food, art & spirits

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quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Wish U

Sei que é lugar comum - foto de cachorro vestido de papai noel, fazendo carinha de safado, irresistível. Mas não vou pagar o mico de vestir Leopoldo, meu schnauzer, com gorrinho e tudo - sem chances. Bem, como diria a Simone, então é natal... Este ano vou fazer um programa diferente - passarei a noite de natal no avião, a caminho de uma cidade que adoro - NY. Eu, Eduardo - meu companheiro de 23 anos, e mais dois amigos - Rob e Fernando - vamos passar sem aquela comilança padrão e aquela alegria forçada da distribuição dos presentes. Vou estar cercado de pessoas que curto, lendo, ouvindo música, vendo filmes, bebendo, conversando, e , se possível, dormindo mais tarde. Vou sentir falta de estar com meus compadres Cris e Rodrigo, Glaucio e Mariana, meu afilhado querido e lindinho Raphael e seu irmão Thomas, a gatinha da Valentina - que me chama de padinho a toda hora, Maca - meu amigo de todas as horas, e mais alguns amigos queridos. Espero este ano ultrapassar uma etapa de minha vida - a de superar as ausências. Algumas ainda frequentam minha memória, as vezes de forma prazeirosa, vez ou outra de forma dolorosa. Tive a sorte de passar por um período muito complicado de perdas contínuas - inúmeros queridos amigos (no início da Aids), irmã, um primo que me era particularmente caro, meu pai, minha mãe - e conseguir superar sem grandes depressões. Alguns ainda me fazem uma puta falta, mesmo depois de tantos anos. Outros me acalentam com lembranças um tanto melancólicas, um tanto poéticas. Sei lá se existe uma outra dimensão, onde encontraremos as pessoas que perdemos. Do alto do meu ceticismo, decidi que duvido de quase tudo - do certo e do duvidoso. A única coisa que não duvido é de que estas pessoas foram fundamentais para mim, e estarei pensando nelas, nas alturas, e pensando como o mundo foi melhor quando todos estavam nele.
À Liane, Aimar, meu pai, meus avós, Toninho, Chico, Rubens, Márcia, Paulinho, e minha mãe.
  7. Wish you were here by Rohs! records

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

O PRINCÍPIO DA COMUNICAÇÃO


Gosto do termo one of a kind. Define o que sentia por Janete Costa, uma querida amiga, excepcional profissional, arquiteta que tinha o dom da palavra e sempre me surpreendia com frases e constatações simples de definição genial. Em um jantar onde ela falava em português com uma norte-americana, e ouvia respostas em inglês, sem que nenhuma dominasse a lingua da outra, questionei como elas se entendiam. A resposta foi lapidar - " Wair, o princípio da comunicação é o objeto. Se eu estou com sede, aponto um copo...". Veja aqui o depoimento de seus amigos, a respeito desta grande criadora e imensa criatura.
Foi dela que me lembrei ao ver este curta, vencedor na categoria de curta de animação do Vimeo, feito por Kirsten Lepore em stop-motion. Uma comunicação transoceânica entre dois personagens, uma parábola de resultado sutil e comovente.
Comunicação, de conteúdo - é para poucos.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

mister bree van de kamp





Para os que não são viciados em séries norte-americanas, Bree Van de Kamp é a personagem de Marcia Cross em Desperate Housewives. Dona de casa absolutamente perfeita, cozinheira de mão cheia, sempre arrumada, com visíveis sinais de transtorno obsessivo compulsivo, faz arranjos florais, cuida do jardim, da decoração, faz cestas de presentes, etc.etc.etc., tudo sem mexer um fio de cabelo de seu impecável penteado. Para quem não conhece Christopher, do domestic daddy, ele é uma versão gay de Bree . Típico norte-americano, pai de Julia, adora tomar conta de casa. Faz a decoração do quarto da menina. Faz bonequinhos e bonequinhas. Transforma embalagem de vinho em arranjos florais. Faz gelatina , drinques impecáveis e cookies, que embala em latinhas igualmente impecáveis,  decoradas também por ele. Deve ter um jardim lindo em sua casa nos Hamptons, ou em San Francisco - e seu apê em Manhattan é minuciosamente decorado, também por ele.
Ele é uma versão ao contrário do Women´s Lib - enquanto as mulheres lutaram por direitos iguais (leia-se conquistar os espaços e direitos antes unicamente destinados aos homens), Chris transforma-se numa Ana Maria Braga, arrumando a casa, leitor de Criativa & Faça Você Mesmo. As receitas são boas? Sim, a maioria. As fotos são bonitas? sim...É um pouco brega sometimes? Lógico. Mas é um ponto de vista totalmente diferente do que costumamos ver, e, nem que seja por isto, vale a pena dar uma olhada.

ps- tks à minha amiga cris, do bettys, que me mostrou isto. bjs!!

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

o gosto do luxo

Ganhei um livro - aliás, "O Livro" . Goût de Luxe, uma caixa com seis livrinhos , cada um tratando de um assunto - foie gras, lagosta & caviar, chocolate, champagne e trufas. Escrito por Trish Deseine, é um pequeno primor e cumpre o que promete - um gosto de luxo, puro luxo.Fotos magníficas, texto conciso e elegante, receitas sofisticadas - e, o que é melhor, foi um presente luxuoso de uma querida - e mais querida ainda agora, depois deste presente - de uma amiga, retribuindo a um simples jantar por mim oferecido. Se meu jantar era simples - uma salada com figos grelhados, parma e aspargos como entrada e um risi-bisi, o risoto de ervilhas que adoro de fazer, e uma sobremesa simples à base de cocada mole e pão-de-ló, a retribuição foi de tal esmero - tanto pelo fato do livro, recém lançado, ser realmente muito bom e bonito, quanto pelo fato desta minha amiga ter escolhido este assunto que sabe que me é de particular interesse - que cheguei à simples conclusão - receber bons presentes é muito bom. Mas receber presentes especiais de pessoas idens, isto sim é um luxo.
ps - Tks Marina!!

