food, art & spirits

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sábado, 28 de dezembro de 2013

i can´t explain and i won´t even try

Final de ano, não consegui escapar ao clichê do que aconteceu em 2013. Particularmente, foi um ano complicado - abertura de empresa nova, inúmeras viagens a Recife a trabalho, dinheiro mais curto do que eu esperava a esta altura...mas em compensação as possibilidades são interessantes. Caminhamos - eu e Eduardo - para um 2014 com muito trabalho (what´s new?), mas perspectivas de crescimento muito objetivas. Porém, não quero fazer uma retrospectiva 2013 desta pessoa (mesmo porque tenho os já mencionados sérios problemas de memória), e sim citar coisas que me marcaram de uma forma ou de outra. Na música, por exemplo. Descobri Aloe Blacc, insuportavelmente elegante e dono de uma voz potente e impecável.
Estranhamente, eu que sempre fui ligado às vozes femininas, este ano me vi ouvindo os cantores em uma proporção muito maior do que habitual. É que não consigo resistir ao ritmo de José James
assim como não deixo de me impressionar com a estranheza da voz e da divisão silábica de Maverick Sabre

ou com a intensidade dramática de Roberto Fonseca, ou tantos outros novos que descobri através de canais no Youtube como Mahogany Sessions e One Take One Pic, ótimos.
E mais uma penca de artistas que povoaram meu set list este ano, junto com os de sempre - Brad Mehldau, Radiohead, Elis Regina, Billie Holiday, Nina Simone, Aarvo Part y outros. No cinema, poucas coisas me marcaram além de Blue Jasmine (um dos mais tristes filmes de Woody Allen), o violento Os Suspeitos, o tristíssimo Amour e last but not least Gravidade - este último por causa de sua beleza, apesar do fim forçado. (Tenho que fazer um adendo neste assunto - já tentei ver 3 vezes o Som ao Redor, mas acho muito chato e absolutamente supervalorizado.) Na literatura, continuo lendo A Vida dos Artistas de Vassari - dificílimo, mas definitivo a respeito -, pirei em O Poder da Arte (de Simon Chama) por seu didatismo claro e revelador, adorei Um Olhar Sobre Giacometti de David Silvester, penei nas inúmeras páginas do grande Fausto de Thomas Mann,e li com carinho Diário da Corte de Paulo Francis, entre inúmeros que li ou reli este ano (cumprindo uma das resoluções do final de 2012). A cada dia mais me interesso por fotografia, e neste campo tive a sorte de neste ano conhecer três grandes artistas - Ricardo Labastier, Fábio Stachi e Leonardo Ramadinha (na sequência abaixo) 


entre outros grandes que já mostraram seu trabalho em minha galeria - e me apaixonei pela obra de Estevan Oriol e Jocelyn Bain Hogg, que retratam em seus trabalhos uma realidade que me é completamente estranha - e, talvez por isso, fascinante.


Na gastronomia, foi um ano em que cozinhei feito louco, constantemente - talvez pelo fato de que quando viajava ficava à mercê de restaurantes e pratos rápidos, quando em casa me esmerei em receitas clássicas ou complexas, enveredando pelos doces e bolos, seara que me era um pouco desconhecida. Meus highlights foram o bolo de peras, a cocada de forno ,a panna cota de coco e o prosaico biscoitinho de limão que fiz com meu afilhado Raphael, a pedido dele (claro que o fator emocional desta receita pesa muito mais do que o resultado em si...).
Em suma - nada de novo nem de especial, a não ser os três quilos extras que se incorporaram em meu corpo e não desapegam de nenhuma maneira - já tentei regime, pílulas, massagens e agora estou pensando num despacho. Quem sabe inicio o próximo ano mais leve - em todos os sentidos?
Abraços a todos, até 2014. Voltaremos com novidades.
W










quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Indulgências, indulgências...


