food, art & spirits

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sexta-feira, 5 de novembro de 2010

O talento educa-se na calma


Suco de laranja do Marrocos. E também as tâmaras e figos secos mais doces que já comi em toda minha existência...
Foi com esta vontade que acordei hoje. Vontade de um sabor natural, sem conservantes, acidulantes, corantes nem nada que termine com ...antes, a não ser o sabor de antes. Um simples, prosaico suco de laranja. Que não venha na caixinha. De cujas laranjas eu não tenha que tirar um selo. Minha vontade de sabores passados também pescou na memória uma goiabada, feito em tacho sobre fogão de lenha, usando apenas goiabas e açúcar, como no vídeo que ví no blog da Roberta Sudbrack, de título poético e manifesto paradoxalmente inovador, pregando uma maior valorização dos processos artesanais. Um gosto de origem, um traço de exatidão não obtido através da precisão alquímica, mas sim da generosidade, do tempo, do respeito. Um frango refogado farto em sabores e aromas, que ficava horas cozinhando para atingir a maciez necessária - hoje, este mesmo frango cozinha em pouquíssimo tempo, vítima do crescimento exagerado e precoce, resultado das quantidades abissais de hormônios necessários para que este processo se complete dentro dos ditames regidos pelo mercado. Do tempo da venda da esquina, da mercearia, onde sacos de grosso tecido comportavam largas e coloridas quantidades de grãos e farinhas, com imensas pás de metal servindo de medidas. Quando se embalava em papel amarrado com um barbante pendurado no alto do balcão. E não se gastava fortunas com as complexas e desnecessárias embalagens atuais, todas de difícil absorção no meio ambiente depois de descartadas.
Não, não prego um retorno ao passado. É que temo com todas as forças a frase (creio de Mário de Andrade), que vaticina : " Não devemos servir de exemplo a ninguém. Mas podemos servir de lição."
Tks Roberta e Yuri por este vídeo.

2 comentários:

  1. Cara, é muita coincidência você postar este vídeo. Esta semana mesmo eu tinha recebido um vídeo falando da Mercearia Paraopeba que me deixou emocionado pela simplicidade do pessoal, pela beleza do trabalho que eles fazem, e por aquele sotaque impagável de Minas que me traz saudades. Dê uma olhada que beleza: Mercearia Paraopeba

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  2. Luciano, acho o vídeo da Mercearia Paraopeba de uma poesia quase perdida. Abs.

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