RISI-BISI (ou risoto de ervilhas...)

meia cebola finamente picada
2 dentes de alho picados
150 gramas de pancetta
350 gramas de ervilha fresca
2 xícaras de arroz arbóreo
150 ml de vinho branco seco
1,5 litro de caldo de legumes
100 gramas de parmigiano-regiano ralado
60 gramas de manteiga gelada
pimenta-do-reino branca moída na hora
10 folhas de hortelã (opcional)

Coloque 100 gramas da ervilha para cozinhar no caldo de legumes, até que fiquem totalmente cozidas. Passe pelo liquidificador e coe para obter um caldo de tonalidade verde-clara.
Refogue a cebola em azeite virgem, até ficar translúcida. Adicione o alho e a pancetta em pedaços pequenos. Não deixe fritar a pancetta, para que não fique sem gordura. Adicione o arroz e mexa até que todos os grãos absorvam a gordura. Derrame o vinho branco e espere evaporar o álcool.
Em seguida, comece a colocar o caldo, uma concha por vez, esperando que o arroz absorva o caldo antes de colocar mais, mexendo sempre. Após 16 minutos, coloque as ervilhas frescas cruas e limpas, e complete com mais caldo, até que o arroz fique ligeiramente translúcido. Quando estiver al dente, coloque a manteiga gelada e o parmesão ralado e mexa vigorosamente, para dar brilho e encorpar mais o caldo. Prove e corrija o sal, se necessário. Apague o fogo, coloque as folhas de hortelã cortadas em tiras finas e sirva. Polvilhe a pimenta do reino moída na hora de acordo com o gosto do comensal.
Esta é uma típica receita do Vêneto, e apesar da pancetta, gosto de servi-la com um vinho branco fresco e frutado, pois considero que combina melhor com o gosto das ervilhas.


quarta-feira, 24 de novembro de 2010

MEXICANISMOS

- Eu não aguento mais estes nomes estranhos...
- Eu também...
- Há mais de seis dias que só tomo café com pão no breakfast!
- Eu também...
- Nada contra. Mas como posso pedir "machaca norteña com chilaquiles rojos o verdes"? Isto nem parece um prato, mais parece uma tese sobre a ocupação hispânica neste país!
- E o que dizer de "huachinango al ajillo"? Ou "arrachera de res com salsa de chile poblano"? Ou "carne a la tampiqueña com enchilada e frijoles refritos"?
- Aliás, tem frijoles em tudo. Por todo o lado. No café, no almoço, no lanche...Ontem à noite sonhei que estava afundando numa espécie de areia movediça, mas só que era tudo frijoles - eu me debatia, debatia, e quanto mais me apavorava mais afundava naquela massa de feijão preto.
- Deve ter sido efeito do jantar de ontem - aliás, o que era esmedregal, afinal?
- Um peixe ótimo, branquinho, branquinho - só o nome era exótico.
- E aquelas coisas que acompanhavam?
- UM PENACHO DE BANANAS FRITAS! Genial! Parecia que o designer do prato era fã da Carmem Miranda.
- Agora, tem a Tequila, que é ótima.
- Ah, isso é mesmo.
- E a sangrita, que acompanha a tequila, tanto a verde quanto a vermelha - ambas excepcionais, viciei mesmo. E nas tortillas de maiz azul quase pré-históricas!
-  Concordo...
- O Chile relleno, uhn...
- De queijo ou carne?
- Comi de queijo, impecável. E também tem o povo, encantador.
- Educadíssimos! Gentilíssimos!
- E o colorido, as flores por todo o lado, e estas casas juntam cores desconcertantes. Ontem vi uma casa verde-malva, toda recortada em um azul de fazer Yves Klein entrar em êxtase. Ao lado, outra casa rosa-pálido com uma moldura marrom café e janelas verde-periquito. Do outro lado, um muro imenso laranja com detalhes em rosa choque que parecia ligado no 220W! Uma miscelânea de cores absolutamente genial, criativa e delirante.
- Delirante está você, com este excesso de adjetivos...
- Mas o México é assim mesmo, superlativo, grandioso. Grandes espaços, magníficos museus, alamedas gigantescas...Nada aqui é "cool", tudo é uma epopéia barroca, inclusive a comida, que não fica atrás.
- Aliás, que coisa calma é esta que você pediu?
- Sopa de pollo com juliana de verduras y arroz...
- CANJA!!!Você vem ao México para pedir canja!?!
- Por mais que goste, não aguentava mais comer comida condimentada.Pedi uma sopinha básica, mas acharam estranho e mandaram - muito solicitamente - estes potinhos ao lado, para dar uma "temperada" na sopinha...
- E o que é isto?
- Cebolas curtidas, salsa veracruzana e um pote de chilli!!!!


CHILI RELLENO

4 pimentas chilli grandes, firmes e com o talo
250 gramas de queso fresco (queijo freso mexicano, mas algumas receitas usam queijo de cabra, e outros cheddar, mas prefiro o queijo fresco)
2 cebolas pequenas
3 claras em neve
3 gemas batidas
farinha de trigo para empanar os chillis

Asse as pimentas no forno ou diretamente sobre a chama do fogão, até que fiquem com a casca queimada. Sob um fio de água, retire as pele queimada, com cuidado para não danificar as pimentas.
Pique o queijo ou rale em um ralador grosso e misture com a cebola picada, uma pitada de noz moscada e um pouco de pimenta branca moída na hora.
Bata as claras em neve com uma pitada de sal. Quando estiverem quase em ponto de neve, incorpore as gemas e misture às claras lentamente.
Corte a tampa dos chillis com cuidado, e retire as membranas e o excesso de sementes, com cuidado para não rasgar a pele. Dica: deixe um pouco das sementes, darão um sabor especial. Recheie cuidadosamente com a mistura de queijo e cebola temperados. Não encha muito para não rasgar na hora da fritura.
Coloque as tampas que estavam separadas, prenda com um palito para que o recheio não escape, passe na farinha cuidadosamente, depois mergulhe na mistura de claras e gemas. Frite em óleo de canola ou de soja quente, retire com cuidado com uma escumadeira sobre uma grade com papel absorvente, e sirva com salada ou salsa veracruzana.
TIPS - pode ter recheio de carne, frango ou pasta de feijão...