Tenho certas características muito particulares. Quando estou nervoso, arrumo coisas - tentativa física de "arrumar" a cabeça, desviada para ações prosaicas como organizar gavetas e armários, engraxar sapatos, etc. Quando não estou muito bem, saio de casa arrumadíssimo. Capricho no visual para balancear o interno, como se este equilíbrio resolvesse. E quando estou meio perdido, paro para retomar o ritmo, quase um "reboot" no HD particular, pois assim consigo retomar ações de forma mais próximo à lógica.

Hoje estava assim, muita coisa para resolver e eu abobalhado. Tentei resolver um assunto, tentei resolver o segundo (este com sucesso) , o terceiro e o quarto embolaram.
Saí. Estava precisando de algo muito bom e calmo e de qualidade para me colocar nos trilhos novamente. Um encontro com George Clooney estava fora de cogitação, bem como aconselhamentos e meditação com a Monja Cohen. Resolvi me acariciar com um almoço calmo e correto, e corri para o Clos de Tapas, cujo almoço tem uma ótima relação preço x qualidade. E a simples lembrança da manteiga com raspas de limão e sal já aguçava minha gula.
O cardápio oferecia 3 opções de entrada, três de prato principal e também de sobremesa, com versões que atendiam do paladar mais light ao heavy - o meu,  no caso.
Não recusei o couvert - pão, a tal manteiga, maionese com ervas - ficaria horas comendo isso...

De entrada, ovo cozido à baixa temperatura com polenta e bacon. Perfeito, apesar de eu gostar de polenta mais mole. Mas o ovo estava impecável - e o bacon saborosíssimo, não sei se foi feito na casa ou é de alguma marca padrão, mas o sabor casou soberanamente com os outros elementos do prato.

O prato principal - porco preto com abacaxi e risotto. O porco foi executado à perfeição, macio mas não se desmanchando, rosado, o molho com acentos de gengibre e cítricos,  abacaxi caramelizado no ponto exato e o risotto cumprindo sua função de acompanhamento, sem ousadias. 

A sobremesa  - bolo morno de maçã - era linda, e muito gostosa - mas talvez tenha eu pecado nesta opção, pois apesar de muito bem executada, era mais adequada como acompanhamento de um chá ou uma caneca de café forte a ser servido no meio da tarde ou a noite em frente à TV. Vou tentar fazer desta forma qualquer dia, quase um bolo de caneca top vip plus.

Ovo-porco-bolo. Minha opção do cardápio foi quase um poema concreto...
Augusto de Campos

A propósito - a tarde foi bastante produtiva depois deste almoço. Percebi que preciso de mais indulgências do que achava.




Clos de Tapas
- atendimento - perfeito, atencioso e formal na medida. E atento, checando subtilmente quem foi atendido ou não, detalhe precioso.
- decoração - sempre achei estranha - não é feia, mas também não é bonita. Mas com poucos recursos ficaria lindo. E o ar condicionado não estava 100% no dia.
- comida - ótima.
- preço - honesto, considerando- se a qualidade. R$ 45,00 mais a bebida e o serviço.
- bola dentro - o cardápio de almoço, enxuto e preciso.
- bola fora - guardanapos de papel...não justifica. E o ar condicionado.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

