food, art & spirits

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sábado, 28 de dezembro de 2013

i can´t explain and i won´t even try

Final de ano, não consegui escapar ao clichê do que aconteceu em 2013. Particularmente, foi um ano complicado - abertura de empresa nova, inúmeras viagens a Recife a trabalho, dinheiro mais curto do que eu esperava a esta altura...mas em compensação as possibilidades são interessantes. Caminhamos - eu e Eduardo - para um 2014 com muito trabalho (what´s new?), mas perspectivas de crescimento muito objetivas. Porém, não quero fazer uma retrospectiva 2013 desta pessoa (mesmo porque tenho os já mencionados sérios problemas de memória), e sim citar coisas que me marcaram de uma forma ou de outra. Na música, por exemplo. Descobri Aloe Blacc, insuportavelmente elegante e dono de uma voz potente e impecável.
Estranhamente, eu que sempre fui ligado às vozes femininas, este ano me vi ouvindo os cantores em uma proporção muito maior do que habitual. É que não consigo resistir ao ritmo de José James
assim como não deixo de me impressionar com a estranheza da voz e da divisão silábica de Maverick Sabre

ou com a intensidade dramática de Roberto Fonseca, ou tantos outros novos que descobri através de canais no Youtube como Mahogany Sessions e One Take One Pic, ótimos.
E mais uma penca de artistas que povoaram meu set list este ano, junto com os de sempre - Brad Mehldau, Radiohead, Elis Regina, Billie Holiday, Nina Simone, Aarvo Part y outros. No cinema, poucas coisas me marcaram além de Blue Jasmine (um dos mais tristes filmes de Woody Allen), o violento Os Suspeitos, o tristíssimo Amour e last but not least Gravidade - este último por causa de sua beleza, apesar do fim forçado. (Tenho que fazer um adendo neste assunto - já tentei ver 3 vezes o Som ao Redor, mas acho muito chato e absolutamente supervalorizado.) Na literatura, continuo lendo A Vida dos Artistas de Vassari - dificílimo, mas definitivo a respeito -, pirei em O Poder da Arte (de Simon Chama) por seu didatismo claro e revelador, adorei Um Olhar Sobre Giacometti de David Silvester, penei nas inúmeras páginas do grande Fausto de Thomas Mann,e li com carinho Diário da Corte de Paulo Francis, entre inúmeros que li ou reli este ano (cumprindo uma das resoluções do final de 2012). A cada dia mais me interesso por fotografia, e neste campo tive a sorte de neste ano conhecer três grandes artistas - Ricardo Labastier, Fábio Stachi e Leonardo Ramadinha (na sequência abaixo) 


entre outros grandes que já mostraram seu trabalho em minha galeria - e me apaixonei pela obra de Estevan Oriol e Jocelyn Bain Hogg, que retratam em seus trabalhos uma realidade que me é completamente estranha - e, talvez por isso, fascinante.


Na gastronomia, foi um ano em que cozinhei feito louco, constantemente - talvez pelo fato de que quando viajava ficava à mercê de restaurantes e pratos rápidos, quando em casa me esmerei em receitas clássicas ou complexas, enveredando pelos doces e bolos, seara que me era um pouco desconhecida. Meus highlights foram o bolo de peras, a cocada de forno ,a panna cota de coco e o prosaico biscoitinho de limão que fiz com meu afilhado Raphael, a pedido dele (claro que o fator emocional desta receita pesa muito mais do que o resultado em si...).
Em suma - nada de novo nem de especial, a não ser os três quilos extras que se incorporaram em meu corpo e não desapegam de nenhuma maneira - já tentei regime, pílulas, massagens e agora estou pensando num despacho. Quem sabe inicio o próximo ano mais leve - em todos os sentidos?
Abraços a todos, até 2014. Voltaremos com novidades.
W










quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Indulgências, indulgências...


Tenho certas características muito particulares. Quando estou nervoso, arrumo coisas - tentativa física de "arrumar" a cabeça, desviada para ações prosaicas como organizar gavetas e armários, engraxar sapatos, etc. Quando não estou muito bem, saio de casa arrumadíssimo. Capricho no visual para balancear o interno, como se este equilíbrio resolvesse. E quando estou meio perdido, paro para retomar o ritmo, quase um "reboot" no HD particular, pois assim consigo retomar ações de forma mais próximo à lógica.