terça-feira, 16 de novembro de 2010

frankstein

Não sou avesso a novidades. Muito embora, gastronomicamente, eu tenha uma queda para o tradicional (ou seja, sushi sem maionese, pizza sem chocolate, sorvete doce e comida sólida), aceito algumas novidades se amparadas pelo meu gosto pessoal. Sushi de foie-gras? Sim, comi e adoro, apesar de minhas restrições a forma do como o foie geralmente é produzido. O capuccino de funghi não ia café nem chocolate, apenas a espuma e a cor, e aprovei de pronto. E uma das melhores empadas que comi recentemente foi em Recife, de queijo do reino, vermelha, forte e deliciosa. Mas perto de minha casa, em um lugar especializado em empadas, vi um folder apresentando seu novo produto, o (ou a?) Empaburguer. Recheio de hamburger, em massa de empada. A foto do ...prato dá uma certa noção do que seja. Vejam:
Tá certo, a foto não ajuda muito. O "flyer" também tinha um estilo único , tipo
" é uma empada? é um hamburger? não, é o (a?) EMPABURGER..."
Eu adoro empada. Sou fanático por hambúrger, tenho o ranking dos melhores, e as vezes me arrisco a pedi-lo em restaurantes onde ele não é a piece de resistance, por assim dizer, apenas para comprovar minha tese - é muito difícil fazer um bom hamburger, mas é muito fácil fazer um mediano - e facílimo transformar esta refeição num equívoco. O mesmo serve para empada - quanto mais simples, melhor.

Receita básica de hambúrger
300 gramas de patinho (com 20% de gordura)
100 gramas de contra-filé (sem gordura)
sal a gosto
gotas de molho inglês (opcional)
Moa as carnes em separado, misture, tempere com o molho inglês . Faça duas bolas com a massa e modele como hambúrger.
Esquente uma frigideira de fundo grosso, pincele com azeite, esquente bem a frigideira e grelhe rapidamente o hamburger de ambos os lados, para evitar que os sumos ressequem. Volte a grelhar de ambos os lados, salpique o sal e sirva com acompanhamentos de sua escolha . Eu gosto de rodelas de cebola roxa,  tomate, pepino em conserva e mostarda dijon.
Este, eu comi em Singapura (me recuso a escrever Cingapura, com C, sorry). Mas é do jeito que gosto - o bacon é dispensável, apesar do componente crocante cair bem neste prato. Mas comparem as fotos - qual é mais apetitoso?

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

O talento educa-se na calma


Suco de laranja do Marrocos. E também as tâmaras e figos secos mais doces que já comi em toda minha existência...
Foi com esta vontade que acordei hoje. Vontade de um sabor natural, sem conservantes, acidulantes, corantes nem nada que termine com ...antes, a não ser o sabor de antes. Um simples, prosaico suco de laranja. Que não venha na caixinha. De cujas laranjas eu não tenha que tirar um selo. Minha vontade de sabores passados também pescou na memória uma goiabada, feito em tacho sobre fogão de lenha, usando apenas goiabas e açúcar, como no vídeo que ví no blog da Roberta Sudbrack, de título poético e manifesto paradoxalmente inovador, pregando uma maior valorização dos processos artesanais. Um gosto de origem, um traço de exatidão não obtido através da precisão alquímica, mas sim da generosidade, do tempo, do respeito. Um frango refogado farto em sabores e aromas, que ficava horas cozinhando para atingir a maciez necessária - hoje, este mesmo frango cozinha em pouquíssimo tempo, vítima do crescimento exagerado e precoce, resultado das quantidades abissais de hormônios necessários para que este processo se complete dentro dos ditames regidos pelo mercado. Do tempo da venda da esquina, da mercearia, onde sacos de grosso tecido comportavam largas e coloridas quantidades de grãos e farinhas, com imensas pás de metal servindo de medidas. Quando se embalava em papel amarrado com um barbante pendurado no alto do balcão. E não se gastava fortunas com as complexas e desnecessárias embalagens atuais, todas de difícil absorção no meio ambiente depois de descartadas.
Não, não prego um retorno ao passado. É que temo com todas as forças a frase (creio de Mário de Andrade), que vaticina : " Não devemos servir de exemplo a ninguém. Mas podemos servir de lição."
Tks Roberta e Yuri por este vídeo.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

risotto ou risoto?