wrapped

Tenho um confesso problema com algumas embalagens. Eu adorava o bombom Sonho de Valsa, mas depois que mudaram a embalagem para uma coisa inviolável, reduzi muito o consumo desta caloria. Algumas latas de conservas - tipo tomate pelado - também foram desenhadas especificamente para cortar o dedo de quem se aventura a abri-las. E sempre tem aquele pote de geleia ou de mostarda que só abre com a ajuda de um halterofilista ou lutador de MMA.
Mas atualmente me irrito é com o excesso de embalagens ou etiquetas. Comprei um quilo de ameixas vermelhas ontem, e todas - sem excessão - vieram com uma etiqueta de código, sendo que algumas tinha duas etiquetas : uma do produtor, outra do tal código. E tirar etiquetas da pele da ameixa sem machucá-la é obra para pacientes...Ontem fui à padaria ao lado de minha Galeria, no meio da tarde, morto de fome - não havia almoçado, e foi a opção mais rápida. Pedi um pedaço de torta de frango e um suco. Chegou o prato com a torta, um envelope com a faca e o garfo, dois envelopes com guardanapos e o canudinho dentro de uma embalagem plástica. Coincidentemente, hoje não consegui sair para almoçar e pedi um prato simples e correto do América, cujo grande problema é a demora na entrega - mas a qualidade quase sempre compensa. Este prato (Texas) é composto de um hambúrguer, relish de pepino e de milho, cebolas empanadas e batatas fritas. Embalagem:
1 sacola de papel
1 saco grande de papel
1 saco plástico contendo dois potinhos plásticos de relish
1 saco plástico contendo os talheres descartáveis
1 saco plástico contendo o copo de refrigerante
1 canudinho embalado
2 embalagens contendo guardanapo
1 caixa de papelão com as batatinhas
1 caixa de papelão com as cebolas
1 caixa de papelão com o hamburguer
Ou seja - descartei 11 embalagens para comer um hamburger e uma coca-diet...
Neste excesso de cuidado com a higiene, será que não estamos exagerando nas embalagens descartadas quase sempre de forma aleatória? E quanto do custo deste excesso não é repassado para o preço final? Entendo que para uma entrega, todo cuidado é pouco - mas no balcão de uma padaria ou de um restaurante popular? Implico solenemente com os canudos embalados um a um. Até palito de dentes (que não sei porque ainda existe...)estão servindo em embalagens individuais atualmente. Comprei uma caixa de aveia recentemente, e ao abri-la surpresa: ela estava dividid em porções, cada uma delas embaladas em um saquinho de alumínio inviolável. Eu sei o tamanho de minha porção, não preciso de ninguém para me orientar nisto. Será implicância minha, estou ficando velho ou ninguém percebeu isto? A ilha de lixo composta por uma camada de 1 quilometro de extensão, no Pacífico, me incomoda demais para pensar que estou ficando paranóico...

Embalagem por embalagem, prefiro o escultor Christo, que em seus projetos já embalou a Pont Neuf, o Reichstag e outras situações de inconteste e perturbadora beleza. Eu tenho um livro dele com um pedaço do tecido com que ele embalou o edifício alemão, que, parafraseando aquele ministro cretino do passado, é um livro imexível, invendável e imprestável (quer dizer que não empresto...). 



Eu sou dado a um boicote - não abasteço meu carro nos postos da Petrobras desde a morte de Paulo Francis, que implicava categoricamente com esta estatal - chamava-a de Petrossauro - e que recebeu inúmeros processos desta empresa. Estou seriamente tentado a evitar locais com excesso de embalagem. Aguardem posts no futuro a este respeito. Isto se eu não for embalado e jogado na tal ilha pelo cartel das embalagens...Síndrome persecutória é sinal de paranóia?

