food, art & spirits

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sábado, 18 de junho de 2011

SINGING IN THE KITCHEN

A música exprime a mais alta filosofia numa linguagem que a razão não compreende, afirmou Schopenhauer. E eu não consigo disassociar o ato de cozinhar com ouvir música. Levo meu laptop para a cozinha, vejo e mexo nas receitas, escolho e mudo as músicas, cozinho, bebo, tudo ao mesmo tempo agora. Por causa disto,minha cozinha é animadíssima, e ouvi esta confirmação de uma amiga em uma reunião. Mas, voltando ao tema, outro dia mudei o cardápio em virtude de ter sido influenciado pela trilha sonora, bastante animada, solar, que me provocou ímpetos de rever todo o meu projeto do jantar para literalmente outra praia - ia fazer massa, acabei fazendo peixe.
Refletindo sobre isto, pensei - qual seria a trilha sonora perfeita para cada prato, ou melhor, o que combinaria com alguns temas musicais? Como o assunto poderia render um post de algumas páginas, decidi restringir a algumas vozes femininas mais ou menos novas, que tenho escutado bastante ultimamente. Comecemos com Rumer (gracinha, diria a apresentadora), também alcunhada de "a nova Karen Carpenter" - porém não anoréxica, como vocês podem conferir pelo vídeo.



Ouvi Am I Forgiven montando um prato de presunto cru com fatias de melão e folhinhas de endro, enquanto abria e provava um delicioso Cloudy Bay, um sauvignon blanc fresco como a voz desta cantora. Harmonizou direitinho.


Dionne Bromfield com Yeah Right (#gracinha 2! - vídeo aqui), a inglesinha de apenas 15 anos, "amadrinhada" de Amy Winehouse renderia um drink mexido. Não, chacoalhado, para acompanhar o ritmo deste single. Suco de abacaxi, vodka, gelo picado na coqueteleira, e uma insólita pipoca feita com um pouco de curry e um tico de pimenta de cayena. Pulei horas...


Betty Ditto, vocalista do Gossip, apareceu outro dia numa escolha randômica do laptop, com HEAVY CROSS. Fazia tempo que eu não a ouvia, e decidi ficar nela e seu som balançante.Eu batia os pés no chão e as mãos freneticamente começaram a picar pepinos, cebolas, tomates, aipo, erva doce, fui picando e me acabei numa salada , enquanto um hambúrger chiava na grelha enfumaçando a cozinha toda. Shots da excelente vodka Belvedere durante a confecção dos pratos. Meu cachorro Leopoldo olhava tudo com uma cara esquisita..


Adele ultimamente tem lugar marcado na minha playlist. E quando ela canta SOMEONE LIKE YOU eu me acabo. Acabo fazendo um bolo de chocolate com café, denso como a voz desta cantora. E me acabo comendo o bolo também, depois de ter traçado algumas cervejas escuras Guiness e uma John Smith. Ainda bem que não sei fazer kidney pie...Ia ser expulso de casa ao manipular rins de carneiro para a torta.


Tomei um - aliás, dois - dry martinis ouvindo Stacey Kent cantando MY HEART BELONGS TO DADDY. Tomei o terceiro. E comi o vidro de azeitonas verdes. Como consegui abrir o vidro até hoje não sei, dado o teor alcóolico que esta música me provocou...


Não sei porque, mas Sharon Jones me inspirou a fazer...bolinhos de chuva. Sim, daqueles fritos, passados no açúcar e canela. Uma caneca de café quente, pelando, e uma baciada de bolinhos de chuva ouvindo IF YOU CALL. Se eu continuar ouvindo esta música, e comendo bolinhos desta forma, ninguém vai me chamar mesmo...

Já o álbum Archandroid, de Jannele Monae, é quase bipolar - tem de tudo um pouco, mas muito bom da primeira à última faixa. Combina com quase tudo - de feijoada a sushi...Porém, a faixa COLD WAR provocou uma omelete com claras em neve, batidas no ritmo da musica e que transformaram este prato numa versão souflèe, alta e fofa.

And last but not least, procurando algo  na rede enquanto fazia um ragu, acabei achando Amy Whinehouse numa mega tocante interpretação de LOVE IS A LOSING GAME. A performance é de cortar os pulsos com faca ginsu...Tomei um bom trago de Wild Turkey, mas o que combina mesmo com esta gravação é...cicuta.