Risoto ou risotto, tanto faz a grafia. Consistem basicamente em arroz, um caldo base e algumas  calorias adicionadas, dependendo do tema escolhido. Mas nem sempre foi assim – pelo menos, em nosso país. O arroz adequado para esta típica receita chegou recentemente neste solo, graças à abertura das importações. Antes disto, era feito com o arroz tipo agulhinha, desconfigurando o jeitão cremoso característico deste prato presente em quase todos os bons (e outros nem tanto) restaurantes, jantares e festas. No passado recente – correção, estou falando das longínquas décadas de 1960/1970, era uma das iguarias presentes quase todos os domingos na casa de meus avós. Mas como não era feito nem com viallone, arbóreo ou similar , e sim com arroz Brejeiro ou algum concorrente, ele vinha sob a forma de um arroz com frango – ou camarões  -, molho de tomate, petit pois (de lata...) e decorado com rodelas de palmito e ovos cozidos. Uma gororoba, em suma. Por melhor que minha avó cozinhasse, ela não conseguia acertar a receita que provavelmente sua mãe fazia na Itália natal – deve ter restado uma lembrança, remota, de como executar – literalmente – este prato simbólico da Bota.  E ate a chegada do riso italiano a estas plagas, eu me recusei, depois de ligeiramente adulto, a engolir esta variante brasileira, preferindo o arroz branco, puro e alvo, a suas mutações gastronômicas. E eis que nos deparamos hoje em dia com uma variedade infinita do tema desta coluna. E eu decidi fazer um ranking, uma espécie de top ten de receitas de risotto, cada uma adequada para uma situação especifica. A saber:
- para um comensal vegetariano – risotto de abobora assada com sálvia (RECEITA ABAIXO). Se a mesa não permitir algo de cor forte no prato, o segundo lugar vai para o risi-bisi, risotto de ervilhas frescas, deliciosamente típico.
- em um jantar exótico – risotto de laranja com alcaparras. Mas e melhor como acompanhamento, não segura como prato principal. Mas a cor é linda.
- categoria luxo – risotto de camarões com perfume de romã. Ou de perdiz com raspas de laranja. Ou com um ovo quente e trufas – uhn...
- categoria heavy metal – risotto de lingüiça calabresa com erva-doce. Ou risotto com ragu de rabada – muito bom, mas para paladares adultos.
- para um jantar rápido – de abobrinha. Ou de legumes. Mas não vai ser assim tão rápido...
- para o day after – riso al salto, o risotto frito – um de meus preferidos. Aliás, sempre que sobra risotto, qualquer que seja, acaba virando riso al salto. Com uma saladinha.
-  se quiser impressionar (ainda mais) – de figo seco com Parma. Ou de bacalhau com cebolas cozidas.
- nas festas juninas – de pinhão com couve crocante.
- para um grupo grande – troque por uma massa, salada, o que quiser. Os primeiros podem até comer um risotto excelente, mas os últimos provavelmente terão de se contentar com uma gororoba ultra - cozida e ressecada.
- quando de regime – nem abra a página do livro de receitas deste item. O simples folhear das folhas já adicionará calorias extras a sua silhueta...
E para finalizar, numa situação jantar romântico – esqueça... vai dar trabalho, você vai ficar suado/a , e o encanto deste instante periga se perder no meio dos vapores.
Risotto di Zucca
240 gr de arroz arbório ou viallone
1 cebola média finamente picada
500 gr de abóbora madura
1,5 l de caldo de legumes (deve sobrar, mas é melhor sobrar do que faltar)
150 ml de vinho branco seco (mais uma ou duas taças para o cozinheiro, claro!)
3 colheres de azeite de oliva
80 gr de manteiga gelada em pedaços
100 gr de parmigiano reggiano ralado na hora
pimenta do reino branca moída na hora
1 xícara de folhas de sálvia frescas

Pique a abóbora em pedaços médios, coloque em uma assadeira, regue com um pouco de azeite, mexa para incorporar o azeite em todos os pedaços e asse no formo com a assadeira coberta com papel alumínio por aproximadamente 30/40 minutos. Retire do forno, passe no processador até obter um purê fino, e reserve.
Refogue o arroz no azeite com a cebola, derrame o vinho e espere evaporar o álcool. Coloque o caldo de legumes pouco a pouco, em conchas, esperando que ele seja absorvido antes de completar com mais caldo, mexendo constantemente. Após aproximadamente 12 minutos, incorpore o purê de abóbora, mexa bem e continue derramando o caldo de legumes. Aos 14 minutos do cozimento, se o arroz estiver al dente (translúcido mas firme), apague o fogo e incorpore a manteiga e o parmigiano recém ralado. Mexa vigorosamente, para dar brilho , tempere com a pimenta. Acrescente as folhas de sálvia, que darão o característico sabor metálico a esta receita, pouco antes de servir. Sirva imediatamente.
Se quiser, pode servir dentro de pequenas abóboras sem recheio (como na foto), que foram previamente assadas (pincele com um pouco de azeite para não queimar e dar brilho).

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

O sal é um dom

 
O vídeo acima (descobri no blog da Marta Matui) faz parte de uma sequência de vídeos deliciosos, campanha de uma marca de temperos. Das mais interessantes campanhas de produtos culinários dos últimos tempos. Eu, que sou parcimonioso no sal em casa, quero um saleiro deste na minha cozinha a.s.a.p!
E Dona Canô, mãe de Betania e de Caetano, emprestou o título deste post.
Sim, o sal é um dom, a ser usado com parcimônia, ele ressalta sabores quando bem utilizado, e estraga pratos quando utilizado sem a preocupação devida. Mas ultimamente tenho visto alguns pequenos exageros neste quesito. No passado, lia em receitas a opção sal a gosto, ou então duas ou três pitadas de sal. Víamos também a medida .."tantas colheres de café de sal". Porém, recentemente, vi em uma receita algo como 6,5 gramas de sal. Eu realmente não me lembro se era 6,5 - 7,5 ou 10,5, mas me lembro muito bem do marcador meia grama. Primeiro - como faço para medir isto ? Segundo - se eu colocar meia grama a mais, ou a menos, a receita desanda completamente? Terceiro - com que balança o autor desta receita conseguiu pesar isto?
Respostas para este blog.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Ecos

Sei que tenho sorte quando me lembro que Chicô ofereceu-me um jantar de aniversário, com mini-acarajés e efó, que adoro e ninguém gosta.

Sei que tenho sorte porque Edith faz kibe cru para mim, so' para mim - e todo o mais para o resto. E o Eduardo de vez em quando faz o melhor mingau que conheço. Gente grande pode tomar mingau, sim.

Sei que tenho sorte pois comi o peixe frito inteiro do Jun, num jantar pequeno de felicidade enorme.

Tenho sorte pois Levy faz aquele frango com cebolas da culinária judaica, cujo nome não me lembro, pois sabe que eu adoro. E sei que tenho sorte pois Cris e Rodrigo adoram comemorar qualquer coisa no Fasano, com aquele picollo gnocchi recheado - como fazem, eu não sei. Mas e' muuuuuuito bom!Melhor, só a companhia da Cris e do Rodrigo.E tenho sorte porque o Raphael me deu um pedaço de tomate.

Sei que tenho sorte pois Paola sabe que sou tarado pela cozinha mineira, e na casa dela tem um tutu de comer rezando. E ensinei a Gabi a fazer risoto na casa da Fernanda, e eles comeram tudo. E eu também.

Tenho sorte mesmo. Sempre que a Sandra faz cuscus paulista, me chama para ajudar a mexer a massa, e a comer logo depois. E a Mônica sempre tem uma cachaça fantástica no congelador. E a Mariana fez um prato de blinis na hora, especialmente para mim, pois eu não tinha jantado nada. Comi tudo.Tudo mesmo.

