (adoro este nome) postou certa vez, e uma mudancinha aqui, uma mudancinha ali, fiz a minha versão, utilizando as ervas frescas que plantei em meu jardim no último sábado. Quando fui montar o prato, caiu a ficha - o que tem a ver salsichão grelhado com clafoutis de tomate cereja? A não ser o fato de que funcionou - ficou delicioso, tks. Karen!- , eles não tem nada, absolutamente nada em comum para frequentarem a mesma área, quanto mais o mesmo prato. Está certo que o clima ontem em Sampa estava fresquinho, no Morumbi mais ainda, e um clafoutis salgado ajuda a manter o espírito avivado. Todavia, era uma mistura passível de críticas e comentários, como os que eu havia feito.

não ficou simpático?

Portanto, prometo não meter mais o bico em assuntos desta ordem - a não ser quando for chamado. Aí, se segurem nas cadeiras : já que estarei controlado, quando solicitado soltarei todos os argumentos, pérolas e desaforos sutis. Algo tipo "all about Eve", só que sem cabelo. E sem cigarro.




Clafoutis de tomate cereja



200 g de tomates cereja cortados no meio, no sentido do comprimento
3 colheres de alho poró cortado em fatias finas
3 colheres (sopa) de ervas frescas picadas (salsinha, cebolinha, manjericão)
100 g de queijo emmental ralado
50 g de queijo pecorino ralado
1 colher de sobremesa de farinha de trigo
2 ovos grandes
4 colheres (sopa) de creme de leite fresco
sal e pimenta moída na hora
manteiga para untar


Pré-aquecer o forno a 185ºC. Untar um refratário com manteiga (eu usei dois ramequins).Espalhar os tomates cereja pelo refratário. Polvilhar com as ervas picadas e o alho-poró. Reservar. Colocar a farinha numa tigela. Juntar os ovos um a um, mexendo entre cada adição. Misturar até a massa se apresentar lisa e homogênea.Adicionar o creme de leite , mexer suavemente. Temperar com sal e pimenta.
Verter a massa sobre os tomates cereja e polvilhar com o pecorino. Levar ao forno por aproximadamente 25 a 30 minutos, a 185ºC. Servir bem quente ou à temperatura ambiente.


sábado, 7 de janeiro de 2012

de traças


Estou na contramão da história. Em tempos de conectividade "full time", onde o número de celulares em nosso país é maior do que o de habitantes (120 celulares para cada 100 habitantes - dá para acreditar?) , decidi me voltar cada vez mais para a leitura. Estou relendo coisas que tinha lido no passado e que não me lembrava, ou então quando era jovem demais para entender alguns textos e/ou autores. E lendo obras que gostaria de ter lido, ou indicações que vejo nos jornais e revistas. Isso provocou um aumento significativo em minha lista de coisas "a ler ou em processo" - pois tenho o hábito de ler duas ou três coisas ao mesmo tempo. E hoje li na revisa Piauí que vários aviões da TAM já permitem o uso de celulares, smartphones (será que existiriam dumbphones?), terminando com um dos únicos locais "públicos" onde se podia ler em silêncio. Doravante, nossos vôos serão recheados de conversa em sua maioria sem nenhuma necessidade, ditas em altos - e bota alto nisso - brados, revelando intimidades que não gostaríamos ou precisaríamos saber.

Mas, voltando aos livros, não prego um obscurantismo tecnológico, não ousaria. Mas é que tenho um apego não só à palavra escrita, mas também a impressa! Adoro fontes, cabeçalhos, títulos, a textura e a gramatura do papel, a impressão, tudo isso me atrai. E compro também pela capa ou pela situação - foi o que aconteceu com 400g Técnicas de Cozinha, que vi na La Vie en Douce da Carole Crema. Achei que ia aprender a fazer o bolo chiffon de chocolate daquela loja ou os perfeitos cupcakes nas páginas deste pesado livro, mas não. Explica coisas e termos que eu já sabia, e outros pontos esclarecedores, mesmo para alguém que já tem certo repertório no assunto. 
A primeira vez que li sobre o delicioso Sangue, Ossos e Manteiga, de Gabrielle Hamilton, foi no blog de Nina Horta. E esta chef, dona do restaurante Prune em NYC, tem uma escrita fluente e divertida, não poupando o leitor de intimidades e desacertos. Ainda não terminei, estou no terceiro capítulo (Manteiga...), mas é raro você se pegar rindo lendo um livro sobre gastronomia. A Poesia é Para Comer tem um viés bastante original e tentador - a autora Ana Vidal une Chico Buarque, Clarice Lispector, Hilda Hist e outros tantos com os talentos de Alex Atala, Carla Pernambuco e Claude Troisgros, entre outros. Está na lista de leitura.
                         