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

o erro

" Os homens erram, os grandes homens confessam que erram."
Frase atribuída a Voltaire, serve como justificativa para este post. Domingo eu estava em casa, cachorros à minha volta, o bambu do post anterior cada dia maior,
caipirinha de maracujá pronta e eu começando a preparar as bases de um jantar na casa de comadre na quarta feira - depois mostro tudo pronto. E também estava querendo me aventurar em novas praias gastronômicas, fazendo coisas que nunca havia feito. Se fosse algo que eu pudesse almoçar, melhor ainda - apesar de estar sozinho este final de semana, eu me trato bem mesmo assim. Som no último volume, a voz e ritmo fantásticos de José James
e eu pesquisando o que ia fazer. De repente, um estalo - lembrei de uns bolinhos de batata recheados de carne que comia há muito no Rio de Janeiro, num lugar no Fashion Mall que não existe mais. Eram perfeitos, bem temperados, sequinhos, e de um tamanho tão delicado que nos forçava a comer dois, três...as vezes quatro...claro que me arrependo até hoje (só que não!) destes abusos. Mas a lembrança daquele bolinho me despertou a vontade de repetir esta receita - e fui à cata de uma que eu achasse próxima à lembrança do gosto (este é um tema que adoro - a lembrança do gosto, tão vago...). Por força de não ferir suscetibilidades, não vou indicar qual foi o site que me forneceu a base para uma tarde tumultuada. 
Primeiro - a quantidade de farinha para a massa era indicada pela expressão "adicione farinha à massa até ela não grudar mais nas suas mãos"...eu já fiquei tenso, pensando num bolinho com gosto de farinha. Portanto, fui adicionando farinha de trigo com muita parcimônia à mistura de batata cozida amassada, parmesão, ovo, sal e pimenta. Quando achei que estava bom, parei - mas a massa continuava grudando nas minhas mãos. Até aí, tudo bem - untei-as com azeite, e fui tentar moldar os bolinhos. Segundo - modelar no tamanho exato, com a palma das mãos untadas, muito fácil. Só que eu não consegui...
Explico - por mais que eu tentasse, ele não ficava pequeno. Nem médio. Na verdade, o primeiro ficou obsceno de tão grande. Eu queria fazer um para fritar e testar o gosto do conjunto, então foi esse mesmo. Passar no ovo batido e na farinha de rosca sem furar a massa ou desmantelar a forma foi um exercício hercúleo - e eu me odiando por insistir, mas fui até o final. Fritei o primeiro bolinho, e o gosto estava muito bom, crocante por fora, massa macia, recheio bem temperado - mas era quase uma refeição, de tão grande. Tentei fazer um menor, mas ficou sem graça - o recheio era tão pouco que não justificou. Não consegui chegar numa equação tamanho perfeito versus mordida perfeita. Um ficou redondo, outro ficou no formato de um quibe frito, outro abriu na panela e sujou todo o óleo, em suma - não deu certo. O gosto ficou bom, nada excepcional, mas a forma não ajudou ao conteúdo. Me recuso a postar a foto do resultado final, pois apesar de assumir o erro, não faço questão de mostrá-lo. 
Portanto, quem souber fazer bolinhos recheados de tamanho decente e sabor pungente, por favor, me avise e me chame para ver. Porque eu ainda insisti em fazer mais alguns na segunda feira à noite, pegando outra receita, e também não deu certo. Como sou teimoso estóico, acho que um dia consigo. Isto se minha fiel escudeira Rosilda não me proibir de repetir esta experiência - as marcas na cozinha foram quase indeléveis...

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

miojo de luxe

Minha falta de preconceitos no campo gastronômico já me proporcionou
1)excesso de peso
2)perda de roupas
3)gastrite
4)y otras cositas más.
Quando viajava pela empresa em que trabalhei no passado, sempre sozinho, me aventurava por pratos e iguarias que desconhecia por completo - e se me dei mal em algumas vezes, na maior parte fui muito bem agraciado com sabores e temperos inesquecíveis. E tento trazer esta falta de preconceitos para todos os campos de minha vida, pois acredito piamente em conhecer o assunto ou objeto ou caso em questão antes de emitir um parecer desconexo ou - preconceituoso. E de repente me vi olhando com maus olhos um livro que tratava o Miojo (sim, aquele macarrão instantâneo típico de casa de estudante ou de quem vai morar fora e não sabe nem fritar ovo) como matéria prima para pratos mais sofisticados. 


Apesar dos chefes envolvidos neste projeto (de caráter comercial mas também comemorativo), sob o meu ponto de vista era como compor uma parede cheia de bons quadros com um Romero Britto no meio - a falta de qualidade (absoluta no caso do artista citado) de um dos elementos poderia desandar todo o conjunto, fazendo com que ingredientes bons fossem desperdiçados. Mas eu lembrei de uma salada deliciosa que a Rosa, do Z Deli serve em seu delicioso restaurante, que contém a massa inventada pelo Sr. Momofuku Ando no princípio do Século XX, e resolvi me arriscar. Estava sozinho em casa, querendo comer algo saboroso e leve, e fui inventando. E não é que deu MUITO certo? Rápido, com elementos picantes, ácidos, um pouco de "crocância", fui misturando tudo acompanhado de um vinho rosé bastante honesto, do qual não me lembro. A salada definitivamente entrou no cardápio de casa, e já penso em variantes com gravlax, ovas de salmão, pepino com iogurte e endro...Portanto, Miojo dá caldo - em todos os sentidos. 
Observação - este absolutamente não é um post pago ou publicitário, adoraria que o fosse!