Tive a sorte de jantares deliciosos na casa de Titá, fartos, divertidos.
Tive a sorte de tomar a melhor caipirinha de lima, que meu primo Aimar fazia. E a companhia dele fazia este drinque ainda melhor.
Tive muita sorte pois meu pai fazia uma salada de sardinha, cebolas e muito azeite, que tentei repetir inúmeras vezes, mas falta algum ingrediente que não está a venda em nenhum supermercado. E fazia um doce de abóbora com côco que ficava horas na panela, e eu comia ainda quente.
Tive mesmo muita sorte - minha avó fazia um bife acebolado de primeira grandeza, e eu tomava com vinho tinto diluído em água. E minha outra avó também fazia um otimo kibe cru, tão bom quanto o da Edith. E meu avô sempre aparecia com Sonhos de Valsa para mim - hoje eu tenho que comprar. Não é o mesmo gosto...

Tive a sorte de minha mãe fazer quase tudo muito bom, mas sabia que eu adorava a rabada que ela fazia, com uma polenta - que é um dos pratos de mais "sustança" que conheço , aquece até a alma. E fazia bolinhos de chuva, simples, generosos. E me ensinou a fazer farofa de vagem e de milho verde.

Tenho a sorte de lembrar disto tudo. Mesmo do que não usufruo mais
  Madredeus - Ecos Na Catedral (remix) by DJ Cold Duck

s p a

SPA – fui submetido a um recentemente. Como se fora um procedimento cirúrgico, pois esta foi a minha impressão. Sim, todos muito gentis. Sim, todos muito atenciosos. Sim, educadíssimos até a última fala baixa. Mas também, o que se esperava de um lugar onde – primeiro: não se pode comer o que se quer? – segundo: mal se pode comer. – terceiro: eles fazem seu horário (acordar às 8, almoço às 12, um pedaço de fruta às 15, jantar às 18, cama às 21, televisão das 19 às 21, silêncio absoluto das 21 às 6...)?
Ainda se as instalações fossem as magníficas paredes de Peter Zumthor, prestigiado arquiteto que projetou um Spa em Valls, na Suíça, e se as atendentes fossem todas parecidas com Nicole Kidmann e os massagistas tivessem o physique du rôle de George Clooney, tudo bem. Mas não era o caso. Uma paisagem sem graça, um quarto triste, e o ligeiro viés religioso que perpassava cada pequena ação tornava tudo ainda mais estranhamente incômodo.
As teorias perpetradas durante esta privação poderiam ter algum fundamento científico, mas mesmo assim desafiavam qualquer um a confrontá-las com a lógica. Antes de cada refeição, um pedaço de fruta, pois desta forma nos sentimos mais saciados e com menos fome. Poderiam trocar a fruta por peixe, tomate, escargot ou o que fosse – com a fome que todos estavam, o que viesse antes da refeição seria imediatamente traçado.  Nenhum líquido durante a refeição, pois isso dilui o suco gástrico, prejudicando a digestão. Muito bem – mas também ninguém tinha sede com aquela comida sem nenhuma gota de sal. Mastigar muito, devagar e conscientemente. Mastigar muito e devagar sim, pois a comida era tão pouca, que desta forma prolongaríamos aquela sensação boa. Já conscientemente, não posso garantir que todos lá estavam conscientes.  E no meio do salão de jantar, um carrinho com inúmeros potinhos de cebolinha, orégano e outros temperos parecidos, que as pessoas despejavam sobre seus pratos como se fosse grana padano...
Me lembrei daquela piada recorrente sobre spas, onde um amigo pergunta ao outro:
- quanto tempo você ficou no Spa?
- dez dias.
- e quanto você perdeu?
- dez dias...

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

medos

no camarim...

- Folhinhas de alface…
- Uhn???
- Folhinhas de alface – o que eu não daria por umas folhinhas de alface agora…
- Esta’ com fome, perua?
- O que você acha, que eu vou colocar a alface na cabeça e sair cantando “mamãe eu quero”?
- Calma, criatura, senão borra o make-up.
- Mas como eu vou entrar na passarela com esta fome insana, me corroendo por dentro?
- Em primeiro lugar, você esta’ tão seca que não tem parte de dentro. Somente a parte da frente e a parte de trás – nada no meio.
- Ta me chamando de tábua???
- Calminha, santa – você e’ perfeita! Segundo lugar, como você ia matar sua fome com umas miseras folhinhas de alface?
- E como você acha que eu consegui este corpinho, comendo vatapá e lasanha?
- Já vi que hoje vai ser difícil...e para de mexer a cabeça, senão borra todo o visual, já disse, lindinha.
- Não sei como vou me equilibrar nestes saltos altíssimos com esta tontura!
- Ate’ parece que e’ a primeira vez que você encara o catwalk sentindo fome, Darling. Vocês todas não comem durante semanas antes dos desfiles – ou pensa que me engana?
- Mas pelo menos umas folhinhas verdinhas, com um fiozinho de azeite...
- Você vai desfilar de biquíni?
- Claro que vou!
- Então, esquece as folhinhas. Esquece o azeite. Esquece a água. Se possível, nem respire, pois ingerir qualquer coisa pode deixar você com outra aparência.
- BALEIA E’ A SENHORA SUA MAE! Por que será que todo maquiador fala mais do que papagaio de piada?
- Avisei. Já errei a maquiagem, vamos ter que começar tudo de novo...
- EU NÃO AGUENTO MAIS! Cadê minha mãe? Cadê minha cachorrinha? Cadê minha empresaria? E O QUE VOCE ESTA FAZENDO NO MEU ROSTO, pintura de guerra???
- Nervosa, da’ nisso. Esta parecendo mais um pele vermelha do que uma top model.
- E a culpa e’ sua, seu maquiador genérico! Você não consegue nem desenhar um circulo com a ajuda de um copo, quanto mais me maquiar!
- Olha aqui, o Free Willy, não desconta suas celulites no boneco aqui não, ok?
- Celuliteeeee? Celulite? Agora e’ demais! Eu, morta de fome, não como nada há dias, e este infeliz vem falar que eu tenho celulite?!?!?E passa logo este batom, que esta quase na minha hora – depois a gente acerta as contas!
- Você me paga, perua...
- Que batom e’ esse, bi?
- Ultimo lançamento – o must! Cerise noir au chocolat, irresistível.
- Realmente, irresistível. Tem um cheirinho gostoso...
- E a cor e’ linda, e...LARGA MEU BATOM, SUA LOUCA! O que você vai fazer com ele?
 - Uhn...gostinho de chocolate...
 - Segurança, me segura que eu vou me atracar com esta maluca!
- Chocolate com um toque de cereja...uhn...ahh...
- AGARREM ESTA LOUCA! ELA ESTA COMENDO MEU BATOM CARISSIMO! AAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

