Na mesa ao lado, no restaurante, o jovem tem uma postura peculiar em relação ao seu prato. Seu braço esquerdo está inteiramente sobre a mesa, protegendo o prato, e sua mão empunha (não segura não - empunha mesmo!) a faca pronto para defender aquele território de uma invasão bárbara - parecia que algum comensal vizinho ia pegar uma batatinha frita do prato alheio. Com a mão direita, ele leva avidamente a comida à boca, como se o imenso filé a parmegiana tivesse planejado com a montanha de batatinhas fritas "...-distraiam ele que eu saio correndo pela esquerda. Quando ele for olhar o que aconteceu, vocês fogem pela direita. E o arroz que se dane, são desunidos mesmo!"...
O celular do rapaz era de última geração - aliás, dava a impressão de que ainda seria lançado, tão novo e brilhante que era. Mas seus modos eram pré-históricos, de um tempo em que se caçava o almoço - ou se tornava o almoço de algum predador mais forte.
...
Eu havia pedido um prosaico file de peixe com molho de camarões. E quando chegou, eu não podia cobrar uma correção da descrição do prato, pois era um filé de peixe com molho de camarões. Dois camarões, para ser mais exato. Chamei o garçon.
EU - Senhor, o prato que me trouxeram é fiel ao cardápio - filé de peixe com camarões. E tem um filé de peixe e dois camarões minúsculos aqui.
ELE -(garçon com cara de paisagem...)
EU - O Senhor percebe o conceito de minha reclamação?
ELE -(garçon com cara de paisagem...)
EU - Não acha enganoso oferecer molho de camarões e trazer DOIS camarões?
ELE- Ah, moço, está na moda estas porções bem pequenininhas...
EU- Meu senhor, a coisa pequena aqui é sua má vontade (e o cérebro, quase disse...) ao lado desta montanha de arroz, que eu pedi que não viesse por sinal.
ELE - Ah, então o senhor está no lucro! Pediu para não vir o arroz e veio...
Novamente os ímpetos homicidas...acho que vou fazer uma dieta longa e radical.