Hoje estava assim, muita coisa para resolver e eu abobalhado. Tentei resolver um assunto, tentei resolver o segundo (este com sucesso) , o terceiro e o quarto embolaram.
Saí. Estava precisando de algo muito bom e calmo e de qualidade para me colocar nos trilhos novamente. Um encontro com George Clooney estava fora de cogitação, bem como aconselhamentos e meditação com a Monja Cohen. Resolvi me acariciar com um almoço calmo e correto, e corri para o Clos de Tapas, cujo almoço tem uma ótima relação preço x qualidade. E a simples lembrança da manteiga com raspas de limão e sal já aguçava minha gula.
O cardápio oferecia 3 opções de entrada, três de prato principal e também de sobremesa, com versões que atendiam do paladar mais light ao heavy - o meu,  no caso.
Não recusei o couvert - pão, a tal manteiga, maionese com ervas - ficaria horas comendo isso...

De entrada, ovo cozido à baixa temperatura com polenta e bacon. Perfeito, apesar de eu gostar de polenta mais mole. Mas o ovo estava impecável - e o bacon saborosíssimo, não sei se foi feito na casa ou é de alguma marca padrão, mas o sabor casou soberanamente com os outros elementos do prato.

O prato principal - porco preto com abacaxi e risotto. O porco foi executado à perfeição, macio mas não se desmanchando, rosado, o molho com acentos de gengibre e cítricos,  abacaxi caramelizado no ponto exato e o risotto cumprindo sua função de acompanhamento, sem ousadias. 

A sobremesa  - bolo morno de maçã - era linda, e muito gostosa - mas talvez tenha eu pecado nesta opção, pois apesar de muito bem executada, era mais adequada como acompanhamento de um chá ou uma caneca de café forte a ser servido no meio da tarde ou a noite em frente à TV. Vou tentar fazer desta forma qualquer dia, quase um bolo de caneca top vip plus.

Ovo-porco-bolo. Minha opção do cardápio foi quase um poema concreto...
Augusto de Campos

A propósito - a tarde foi bastante produtiva depois deste almoço. Percebi que preciso de mais indulgências do que achava.




Clos de Tapas
- atendimento - perfeito, atencioso e formal na medida. E atento, checando subtilmente quem foi atendido ou não, detalhe precioso.
- decoração - sempre achei estranha - não é feia, mas também não é bonita. Mas com poucos recursos ficaria lindo. E o ar condicionado não estava 100% no dia.
- comida - ótima.
- preço - honesto, considerando- se a qualidade. R$ 45,00 mais a bebida e o serviço.
- bola dentro - o cardápio de almoço, enxuto e preciso.
- bola fora - guardanapos de papel...não justifica. E o ar condicionado.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

wrapped

Tenho um confesso problema com algumas embalagens. Eu adorava o bombom Sonho de Valsa, mas depois que mudaram a embalagem para uma coisa inviolável, reduzi muito o consumo desta caloria. Algumas latas de conservas - tipo tomate pelado - também foram desenhadas especificamente para cortar o dedo de quem se aventura a abri-las. E sempre tem aquele pote de geleia ou de mostarda que só abre com a ajuda de um halterofilista ou lutador de MMA.
Mas atualmente me irrito é com o excesso de embalagens ou etiquetas. Comprei um quilo de ameixas vermelhas ontem, e todas - sem excessão - vieram com uma etiqueta de código, sendo que algumas tinha duas etiquetas : uma do produtor, outra do tal código. E tirar etiquetas da pele da ameixa sem machucá-la é obra para pacientes...Ontem fui à padaria ao lado de minha Galeria, no meio da tarde, morto de fome - não havia almoçado, e foi a opção mais rápida. Pedi um pedaço de torta de frango e um suco. Chegou o prato com a torta, um envelope com a faca e o garfo, dois envelopes com guardanapos e o canudinho dentro de uma embalagem plástica. Coincidentemente, hoje não consegui sair para almoçar e pedi um prato simples e correto do América, cujo grande problema é a demora na entrega - mas a qualidade quase sempre compensa. Este prato (Texas) é composto de um hambúrguer, relish de pepino e de milho, cebolas empanadas e batatas fritas. Embalagem:
1 sacola de papel
1 saco grande de papel
1 saco plástico contendo dois potinhos plásticos de relish
1 saco plástico contendo os talheres descartáveis
1 saco plástico contendo o copo de refrigerante
1 canudinho embalado
2 embalagens contendo guardanapo
1 caixa de papelão com as batatinhas
1 caixa de papelão com as cebolas
1 caixa de papelão com o hamburguer
Ou seja - descartei 11 embalagens para comer um hamburger e uma coca-diet...
Neste excesso de cuidado com a higiene, será que não estamos exagerando nas embalagens descartadas quase sempre de forma aleatória? E quanto do custo deste excesso não é repassado para o preço final? Entendo que para uma entrega, todo cuidado é pouco - mas no balcão de uma padaria ou de um restaurante popular? Implico solenemente com os canudos embalados um a um. Até palito de dentes (que não sei porque ainda existe...)estão servindo em embalagens individuais atualmente. Comprei uma caixa de aveia recentemente, e ao abri-la surpresa: ela estava dividid em porções, cada uma delas embaladas em um saquinho de alumínio inviolável. Eu sei o tamanho de minha porção, não preciso de ninguém para me orientar nisto. Será implicância minha, estou ficando velho ou ninguém percebeu isto? A ilha de lixo composta por uma camada de 1 quilometro de extensão, no Pacífico, me incomoda demais para pensar que estou ficando paranóico...