terça-feira, 12 de outubro de 2010

caju amigo

Fui jantar na casa de um amigo pernambucano, que me ofereceu um prato - uma salada de camarões, lagosta, folhas verdes e uma fruta que adoro - caju, em duas formas: grelhado e emulsionado no molho.A salada, assim como todo o jantar, estava impecável. Boa mesa, excelente papo, casa linda com um acervo de arte invejável, uma bela noite, como deveriam ser todas. Mas o caju literalmente mexe comigo. Esta fruta me traz lembranças muito pessoais. Era a fruta que meu pai mais gostava, e na época em que ele estava vivo, não era uma fruta comum nos mercados. Hoje, encontra-se em qualquer bom super mercado ou feira. Mas, voltando - ele adorava suco de caju, caipirinha desta fruta, doce, qualquer coisa. E esta e' uma lembrança dele. Estranho como nos fechamos em alguns pormenores quando a pessoa nos falta. Não me lembro direito da voz dele, nem de suas falas mais comuns, mas recordo perfeitamente que ele adorava conversar em torno da mesa de jantar. E toda vez que vejo esta fruta, a primeira sensação não e' o cheiro, ou o gosto, ou o travo na boca se ele não estiver maduro. A primeira sensação e' a lembrança de meu pai.Estranho depender de um gancho, uma muleta para lembrar de alguém tão importante. Mas creio que esta e' a forma de evitar a perda da lembrança, pior do que a perda da pessoa. Sim, perder alguém e' triste. Esquecer este alguém e' infinitamente pior. Talvez seja por isso que adoro caju - me traz a memoria de tempos mais amenos, onde podia contar com a figura paterna, mesmo não precisando dela. 

domingo, 3 de outubro de 2010

C H O C O L A T E


Com os olhos fixos na telinha, onde vejo o final da disputa presidencial ainda com certo temor (embora tenhamos a certeza de segundo turno), verifiquei que a barra de chocolate ao meu lado literalmente sumiu, evaporou, desmaterializou-se. Sobraram o papel dourado e o invólucro exterior, indicando que ali havia antes um chocolate ao leite com pedaços de avelã. Infelizmente, esta matéria desaparecida teve um destino claro - aumentar os centímetros que teimam em aparecer na minha circunferencia abdominal. Quem foi que descobriu que chocolate pode diminuir a ansiedade? Podiam ter descoberto que agua e jejum são fundamentais para estados de tensão. Ou então que chupar gelo diminui nosso nível de stress. Tudo o que me acalma engorda - álcool, chocolate, pães, doces, bala de goma...Tem outra coisa que me acalma um pouco - longos banhos muito quentes, não recomendado pela maioria dos dermatologistas. Mas, antes que eu vire uma imensa uva-passa rosada, de tanto tempo embaixo d' agua, vou tentar outra alternativa. Chocolate diet? Não, para mim isto e' um contrasenso tão grande quanto churrasco de soja. Vou tentar a meditação. Trilha sonora acima...

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Velhos hábitos, novos hábitos...

No passado remoto não comíamos com talheres – as mãos faziam as vezes de garfo, e os dentes, de faca. Hoje temos os talheres para escargot, para peixe, carne, artefatos especialmente desenhados para massas (alguns verdadeiras obras de arte), para sorvete, bolo, patê e por aí afora. E, como estes apetrechos vieram na esteira do desenvolvimento dos hábitos alimentares, provavelmente teremos novas e inusitadas surpresas no futuro próximo. Nos desenhos e  filmes de ficção científica do passado, que vislumbravam o novo milênio, a alimentação ou era uma recriação dos pratos vigentes, sob uma estética “futurista”, ou vinha em forma de pílulas. Simples assim – ou rosbife ou pílula de rosbife.
Mas nós não nos acostumamos com a praticidade, gostamos de complicar. Quando digo “nós”, digo a espécie humana. Ô raça com pendor para o complicado é a espécie humana. Em nossa ânsia do novo, nossa quase infinita necessidade de imitar o Criador, tentamos constantemente criar um mundo totalmente moldado à nossa forma e semelhança. E arriscamos aplicar isto aos nossos mais arraigados e rotineiros hábitos, como alimentação.

Este preâmbulo deseja nada mais do que manifestar um certo incômodo deste observador para esta que é uma das mais básicas necessidades do ser humano, nutrir-se de proteínas, carboidratos e otras cositas mas  para manter o corpo funcionando. Vejo com certa resistência (apesar de meu liberalismo gastronômico) algumas experimentações físico/químicas quando colocadas em meu prato.
Recentemente, em um festival gastronômico no Nordeste do País, um grande número de chefes se empenhou para demonstrar suas habilidades e sua capacidade de adaptação à nova corrente, que prega as virtudes da “cozinha molecular”, como se fosse possível falar de uma “cozinha imolecular”... E tome espumas, muito nitrogênio, mais espumas, pipetas com sucos quente/frio, e na foto de um prato um inusitado conta-gotas contendo algum tipo de azeite customizado, e uma explicação de como deveria ser sorvida aquela refeição. Eu disse refeição? Parecia mais uma experiência hospitalar – ou você, leitor, já imaginou algum dia ir à um incensado restaurante, e encontrar um conta-gotas no prato?
Outro prato trazia uma “poeira” de camarões. Deu-me vontade de chamar a faxineira, para limpar a  “poeira” do prato...Aliás, eu disse prato? Era uma bandeja retangular, absolutamente plana e imaculadamente branca, em cuja superfície pousavam, além da citada imatérica receita, uma linha viscosa resultante da redução de alguma coisa misturada com outra coisa – impecavelmente desenhada, diga-se de passagem! -  um montinho de brotos de bambu (os fashionistas diriam –“o broto de bambu é a nova salsinha”...) e duas caudas de camarão milagrosamente equilibradas. Fiquei pensando – como se come isto? Com os talheres usuais, não dava. Talvez faltasse um canudo, para cheirar a poeira e sorver a linha viscosa. E uma pinça para pegar os brotinhos de bambu. Ou então, suprema evolução, cheiremos a poeira com nossas narinas coladas ao prato, usando a língua diretamente para experimentar o líquido, e fazendo uso das mãos para legar o sólido à boca. Mas tudo muito pensado, executado de uma forma solene e precisa. Pois, se não realizarmos este novo ato com muita atenção, corremos o risco de pegar o conta-gotas do prato ao lado e pingar nos olhos, ouvidos ou nariz, pensando que é remédio...

