Paris, 23 Janvier 2012.
Meu francês me fez falta hoje. Ou melhor, corrigindo - a falta do domínio da lingua de Mallarmé se manifestou mais forte hoje. Se eu estivesse estudado mais esta língua que admiro profundamente, conseguiria explicar ao mâitre que a carne estava apenas razoável, pois tinha gordura em demasia (admiro gordura, mas não quando ela é o componente dominante) de uma forma mais "polida" - apesar de ter elogiado as batatas, impecáveis. Pensei em agradecer pelo pote de mostarda Dijon - ô maravilha! - mas fiquei receoso de ser novamente mal interpretado. A chef se mata fazendo um coté du boeuf e eu elogio a mostarda?
Ao meu lado, um senhor provavelmente habituée do lugar, chama o garçom pelo nome e pede um corte especial para sua carne. Ele lê um livro estranhíssimo, me deu vontade de saber exatamente do que se trata - Paris 100 crimes oubliés.
Pensando bem, ele tem cara de serial killer...À direita, uma mulher também sozinha (subitamente me sinto personagem de um quadro de Hoper - um bando de solitários...) com um inusitado vestido vermelho fazendo composée com o sofá e as paredes vermelhas. Inusitado pois sempre considerei que vestidos vermelhos fossem a epítome do sexy, do sedutor, diáfanas personagens passando pelo red carpet. Mas não com minha vizinha de mesa - ela usava um vestido vermelho de lã grossa, mangas longas, discretíssimo decote, comprimento da saia abaixo do joelho e um par de botas de cano alto e salto baixo, quase se mimetizando com o fundo do dècor. A antítese do sexy, que ao sair da mesa foi substituida por um casal igualmente vermelho - o rapaz, um jovem Gerard Depardieu magro de nariz proeminente e cabelos revoltos, portando uma belíssima jaqueta vermelha. Sua acompanhante lembrava uma fresca Charlotte Rampling, de dedos longos e olhos expressivos e aquele cuidadosamente desalinhado cabelo das francesas - parece que foram todas ao coiffeur e receberam uma súbita rajada de vento à porta do salão. Seu cabelo era rubro, como também eram rubras as cortinas do restaurante, os porta-velas e a taça à minha frente, contendo um excepcional Borgogna. Eu leio -ou melhor, tento ler - L´initiation D´un Homme, de John dos Passos.
Envolto em tanto vermelho, me lembro do cantor ruivo Daniel Merriweather, que adoro. E de uma piada particular de uma grande socialite carioca, que morava em um ambiente todo vermelho feito com maestria pelo arquiteto Luiz Fernando Redó. Ao dar uma reunião em casa, recebeu um convidado (não muito elegante em minha opinião) que falou - "...noossa, tudo vermelho? me sinto no próprio inferno!" - no que recebeu de resposta da dona da casa "Você tem razão. E está falando com o diabo em pessoa."
Touché.
Amei a música, o cenário, os livros, amei tudo! E qual era o bistrô onde se passou esta cena?
ResponderExcluirBeijokas
Lucia
E amei o humor da socialite carioca também!
ResponderExcluirLucia
Mas John dos Passos em francês? Deve ser só para contrariar... rs
ResponderExcluire eu que achei que era uma pista para Johnny Walker? rsrs
Excluirwair, obrigado pela visita ao raileronline. espero que consiga ver o filme 'a outra terra' e depois me conte o que achou, ok?
ResponderExcluirsobre a postagem, divertida!
ainda não consegui ver o filme, mas obrigado. abs
ExcluirOlá Wair!
ResponderExcluirObrigado pela visita lá no Hora Minuto, ops, 365 palavras! Apareça mais vezes!
E curti seu blog, tanto que já seguindo. Abraço!
Viajei até o Marais... Delícia de texto!!!
ResponderExcluirTks...mas foi em Saint Germain, na Rue du Cherche Midi. Forte abraço!
ExcluirVim te conhecer e curti muito o seu blog... Parabéns!!!
ResponderExcluirAbraços, Irene
Olá, ficou feliz com seu doce de goiaba?
ResponderExcluirque bom, eu também!
Adorei as cenas en "rouge",
Bonne journée!
Renata, eu fiquei felicíssimo. Quem não gostou foi meu guarda-roupas...
Excluirmerci beaucoup!
muito chic tudo isto, amei!!!
ResponderExcluirbisou
karen
Eu nasci no país errado... Tenho certeza disto!
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