food, art & spirits

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terça-feira, 29 de julho de 2014

não, é sopa

O inverno começou com uma sopa de lentilhas com costelinhas defumadas - porque me lembrava um primo querido. Continuou com um caldo verde à minha moda - porque meu compadre gosta, pediu para mim e minha afilhada elogiou (sempre que quiserem estou às ordens, ok?). A sopa de grão de bico com harissa me remeteu ao Marrocos instantaneamente - vontade de voltar para este lugar. E a sopa de milho verde com endro que inventei, pois achei que os sabores iriam combinar, e não é que ficou ótimo? 

Nesta sequência vieram as duas versões de sopa de feijão - a de minha mãe, com o feijão batido no liquidificador e coado, com macarrãozinho e sem carne - e a minha, com os grãos inteiros, legumes e paio, super light (não mesmo...). O capeletti in brodo foi servido na casa de uma amiga querida, e o compadre que gosta de caldo verde lá estava e disse ter sido o melhor que tomou até hoje - orgulho...
Um caldo espesso de carne (músculo, no caso) e os legumes da geladeira, mais quinoa e um monte de cebolinhas me levantou de uma gripe heavy-metal. O creme de abóbora com gengibre e sálvia fez bonito como entrada, num jantar no GabineteD. Ainda não fiz a bouillabaisse, porque a receita é um tanto imprecisa - começa com "pegue um fundo de rede de peixes..."-onde é que eu vou arranjar isto? A sopa de tomates assados estava tão boa que quase tomei na manhã seguinte, com um pouco de vodka - daria um Bloody Mary muito particular. Ainda quero fazer o borscht do jeito que tomei no EAT em NY, um lugar que o Eduardo adora e que repete inúmeras vezes sempre que lá estamos. E o caldinho de peixe igual à um restaurante de Recife de nome insólito - Casa de Banhos.Mas hoje à noite fui de mingau, que serve-se nm prato fundo, toma-se de colher e é quente. E aquece o corpo e o espírito - portanto, pode entrar na categoria das sopas, não?

(nota importante - pego emprestado o título de um livro que adoro, e o subverto...muita audácia de minha parte, perdão Nina Horta!)

 
 
 
 






segunda-feira, 7 de julho de 2014

ogro food

Quem me conhece, sabe de minha queda por comidas e bebidas brutas - cozidos, assados, carnes mal passadas, pães rústicos, vinhos portugueses e espanhóis, gin&bourboun&cachaça, coisas desta natureza. Adoro as sutilezas contidas nestes sabores intensos, mais talvez do que em receitas delicadas - dos quais tenho admiração, claro. Mas vejo certa qualidade ancestral em alguns pratos pensados desta forma.
Semana passada, fui jantar em casa de compadre G. e comadre M. Estava nos planos pedir uma pizza na pizzaria próxima à casa deles, mas fui surpreendido por compadre na cozinha - ele também outro homem que sabe apreciar um prato sutil, mas como eu tem confessa queda por receitas mais "masculinas". E a surpresa foi dupla - ele na cozinha, e um jantar impecável. Uma peça de filé grelhada ao ponto, com interior rosado sangrando um pouco e crosta bem temperada, acompanhado de aspargos perfeitos e um arroz negro irretocável. Nada empetecado, nenhuma redução, sem espuma - apenas a escolha certa dos ingredientes de qualidade e tempo de cocção precisos.
Inspirado pela potência deste jantar, no dia seguinte fiz um steak gordo e suculento na grelha (para ódio e desespero de minha fiel escudeira Rosilda) com ovo caipira frito no ponto exato - a clara queimadinha, a gema mole. Um tico de Jerez limpou o fundo da grelha (e a garganta deste que vos escreve) e virou o molho do prato, consumido com uma ótima cerveja Paulistânia Vermelha, excelente Lager Premium de preço muito bom.

E, no domingo passado, outro acesso de brutalidade. Tinha um bom bacalhau já dessalgado no freezer, em belas postas. Após descongelar, ele foi ao forno com quantidades generosas de azeite, vários dentes de alho sem casca, cebolas, batatas cortadas ao meio no sentido longitudinal, pimentões, pimentas vermelhas e imensos e adocicados tomates em rodelas.
(coincidência, mesmo prato...)
Brocolis passados no azeite e um ovo cozido acompanharam o prato - mediterrâneo, cheio de sabores e perfumes, untuoso (adoro esta palavra), elegantemente rústico. O bom e velho Cartuxa, português de excelente cepa, foi o par perfeito para este prato potente.
Creio que a idade me faz buscar virilidade nos pratos - talvez para compensar alguns déficits de testosterona. Meu paradoxo particular é que, apesar desta preferência pela denominada brutalidade gastronômica, ainda adoro brigadeiro, beijinho de coco, maria-mole e outros doces infantis. Ou seja - no fundo deste ogro reside um fofinho...