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

little epiphany

Estava do outro lado do mundo. Em Shanghai, para ser mais preciso - acabara de chegar de Beijing,  e estava exausto, pois tinha começado a trabalhar desde que botei os pés em solo chinês, sem nenhum descanso entre a viagem de 27?28 horas e o fuso horário que me roubava quase metade de um dia de minha vida - metade esta que seria teoricamente reposta, em minha volta ao Brasil. Decidi parar para almoçar em um bairro ligeiramente boémio, pois tinha andado o dia todo , tanto, que meus pés pediam descanso, e meus ombros clamavam por uma poltrona, um sofá, qualquer coisa onde pudesse depositar meu esqueleto e minha bolsa imensa, repleta de bugingangas (inclusive uma maquina fotográfica semi-profissional, grande e, consequentemente, pesada). Naquela tarde ensolarada, calor de mais de 35 graus, uma mesa em um daqueles inúmeros restaurantes me parecia a ideia mais próxima do paraíso.
Consegui pedir ao atendente um chá gelado, apontando no cardápio em chinês/inglês o que desejava. Naquele calor tórrido, este pedido me soava o mais apropriado. Qual não foi minha surpresa quando chegou a mesa um bowl de vidro laranja, imenso, contendo em torno de 500 ml de um chá absolutamente aromático, com rodelas de lima e pequenas flores boiando em sua superfície. Achei aquilo totalmente kitsch, e como tenho uma queda para o kitsch, fiquei impressionado com aquela apresentação. Estou acostumado com as novas formas de servir comida, em pratos fundos e imensos, ou então em retangulos de imaculada porcelana branca, mas aquela profusão de cores a minha frente (mais o jet leg...) me estonteou. Nesse momento, um pensamento se sobrepôs aos meus sentidos - se um simples refresco tinha aquela apresentação, como não viriam os pratos principais?
Pedi então uma espécie de fried soft shell crab, pedaços de siri mole empanados, que vieram em uma travessa oval e funda, acompanhados de uma salada de coentro e um molho de pimenta de primeira grandeza - tanto que quase me senti na Bahia, lembrança provocada pelo binómio coentro-pimenta. A essa altura, eu já tinha me livrado da bacia colorida e literalmente enxugava uma cerveja local, otima. Foi então que perdi as estribeiras, e , mesmo com todo aquele calor, pedi um lamem - a típica sopa chinesa, pois o restaurante era famoso por este prato. Alguns minutos depois chega a minha mesa uma imensa tigela de ferro fundido,uma colher de longo cabo de marfim e um par de hashis de madeira lavrada. Nesta tigela, um caldo límpido envolvia largos pedaços de músculo, algumas mini-acelgas ainda crocantes, fatias de raiz de lotus e longos fios de macarrão.Tudo borbulhando...só de ver aquilo, eu já sentia mais calor. Mas a " cara " daquele prato era tão tentadora, tão convidativa, que me atraquei com os hashis e quase uma hora depois, ainda estava sentado observando o movimento, as pessoas correndo de um lado para o outro, o grupo de estudantes europeus em enérgica alegria coletiva, um casal idoso conversando mais a minha frente naquela língua da qual eu falava apenas quatro palavras (sim, não, por favor e obrigado - o básico). Neste momento, tive uma epifania : o que e que me causava aquele bem estar absoluto, aquela sensação de tranquilidade que eu estava sentindo, apesar de estar em um lugar completamente distinto de meu habitat natural, cercado de pessoas que não falavam minha língua (alias, nenhuma língua quase a não ser aquela), e cujas palavras soavam aos meus ouvidos como algo alienígena, por ser incompreensivel ao extremo? Estava longe de tudo, de todos, de minhas coisas e pessoas mais queridas, sozinho, onze horas de fuso horário de minha vida habitual, onze horas adiantado na trajetoria da minha historia, e, mesmo assim, apesar de tudo, em paz, feliz e estranhamente inserido naquele contexto.
E percebi que a alimentação era a base deste sentimento. Alimentar-se das comidas locais, onde quer que você esteja, faz com que se processe uma comunhão com o lugar, com o seu tempo e espaço. Assim como a arte, a culinária tem um carater universalizante (excetuando-se os extremos, claro), que ajuda o homem a se inserir em outras sociedades, países, culturas, por mais longínquas ou distintas. Óbvio que você tem que ser desprovido de preconceitos para que estas oportunidades lhe sejam proporcionadas. Mas esta regra vale para tudo - ate para o amor, não?

Days of wine and roses

Dias de Vinho e Rosas. Nunca entendi muito esta frase – embora goste de vinho, e não desgoste de rosas. Mas de repente esta idéia, este conceito me caiu no peito de uma forma avassaladora – hoje seria um dia de vinho e rosas. Dia para não fazer nada, de não ser nada. Ouvir os próprios pensamentos, por mais confusos ou conflitantes que pudessem ser. Dar um tempo do ritmo normal da vida, parar tudo, desprezar os mecanismos diários de controle do tempo, da função, da produtividade, e simplesmente parar – como param os relógios, sem dar aviso. Esquecer responsabilidades profissionais, pessoais, sociais. Deletar a aflição, a corrida contínua atrás do tempo, deixar de ser o eterno Coelho da Alice in Wonderland e se dar conta de que o tempo custa caro. Parar, simplesmente parar. E, num supremo exercício, tentar desligar os mecanismos do cérebro que tentam achar uma razão para tudo. Paralizar as funções mnemônicas e não lembrar de nada, ninguém. Não pensar em nada. Não sentir, não controlar, não se controlar, esvaziar a mente e o corpo até perceber que/se existe uma alma. Receber o fluxo da vida de uma forma absolutamente nova, percebendo-a. Pura e simples. Como Vinho e Rosas.

