food, art & spirits

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quarta-feira, 20 de julho de 2011

naninha, mingau & outras compensações

Não foram duas boas semanas, fisicamente falando. Uma tosse intermitente, chatinha, me levou ao médico. Diagnóstico - infecção das vias respiratórias. Um pouco de antibióticos deram conta do recado, mas em seguida, um mal-estar de proporções bíblicas me levou novamente ao médico em menos de uma semana. Diagnósticos : sinusite e estafa. Pelamordosdeuses, estafa é o diagnóstico mais comum para homens de minha idade que não tem a conta bancária de um Eike ou de um Bill. Mas esta estafinha me derrubou. Não tinha vontade de nada - nem de comer, nem de cozinhar, ler, ver TV, internet, George Clooney, eu não queria nada que não fosse minha cama e os cobertores. Um frio ancestral me dominava e me mantinha preso à cama, um torpor, uma moleza, uma incapacidade até de pensar. O copo d´água ao meu lado, e o braço não queria se mexer, a não ser na última hora. Fora a inapetência, a falta de vontade de tudo.
Aí lembrei que as crianças têm um apoio "moral" nestas horas - a tal da naninha.
Um misto de rito de passagem pela supressão da chupeta, com todas suas óbvias interpretações psicanalíticas, e também uma coisa fofinha para a criança ficar mais calma e segura. Mas não tem para adulto...E eu descobri que eu precisava de uma espécie de naninha, algo simbólico que me acalmasse (e não fosse Rivotril) para que eu tivesse a certeza de que aquele mal-estar era passageiro, de que aquele estado de torpor era temporário e normal sob algumas circunstâncias. Mas como não tinha este objeto para focar minhas deficiências, esperei até melhorar. E esperei, e continuei esperando quase até hoje, quando, pela primeira vez, me senti próximo ao normal. Não deixei de trabalhar quase nenhum dia, mas o tempo em que estava em casa, estava na cama, o único lugar razoavelmente confortável e aconchegante para minha situação.
Mas se o corpo é um universo misterioso, a mente mais ainda, mas atende aos sinais deste primeiro. Hoje trabalhei com mais foco e afinco, e ao chegar em casa, me deu vontade de uma coisa básica, que me levantasse, fisica e moralmente. Nada muito complicado, que me obrigasse a ficar horas na cozinha. Queria um alimento ancestral, que suprisse as minhas necessidades físicas, e que ao mesmo tempo me reconfortasse, afastando-me daquele auto-tédio a que tinha me imposto. O resultado foi uma forma de "naninha" : um mingau. Um delicioso, quente, reconfortante mingau de tapioca, preparado em poucos minutos, mas cuja preparação me provocou excelentes lembranças, de um tempo em que alguém colocava a  mão em minha testa para ver se eu estava com febre, e trazia um chá com torradas e geléia, uma sopinha quente e cremosa, um mingau...
Não foram semanas agradáveis, eu estava enjoado, chatinho e chateado, com uma moleza absoluta e uma inapetência fora do comum para mim. Mas subtraíram fantásticos três quilos de meu peso total, então no final valeu a pena. Já voltei ao blog e à internet, cozinhei, li, vi House, e se o George Clooney aparecer, vai ser muito bem recebido.
 
Mingau de Tapioca
2/3 de xícara de tapioca flocada
2/3 de xícara de água fria
1 e 1/2 xícaras de leite desnatado
1/2 xícara de leite de côco
1 colher de sobremesa de manteiga sem sal
2 colheres de sobremesa de açúcar
1 pauzinho de canela
canela em pó

Coloque a tapioca de molho na água em uma tigela ou prato fundo por aproximadamente 20 minutos. Reserve. A tapioca vai inchar e absorver toda a água. Aqueça em fogo baixo o leite, adicione o leite de côco e o açúcar, a manteiga, a canela em pau e a tapioca. Mexa sobre o fogo baixo por aproximadamente 15 minutos ou até engrossar. Sirva quente polvilhando canela em pó.


6 comentários:

  1. Meu filho vive me pedindo mingau como forma de dizer que precisa de atenção. Vou preparar esse pra ele algum dia!

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  2. Wair,
    Que mingau saboroso, texto lindo, e uma doce lembrança!
    BJK
    Mia

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  3. De verdade, já estava pensando...por onde anda Wair? Pronto, já tenho a resposta.
    No meu caso, é o mingau de maizena que corporifica a mão na testa, as bolachas, o chá, mãe e afeto.
    Belo texto ;)
    Abraços,
    Marcelo

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  4. Mmmm!!! Parece bom! Sobrou! Tô levando meu marmitex aí agora! :-)

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  5. Ah, que gostoso! Espero que já esteja com mais ânimo!

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