Salada Momofuku
(eu inventei a salada, coloco o nome que quiser...)
1/4 de pacote de Miojo (individual mesmo)
1/2 pimenta dedo de moça
um punhado pequeno de uvas passas brancas sem caroço
1/2 xícara de acelga picada
1/2 xícara de repolho roxo picado 
1/3 pimentão amarelo em tirinhas
6 azeitonas verdes sem caroço
2 colheres de amêndoas em lascas
raspas de meio limão
azeite a gosto
sal a gosto

Quebre com as mãos o Miojo em pedaços. Reserve.Ferva uma xícara de água, coloque uma colher de sopa de sal, coloque o Miojo, cozinhe por três minutos, escorra e reserve. Misture os vegetais com a uva passa, as azeitonas picadas, as amêndoas e a pimenta dedo-de-moça em tirinhas. Verifique se a massa já está fria - se necessário, jogue-a rapidamente num bowl com gelo para interromper seu cozimento excessivo. Incorpore o macarrão à mistura, tempere com o azeite, as raspas de limão e o sal.


sexta-feira, 22 de novembro de 2013

a polenta de calder


Calder é uma de minhas maiores paixões. Faria coisas obscenas para ter uma obra dele, mas infelizmente a menos que eu ganhe sozinho na mega-sena, as chances disto acontecer são mais remotas do que os réus do Mensalão sofrerem as penas que nós, mortais, sofreríamos. Mas voltando ao alto nível - sob meu ponto de vista,Alexander Calder é um dos artistas mais originais e completos da arte do século passado, e seu legado ainda vai perdurar ao longo de toda história (ao contrário de minha opinião sobre Damien Hirst - a.k.a. "tubarão cortado ao meio decompondo-se em tanque de formol" e Beatriz Milhazes - mas isto será um outro post). 
Tenho vários livros sobre este incomensurável artista, mas um me é particularmente especial : Simplicity of Means, Calder and The Devised Object. Mostra os objetos para uso cotidiano que Calder fez para sua casa - colheres, candeeiros, peneiras - fazendo uso de arames, latas, tampinhas de metal e outros materiais para lá de prosaicos. Em alguns momentos, lembram o utilitário feito por populações carentes do interior brasileiro - peças igualmente dotadas de sensibilidade e genialidade - mas em sua maioria demonstram uma maestria no olhar que traduzem de imediato o repertório do autor. 



Este livro fica eternamente exposto ao lado de minha poltrona de leitura, para me lembrar que a criatividade e a genialidade não dependem exclusivamente de recursos caros ou sofisticados. Sim, tartufo é ótimo e é caríssimo, mas não é fundamental. Com recursos limitados, pode-se fazer um prato ótimo, reconfortante e bastante sofisticado, como a "minha" polenta. Que eu garanto - não dá muito trabalho (exceto ficar suando 25 minutos mexendo uma panela borbulhante) e é de comer rezando. Claro que eu preferia servi-la num bowl ou numa colher feita ou desenhada por Alexander Calder, mas...não peçamos a lua, se já temos as estrelas, não é?

Polenta da minha casa
1/2 litro de caldo de frango
1/2 litro de água
250 gramas de farinha de milho para polenta ou fubá (eu uso Moretti, ótima)
2 colheres de manteiga
2 colheres de azeite virgem
pimenta do reino moída
100 gramas de parmesão ralado
Aqueça a água até ferver. Abaixe o fogo. Lentamente, vá derrubando a farinha de milho, mexendo constantemente. Vai demorar uns 15 minutos até ela incorporar - de início parece que ela está "separada" do caldo, mas com o calor e com o temo ela vai engrossando. Quando começar a engrossar - nesta hora ela explode em boorbulhas como pequenos vulcões - adoro esta parte - abaixe o fogo para mínimo e continue mexendo sempre no mesmo sentido. Acrescente o azeite, a manteiga o parmesão e a pimenta do reino. Corrija o sal se necessário. Neste dia, eu servi com um ovo quente por cima e umas lasquinhas de grana-padano. E as pessoas adoraram. Estou pensando em servir no futuro com ora-pro-nobis, a delícia mineira, mas já servi com agrião precoce e ficou WOW!