Bem, leitura não me falta. Apetite também não - talvez me falte silhueta e cintura depois desta comilança literária. Mas como não posso pretendo fazer parte do time de descamisados do Facebook, e a idade traz a certeza das prioridades - ou pelo menos uma "quase certeza" da maioria delas - vou encarar estas saborosas páginas com a mesma vontade que tomo um rhum&coke, também chamado  de Cuba Libre. Coisas da antiga...

domingo, 1 de janeiro de 2012

o primeiro dia do resto do ano

Então, é 2012...

Ontem já passou. O reveillon poderia ser um tema, se não fossem estes tempos de hiperconectividade, onde a informação é a daquele minuto, daquele exato instante. O que aconteceu ontem já não é interessante, mesmo que o tender que fiz tenha ficado perfeito,




ou que a salada de bacalhau com grão de bico tenha sido super elogiada (apesar da quantidade exagerada para o número de comensais), ou que minha primeira panna cotta tenha revelado para mim os mistérios do ponto certo desta delicada sobremesa.. Porque tudo isto foi ontem, na longínqua noite de ano-novo, e mesmo que tenha sido a primeira vez em que eu fiz sozinho a ceia - exceto pelas rabanadas - isto já passou, como já passou 2011.
Então, é 2012. E para este ano, o que esperamos? Apesar de saber 
- aliás, ter a certeza - de que nada muda, a não ser a folhinha no calendário para quem ainda usa isto, eu tenho algumas coisas que pretendo fazer - ou que aconteçam, a despeito de minha vontade.
Claro que desejo a paz mundial, a boa vontade entre os homens, a diminuição sensível da miséria, e a erradicação completa dos serviços de telemarketing como todos, mas deixo aqui lavrado o que realmente almejo ou secretamente desejo para meu futuro próximo, muito embora não seja o tipo de homem que expresse seus sentimentos à mancheia.
Que este ano eu tenha mais tempo para estar com os amigos, e que tenha a sensibilidade de retomar algumas relações esquecidas pelo tempo. Que eu consiga fazer o curso de francês que desejo há muito, embora não veja muita utilização prática nisto a não ser ler Mallarmé em sua língua original. Um curso de patisserie cairia bem para minhas futuras intenções. Atualizar-me constantemente sobre produções artísticas e rever meus conhecimentos sobre história da arte, vão me ser úteis certo dia. Ser mais profícuo nos meus posts no site Betty´s, de minhas amigas Cris e Sophia. Perder menos tempo jogando paciência no laptop e apurar minhas habilidades fotográficas. Ler mais, apesar de ter perdido meu guru literário Daniel Piza, uma das notas tristes do ano que passou - muito do que li nos últimos tempos foi indicado por este jovem jornalista. Escrever mais, se possível aumentando o vocabulário exposto em meus textos, pois depois de ter lido Fernando Pessoa recentemente,me senti com o repertório limitado. Ficar mais atento à minha saúde, sou completa e assumidamente relaxado com meu corpo, e a idade nos traz os inefáveis complementos. Ir à Roma para ver "ao vivo" as esculturas de Bernini,
de quem sou confesso apaixonado - apesar de ter ido à Itália inúmeras vezes, ainda não conheço a capital, falha imperdoável. Levar uma vida menos sedentária! Não mais procrastinar os problemas, chega disto, não tenho mais paciência. Evitar polêmicas desnecessárias, as que não valem a pena realmente não valem a pena. O mesmo para pessoas desagradáveis, evitá-las na medida do possível, cercar-se apenas de pessoas promissoras, éticas - insistir nesta palavra, ética.
 E ampliar o raio de minhas ações, pois elas podem ser a gênese de algo maior que talvez eu não enxergue, mas que somadas às ações de outros, podem sim vir a transformar o mundo. 
A ser relido em primeiro de janeiro de doismiletreze, caso as previsões não se concretizem.