food, art & spirits

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terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

as batatas


Fui almoçar num restaurante perto de minha loja, aqui em Recife. (Para quem não sabe, fico na ponte-aérea Recife-São Paulo - na primeira, sou franqueado da Artefacto, na segunda sou o dono junto com meu companheiro do GabineteD). O proprietário deste restaurante gastou dinheiro para construir um espaço insípido, mal distribuído e de aparência estranha, parece que não está pronto. Talvez não esteja, mas como já abriu faz tempo e não vejo sinais de mudança, deduzo que está pronto mesmo.
Mas vamos aos fatos - fui almoçar lá porque tem guardanapos de tecido, um bom ar condicionado, serviço bastante razoável e comida idem, em serviço de buffet de saladas + pratos quentes e carnes servidas à mesa, como rodízio.
Fui à mesa de saladas, e peguei algumas coisas aleatórias - um pouco de salada de batatas com ovos, uma espécie de rocambole de batatas com atum e outras coisas, uma pequena montanha de chips de batata-doce, e um "salpicão de acelga" (assim estava escrito) com ...batatas.
Quando chego à minha mesa, olho minha dieta monotemática. Batatas em suas mais diversas opções. Sim, eu adoro tubérculos, e qualquer dieta que tire este elemento de meu cardápio me deixa um pouco tenso, mas aquilo era um exagero. Estava matutando sobre isto, quando antes de qualquer carne, passa uma gentil atendente me oferecendo batatas fritas. Ri sozinho, seria uma confluência astral estranha? Algum planeta que rege as batatas estava em alguma posição dominante? 
Antes que chegassem os filezinhos de picanha com aquela linha de gordura em cima, ou o malfadado cupim (que adoro) me ofereceram purê. Eu comecei  a achar que é uma pegadinha...

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

quem é você no google?


Muito tempo atrás, escuto a seguinte conversa:
"- Aí o gatinho cheio de manha, chegou, blablabla, ofereceu uma bebida para a gente, e não desgrudava, e não parava de falar que era empresário, que tinha tal coisa, que tinha sei lá o quê, aí eu me enchi e perguntei - rapaz, quem é você no Google?"
Não ouvi mais nada depois disto. Achei esta questão ótima - quem é você no Google? Tem uma menção, tem páginas, ou sequer é citado no maior site de busca da contemporaneidade?
Passa a régua. Voltamos ao tema mais tarde.
...

Estava pesquisando a blogsfera - ou a foodsfera, o universo imenso dos blogs e sites que atendem ao universo culinário. E me deparei com um blog bem montado, de nome simpático, mas cuja primeira receita já me deixou irritado - Dip de Cebola. Descrição da receita:

- um pacote de sopa de cebolas marca X
- uma xícara de maionese marca Y
- um pacote de torradinhas marca Z
- um galhinho de cheiro verde
Modo de fazer: Misture a sopa de cebolas com a maionese, coloque num potinho bem bonito, enfeite com o galhinho de cheiro verde. Se quiser, pode salpicar uma pimenta do reino moída em cima, para dar um "efeito" (as aspas são minhas). Sirva com as torradinhas ao lado, sucesso na certa! 

Meu Santo Escofier, o que é isso, pensei. Como é que alguém se dá ao trabalho de dar uma receita ridícula destas, usando apenas produtos prontos, faz uma foto muito da safada com o dip num potinho ordinário, com o pacote de torradinhas ao fundo (ps- a foto deste post não é a do blog, foi retirada da internet, ok?)- tentativa de merchandising, talvez - e acha que está bom? Que excesso de tempo teriam estas blogueiras (eram duas...) que permitiam que elas postassem com um certo cuidado esta bobagem?  Ou quantidade de auto-estima permitia que elas cometessem este desatino?

Até que...(sempre tem um porém, um mas, um até que...)eu me dei ao trabalho de ver os comentários - 11, para ser mais exato. E fiquei boquiaberto: todos elogiosos, achando super criativo, prático, etc.etc.etc...
Eu ia deixar um recado desaforado - ando com algum "encosto" mau humorado ultimamente, e por mais que eu cante, ele não sobe! - até que me lembrei da frase ouvida há muito : "(Wair)Quem é você no Google?"
Caiu a ficha. Pretensioso eu, justo eu que combato qualquer forma de preconceito, que me policio nos meus textos para não parecer crítico em excesso (telhado de vidro mode on), que me incomodo com o excesso de tecnicismo aplicado em algumas receitas como se todos tivessem obrigação de conhecer os conceitos de cozimento à baixa temperatura ou esferificação. Quem sou eu no Google? Alguns verbetes,citações, mas se comparado a José Mindlin (ídolo), Neide Rigo ou Nina Horta, sou uma citaçãozinha de rodapé das últimas páginas. E eu outro dia dei uma receita de Suco de Tomate à minha maneira, como se isto não fosse a mais prosaica das mais prosaicas das receitas. Ou seja - como posso criticar alguém desta forma, visto a crítica neste caso ser provocada por uma pretensiosa sensação de superioridade.
Isto posto, faço aqui meu mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa. Não vou me transformar em bonzinho porque é tarde demais - já tenho cinquenta e pouquíssimos, e uma certa Síndrome de Gabriela (eu nasci assim, eu cresci assim, vou ser sempre assim, é assim que eu sou...) me impede de mudar a esta altura dos acontecimentos. Mas que mesmo assim, que ainda acho a receita safadinha, ah, acho...(SOBE ENCOSTO!!)