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

o inesperado

Uma das obras que mais admiro de Matisse, um artista pelo qual sou apaixonado (junto aos estudos e recortes dos vitrais que estão na National Gallery) chama-se The Swimming Pool. 
Uma colagem em papel kraft, papel recortado e gouache, que ele fez para a própria casa. Me imagino falando com ele, dizendo ser esta a minha obra preferida deste imenso artista, e ele retrucando - "pintei quadros magníficos, transformei o cenário da pintura, retratei meu atelier com detalhes e você gosta de um quadro que só tem uma cor e é de papel recortado?" 
Senti isto na pele outro dia, em casa. A pessoa que vos escreve se esforça, capricha, coloca toda energia para fazer um prato principal - um pernil quase pterodáctilo de tão grande, que ficou doze horas marinando, sete horas assando em forno médio, continuamente regado, provocando queimaduras na mão direita, suou frente ao forno durante horas, e é elogiada de forma quase burocrática. Mas neste ínterim decidiu de última hora fazer um prato vegetariano para um dos convidados, e as pessoas entoam um "OOOHHHH!" de maravilhados. Fiz um quibe de abóbora, prosaico, mas acho que foi feito com cuidado especial, em virtude de ser oferecido a um grande amigo, outro imenso artista plástico e de paladar bastante apurado. Do pernil pré-histórico ainda resta um pacote dele desfiado, no freezer, aguardando nova transformação (vi uma torta de pernil hoje no Instagram, que me animou bastante - e amanhã é feriado, será que encaro isto ou vou passar o dia fazendo nada à beira da piscina?).Mas do quibe - sobrou um tiquinho que comi no dia seguinte. E estava realmente...Wow!Uma receita prática, e deliciosa. Gosto não se discute mesmo...
Quibe de abóbora
800 gramas de abóbora
400 gramas de trigo para quibe
1 cebola cortada em cubinhos
1 alho poró cortado em fatias finas
um maço de hortelã
1 xícara de nozes picadas
1/2 xícara de amêndoas em lâminas
400 gramas de queijo de cabra
azeite
sal
pimenta do reino
Faça uma infusão com 5 / 6 galhos de hortelã e um litro de água, espere esfriar e coloque o trigo para demolhar. Aguarde meia hora, coa e esprema até sair toda a água.
Asse a abóbora picada em pedaços médios embalada em papel alumínio, a 220° por 40 minutos. Tire da embalagem, amasse grosseiramente. Refogue a cebola em azeite até ficar transparente, adicione a abóbora, espere esfriar um pouco. Incorpore a abóbora amassada com o trigo já espremido, acrescente uma xícara de hortelã picada, sal e pimenta do reino. Reserve. Refogue o alho poró em azeite, adicione as amêndoas, reserve. Misture o queijo grosseiramente com as nozes, reserve.
Em uma forma refratária untada com azeite, coloque metade da mistura do quibe, cubra com o queijo com nozes, espalhe o alho poró com as amêndoas, e complete com o resto do quibe. Corte losangos ou retângulos sobre a superfície, passe um fio de azeite e leve ao forno a 240° por 20 minutos. 