Embalagem por embalagem, prefiro o escultor Christo, que em seus projetos já embalou a Pont Neuf, o Reichstag e outras situações de inconteste e perturbadora beleza. Eu tenho um livro dele com um pedaço do tecido com que ele embalou o edifício alemão, que, parafraseando aquele ministro cretino do passado, é um livro imexível, invendável e imprestável (quer dizer que não empresto...). 



Eu sou dado a um boicote - não abasteço meu carro nos postos da Petrobras desde a morte de Paulo Francis, que implicava categoricamente com esta estatal - chamava-a de Petrossauro - e que recebeu inúmeros processos desta empresa. Estou seriamente tentado a evitar locais com excesso de embalagem. Aguardem posts no futuro a este respeito. Isto se eu não for embalado e jogado na tal ilha pelo cartel das embalagens...Síndrome persecutória é sinal de paranóia?

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

o erro

" Os homens erram, os grandes homens confessam que erram."
Frase atribuída a Voltaire, serve como justificativa para este post. Domingo eu estava em casa, cachorros à minha volta, o bambu do post anterior cada dia maior,
caipirinha de maracujá pronta e eu começando a preparar as bases de um jantar na casa de comadre na quarta feira - depois mostro tudo pronto. E também estava querendo me aventurar em novas praias gastronômicas, fazendo coisas que nunca havia feito. Se fosse algo que eu pudesse almoçar, melhor ainda - apesar de estar sozinho este final de semana, eu me trato bem mesmo assim. Som no último volume, a voz e ritmo fantásticos de José James
e eu pesquisando o que ia fazer. De repente, um estalo - lembrei de uns bolinhos de batata recheados de carne que comia há muito no Rio de Janeiro, num lugar no Fashion Mall que não existe mais. Eram perfeitos, bem temperados, sequinhos, e de um tamanho tão delicado que nos forçava a comer dois, três...as vezes quatro...claro que me arrependo até hoje (só que não!) destes abusos. Mas a lembrança daquele bolinho me despertou a vontade de repetir esta receita - e fui à cata de uma que eu achasse próxima à lembrança do gosto (este é um tema que adoro - a lembrança do gosto, tão vago...). Por força de não ferir suscetibilidades, não vou indicar qual foi o site que me forneceu a base para uma tarde tumultuada. 
Primeiro - a quantidade de farinha para a massa era indicada pela expressão "adicione farinha à massa até ela não grudar mais nas suas mãos"...eu já fiquei tenso, pensando num bolinho com gosto de farinha. Portanto, fui adicionando farinha de trigo com muita parcimônia à mistura de batata cozida amassada, parmesão, ovo, sal e pimenta. Quando achei que estava bom, parei - mas a massa continuava grudando nas minhas mãos. Até aí, tudo bem - untei-as com azeite, e fui tentar moldar os bolinhos. Segundo - modelar no tamanho exato, com a palma das mãos untadas, muito fácil. Só que eu não consegui...
Explico - por mais que eu tentasse, ele não ficava pequeno. Nem médio. Na verdade, o primeiro ficou obsceno de tão grande. Eu queria fazer um para fritar e testar o gosto do conjunto, então foi esse mesmo. Passar no ovo batido e na farinha de rosca sem furar a massa ou desmantelar a forma foi um exercício hercúleo - e eu me odiando por insistir, mas fui até o final. Fritei o primeiro bolinho, e o gosto estava muito bom, crocante por fora, massa macia, recheio bem temperado - mas era quase uma refeição, de tão grande. Tentei fazer um menor, mas ficou sem graça - o recheio era tão pouco que não justificou. Não consegui chegar numa equação tamanho perfeito versus mordida perfeita. Um ficou redondo, outro ficou no formato de um quibe frito, outro abriu na panela e sujou todo o óleo, em suma - não deu certo. O gosto ficou bom, nada excepcional, mas a forma não ajudou ao conteúdo. Me recuso a postar a foto do resultado final, pois apesar de assumir o erro, não faço questão de mostrá-lo. 
Portanto, quem souber fazer bolinhos recheados de tamanho decente e sabor pungente, por favor, me avise e me chame para ver. Porque eu ainda insisti em fazer mais alguns na segunda feira à noite, pegando outra receita, e também não deu certo. Como sou teimoso estóico, acho que um dia consigo. Isto se minha fiel escudeira Rosilda não me proibir de repetir esta experiência - as marcas na cozinha foram quase indeléveis...