sábado, 11 de junho de 2011

O REI ESTÁ NU

 
Depois de reclamar das embalagens de biscoito Maizena no post anterior, tive que voltar ao tema. Aliás, ao produto, pois descobri que este biscoito tem propriedades calmantes. Sim, garanto - e quem me disse é completamente abalizado, um doutor no assunto. Meu afilhado Raphael, de 3 anos.
Bem, melhor explicar...
Estava no supermercado e encontrei com meus compadres Cris e Rodrigo, com a prole (Thomas e Raphael) e a Zazá, fiel escudeira. Quando passamos pela gôndola dos biscoitos, Zazá me atiçou - "Pergunte ao Rafa o que é isto", colocando em minhas mãos um pacote deste biscoito. Eu, babão como bom padrinho, passei pelo seguinte diálogo:
- Rafa, o que é isto?
- É para o Rafa - ele me respondeu.
- E para que serve?
- P´ra me acalmar...
Como na história da Roupa Nova do Rei, onde uma criança desprovida de preconceitos ou dogmas declara uma verdade irrefutável, meu afilhado confirmou o que eu sempre achei - confort food tem propriedades terapêuticas. Prego as qualidades de um mingau quente polvilhado com canela sempre que estou fraco - ou carente. O prazer de comer um simples bolo quentinho pode fazer mais pelo espírito do que muita refeição exageradamente elaborada. Um capeletti in brodo aquece a garganta - e este calor vai se espalhando pelo corpo, irradiando energia como um gerador de última geração.
E esta epifania aconteceu justamente hoje, quando pensava em fazer uma Sheppherd´s Pie, prato masculino, calórico e recompensador. Mas ao chegar em casa decidi mudar o cardápio, pois queria comer algo um pouco mais leve - e simples. Decidi fazer um simples hamburger grelhado, com cebolas grelhadas e uma versão da salada de batatas que adoro, e sirvo morna, rapida e fácil. Não tem medidas absolutistas, é mais uma mistura ao gosto do freguês, mas todas as vezes em que servi este prato em casa, fiz sucesso. A simplicidade encanta. Clarice Lispector afirmava: "Ninguém se engane - só se consegue a simplicidade através de muito trabalho." Nem sempre. Mas em tempos de culinária molecular, tecno-emocional, o simples pode ser mais sábio - e paradoxalmente, promover sensações mais complexas.
By the way , fiz o teste - comi alguns biscoitos Maizena (os que estavam inteiros, detesto os quebrados como já disse), e fiquei mais calmo. Raphael é um sábio.
Salada Morna de Batatas  Cozinhe as batatas com casca, tire da água - deixando uma ou duas para cozinhar um pouco mais, para que desmanchem um pouco ao misturar. Descasque e corte as batatas em pedaços médios, acrescente bastante alho-poró cru em rodelas finas (vou da parte branca até a parte verde clara), um alho espremido, uma colher de mostarda Dijon, bastante Dil picado, sal, azeite de oliva virgem e pimenta do reino moída na hora. Misture tudo e sirva imediatamente, ainda morno.



sábado, 4 de junho de 2011

DUAS MÃOS ESQUERDAS

Tenho poucas manias. Das confessas, uma delas é detestar biscoito (ou bolacha, dependendo da região) quebrada. E não sei quem foi o cão infiel que desenho a embalagem de biscoitos Maizena, por exemplo. As chances de abrir o pacote e não quebrar os primeiros quatro ou cinco biscoitos são infinitamente menores do que ganhar sozinho na Mega Sena e ainda por cima receber o prêmio das mãos do Brad e da Angelina. E ultimamente, ou mudaram a fórmula deste biscoito, ou ele definitivamente foi feito para quebrar. Do primeiro ao último exemplar, sobrando dois ou três inteiros para manter a regra.
 O mesmo acontece com biscoitos Waffle, poderiam vender eles já moídos, economizaríamos tempo, unhas e dentes. Poderiam colocá-los em saquinhos iguais aos de farinha, já que parece que eles foram feitos para empanar algo, e não para receber mordidas em busca de alguma relevância. Apesar de adorar o conteúdo, odeio com todas as forças algumas latas de sardinha. Um pequeno anel de metal segura a tampa. Ele deve ser torcido com delicadeza e determinação para trás, e depois com o ritmo solicitado a um joalheiro puxar o conjunto tampa/anel para que a tampa toda se rasgue ao puxarmos esta armadilha, sob o risco de 1)quebrar o anel/alavanca ou 2)cortar a mão, o dedo e manchar a roupa, pano de prato, prato, pia e o cachorro deitado na cozinha de sangue. O suco de cranberry do qual minha geladeira é dependente (não fica um dia sem) também sofre de design disfuncional. Uma tampa de plástico esconde um selo metálico que só sai com reza brava, requisitando o auxílio dos deuses da coordenação motora. Nem vou falar de alguns vidros de mostarda ou catchup pois estes foram definitivamente feitos para não funcionar. São frascos mesquinhos, não querem dividir seu conteúdo com ninguém. Isto depois de reclamar no último post sobre a troca de embalagem do Sonho de Valsa por algo até agora inexplicavelmente complicado.
Se existe um inferno para estes designers da complicação, espero que eles sejam eternamente condenados a abrir a embalagem de infinitos CDs (ainda tem gente que compra, aproveitem...) com duas mãos esquerdas, apenas para perceber que todos estes contém apenas CDs de Axé ou o último discurso do Deputado Tiririca, com apartes do Maluf.