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

ícaro e o bambu

Pensava no mito de Ícaro e Dédalo enquanto observava em meu jardim um bambu que nascera espontaneamente e crescia de forma absolutamente vertiginosa e rápida. Dédalo e seu filho Ícaro foram encarcerados no labirinto do Minotauro; para sua fuga, Dédalo construiu asas feitas de cera do mel de abelhas e penas de gaivotas, alertando o filho de que caso se dirigisse muito para o alto, o calor do sol poderia derreter suas asas - e se se dirigisse ao mar, suas asas poderiam ficar mais pesadas. No entanto, Ícaro não ouviu os conselhos do pai e, tomado pelo desejo de voar em direção ao sol, acabou despencando do azul celeste em direção ao mar Egeu. Uma parábola sobre como a sede do conhecimento pode nos levar a caminhos - ou finais, no caso - inesperados. Serve também para ilustrar o eterno desejo da juventude de ignorar os conselhos familiares e trilhar sua própria história. Ou para mostrar que nossos desejos têm limites - e que, quando os ultrapassamos, estamos sujeitos a leis maiores. 
Mas voltando ao jardim de casa - um brotinho nascera ao lado do bambu que tenho ao lado esquerdo da porta do terraço. E - juro - em pouco mais de 10 dias, alcançava aproximadamente 2,5 metros. Enquanto escrevo isto, ele já está próximo aos 4 metros de altura, 15 dias depois de ter sido oficialmente notado, à época com 5?10 centímetros. Questionando um amigo paisagista, descobri que este é um "filhote" do bambu, e que não nasceria com o mesmo desenho do outro, torto e espalhado, mas provavelmente mais retilíneo e verticalizado. E que, caso eu não o cortasse bem cedo, provavelmente causaria a morte de seu "pai" - e isto era visível, pois enquanto ele cresce seu par parece definhar, com o tronco menos verde e perdendo as folhas, a despeito de meus esforços para mantê-lo vivo e saudável. Este bambu filhote procura os céus desesperadamente como Ícaro em sua fuga - esta era a ligação que eu fazia quando no jardim. 


O vinho branco estava perfeito - um Sauvignon Blanc chileno, o sol estava começando a dar sinais de ir embora prematuramente às quatro da tarde deste horário de verão, e eu a fazer relações entre o bambu patricida, Dédalo, Ícaro e todas as suas interpretações. 
Não cheguei a nenhuma conclusão, mas desci para a cozinha e fiz uma salada grega. Fácil, mediterrânea, fresca e rápida, ainda deu para ver o dia acabar, junto a mitos e um bambu que não para de crescer. 


Salada grega
1 pepino japonês com casca
2 tomates não muito maduros
1/4 de pimentão amarelo
1/4 de pimentão vermelho
1 cebola roda em fatias
10 azeitonas pretas
4 fatias de queijo feta
oregano fresco
sal / pimenta do reino
azeite 
suco de meio limão

misture o limão com azeite e oregano fresco. reserve. 
corte os tomates sem sementes, o pepino e os pimentões em pedaços parecidos. misture, adicione as cebolas, as azeitonas sem caroço (por favor...não vai ficar bem alguém quebrando um dente depois desta história toda de Grécia, mitologia, botânica, psicologia e por aí vai...) o queijo e a mistura de azeite. Mexa o suficiente para incorporar os elementos, coloque a pimenta do reino e sal a gosto. 

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

cenas de um exagero

Uns buscam a simplificação, a síntese, a redução. Roberta Sudbrack caminha por uma trilha de elegância e sabores, com pratos de poucos ingredientes executados com maestria. Um de meus restaurantes preferidos em São Paulo, o Arturito (da grande Paola Carosella) oferece em seus domínios uma cozinha de excelência - tudo perfeitamente cozido ou grelhado no ponto mais do que certo, porções de tamanho ideal, e sabores que explodem de simplicidade extraída da perfeição. Mas existe um outro lado, que ainda insiste na mistura de elementos para compor um prato, onde teoricamente não poderia faltar algo ácido, algo adocicado e algo crocante. Em primeiro lugar - quem foi que teceu esta máxima de que estes elementos são fundamentais para uma receita? E em segundo lugar - já perceberam nas nomenclaturas dos pratos oferecidos? E tome "confit de pato em sua própria gordura (existe outro meio?), deitado em berço de baby leaves com redução de porto, poeira de barriga de porco e pérolas de tapioca" - só de ler o título do prato já me deu sono. Fora que um prato com poeira e pérolas já me deixa tenso.
Mas recentemente, graças a um amigo, conheci o cardápio abaixo.
Primeiro, o capítulo "Gourmet". Esta "gourmetização" já está chegando às raias do exagero. Ainda me soa na lembrança o livro de Miojo Gourmet - nada contra o processo de "sofisticação" de um prato instantâneo, isto é puro exercício de gestão de marca - mas "gourmetizar" o Miojo é triste. Temos hamburguer gourmet, brigadeiro gourmet, pudim de leite gourmet, e - no caso acima - Pizzas Gourmet.
Segundo - imagine a gororoba. Uma pizza com 1001 notas de sabor! Queijos - sim, queijos, no plural -misturados ao molho de tomate, com linguiça, couscous marroquino com tâmaras e Chanchlich...Ou então, uma que, sob uma chuva de Ervas de Provence (adoro a imagem...) e traços de molho barbecue de goiaba (ou Bar-B-Que, como grafado -argh!!!!!!), o feliz comensal pode encontrar alho poró puxado no vinho branco, amêndoas laminadas, atum grelhado e queijo holandês. É literalmente um X-Tudo, e o atum não merecia este fim tão indigno.
Num boteco aqui em Recife, onde me encontro novamente, encontro "Peixe ao molho de al caparras (ai...), creme de leite e catchup gratinado com queijo manteiga". Droga, gourmetizaram o botequim também! 