domingo, 26 de setembro de 2010

06-Prince-Emancipation - Disc 1-Betcha By Golly Wow! by Princecreatesmusic

Stylistics por Prince 06-Prince-Emancipation - Disc 1-Betcha By Golly Wow! by Princecreatesmusic

Betcha By Golly, Wow - Stylistics by differentstrokes

Prince regravou em 1996, num projeto ousado (fracasso comercial) - Emancipation, uma caixa com 3 albuns, esta deliciosa balada dos Stylistics. Entre o original e a versao do baixinho, fico com ambas. Betcha By Golly, Wow - Stylistics by differentstrokes

Randy Crawford - Unwounded - House re-edit by Oby Wan by j4k4

Um pouco mais de Randy Crawford Randy Crawford - Unwounded - House re-edit by Oby Wan by j4k4

Randy Crawford │One day I'll fly away

Da longa serie " confesso que desconhecia" - travei contato com Randy Crawford pela primeira vez, numa regravacao de Purple Rain, e depois outro remake - The Captain of Her Heart. Mas capotei com ela nesta musica - One Day I'll Fly Away, que Nicole Kidmann tentou cantar em Moulin Rouge. Esta americana nascida na Georgia em 1952 nunca fez muito sucesso em sua terra natal, visto ser mais reconhecida na Europa. Mas eu tenho uma pequena montanha de CDs desta deliciosa cantora. E a letra desta musica, de Joe Sample e Will Jennings? Gravada pela primeira vez em 1980, ainda corta feito faca amolada.
One day I'll fly away
Leave all this to yesterday
What more could
Your love do for me?
When will love be
Through with me?
Why live life from
Dream to dream
And dread the day
When dreaming ends?

mini design

Para os viciados em design, a chance de viciar tambem seus filhos - a empresa Little Nest comercializa, em seu site, replicas miniaturizadas de classicos do mobiliario. Le Corbusier, Charles Eames e outros, todos numa versao lilliputiana de seus originais. And how about the prices? Estes continuam "altinhos". Mas...

This Human World | Tied Up

Linda ideia para o poster - e a forma de divulgar este video sobre os direitos humanos, 62 anos apos sua declaracao oficial pela ONU.
PS - tks ao Nadamaisnadamenas!

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

seidou keita

Sonho de consumo. O fotografo Seidou Keita nasceu em Bamako na decada de 1920 e morreu em Paris, no inicio deste seculo. Suas fotos traduzem uma nobreza ancestral, demonstrada nao por suas esmeradas estruturas visuais, uma perfeita sintonia de estampas e tessituras, luz e sombra, nem pelas poses classicas de seus retratados. Mas o que faz dele um mestre e' a forma como ele, apesar das padronagens fortes e sobrepostas, consegue fazer com que os cenarios e figurinos nao corrompam a figura humana, dando um destaque ao corpo, maos e rosto de uma forma sutil e absolutamente relevante. 

Biutiful

Biutiful, o ultimo filme de Alejandro Gonzales Inarritu deu o premio de melhor ator a Javier Barden no Festival de Cannes este ano. Segundo o site IMDB, conta a historia de um homem em queda livre - Uxbal, um sensitivo/medium em Barcelona, que cuida dos dois filhos e, ao descobrir que tem um cancer fatal, tenta mudar sua vida. Conhecendo o diretor, sabe-se que varias historias definirao o destino da personagem principal. E eu estou doido para ver este filme, cujo titulo me conquistou de subito.

This house is empty now

Este album - Painted From The Memory - seguramente um dos mais elegantes dos ultimos tempos, tem um lugar destacado em minha discoteca. Adoro todas as musicas, no exceptions. Mas esta, em particular, desenha um quadro triste de uma forma absolutamente poetica, belissimamente interpretada por Elvis Costello. A letra de Declan Macmanus & Burth Bacarach e' de tomar vidro moido, mas se for para passar por isto, que pelo menos tenhamos essa classe...
um pedacinho da letra avassaladora:
Is Funny how the memory / will bring you so close than make you disappear / Meanwhile all our friends must choose / Who they will favour, who they will loose / Hang the garland high, or close the door / Or throw away the key
This house is empty now / There's no one living here/ You have to care about / This house is empty now / There's nothing I can do / To make you want to stay / So tell me how am I supposed to live without you...

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

post fofo

Eu nem sabia que isto existia. Mas depois que virei padrinho , passei a reparar e frequentar lojas infantis. E ontem descobri uma coisa chamada Naninha. 'E uma especie de cobertor com um bichinho. Achei legal, e comprei para o segundo filho de minha comadre. Consistia num elefantinho cinza preso num cobertor de plush antialergico cinza. Ela adorou, e me disse ser o que chamam de " objeto de passagem " - a crianca larga a chupeta e assume esta "muletinha emocional", ate largar a mesma e passar para outro, outra, e dai por diante. Pensei - porque nao inventam uma coisa destas para adulto?   Saiu de um relacionamento e ainda nao engatou o outro? Se enrosca na naninha. Levou um bolo, calote, fora? Apela para a naninha. Queda de auto-estima? Perda de grana, de cabelo, de bom senso? Naninha de novo. Acho que vou patentear...

All or Nothing (album version) de Stac

Stac. Desconhecia. Agora, adoro - esta mistura de voz pequena com arranjos delicadamente elaborados, me pegou de cheio. Harmonias fantasticas - grudou que nem chiclete. E ainda teve elogios rasgados de Alice Russell - post anterior. Coincidencia ou sincronicidade??
http://www.musicbystac.com/

All or Nothing (album version) de Stac

030 Seven Nation Army - Nostalgia 77 & Alice Russell IKE IBEABUCHI by charlieboorman9

Mais Alice Russell, arrasando nos vocais. 030 Seven Nation Army - Nostalgia 77 & Alice Russell IKE IBEABUCHI by charlieboorman9