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

transtorno obsessivo culinário

Todo mundo pira um dia. Alguns bebem, outros saem xingando e batendo nas pessoas, outros saem comprando compulsivamente (já fiz isso no passado, hoje não mais - por falta de budget, e não de feelings). Eu arrumo coisas. Coloco os cintos todos com as fivelas do mesmo lado, separados por cor. O mesmo com as gravatas - que raramente uso, os lenços de bolso - que uso muito, os óculos, engraxo os sapatos, rearrumo as camisas, etc. Se a piração é heavy, esta ligeira loucura ultrapassa os limites do closet e vai para a estante, para a despensa, biblioteca, e saio uma mistura de Rose - a empregada Robot de The Jetsons e Sheldon Cooper, o maluco de The Bing Bang Theory.
Sábado passado foi "The Night". Eu estava tenso, enlouquecido, precisava fazer algo. Meu armário estava impecável. Os sapatos, brilhando. Os livros em ordem alfabética e tamanho. Eu tive que cair na cozinha...
Fiz caldo de músculo, e com este uma salada e uma sopa. Fiz um excepcional bolo de pêras - posto a receita qualquer dia. Fiz strogonoff, cozinhei lentilhas, gelatinas diversas, e enquanto rearrumava todos os armários da cozinha, mudando as panelas para outro armário, depois de dois Gin-Tônicas, algumas cervejas, três canecas imensas de café e dois vinhos do porto, vi um pacote de damascos e um de farinha de trigo abertos e pela metade, pedindo saída. E um resto congelado de peito de frango com molho de laranjas e gengibre de noites passadas atrapalhava a arrumação perfeita do freezer - eu tinha que dar um jeito naquilo. Descongelei o dito cujo, refoguei cebolas e pimentões amarelos, coloquei o frango em seu molho, acrescentei os damascos e engrossei o caldo com um tico de amido de milho. O Porto não tinha cortado o efeito da cafeína, então decidi fazer uma massa e transformar aquilo numa torta - aliás quatro, devidamente instaladas em ramequins. A cozinha mais parecia um laboratório de traficante colombiano - pó branco espalhado nas bancadas, canecas, copos, taças e garrafas vazias, e eu finalmente caí em mim. Eu parecia uma figura de Lucian Freud, abatido, exausto, quimicamente excitado às quase quatro da madrugada. Fui tomar um banho, abri o livro na cama e dormi na primeira página. 



quinta-feira, 10 de outubro de 2013

trepa no coqueiro e tira o coco

Então sábado tive um jantar em casa, para 12 pessoas. Entre elas o designer Luis Pons, o arquiteto David Schwartz e uma artista plástica fantástica, inteligente de dar raiva, de nome Michele e Beto C., recente e já grande amigo. Eu havia ficado a noite anterior picando quilos e mais quilos de peito de frango, temperei com temperos marroquinos e depois de refogar ligeiramente, cozinhei-os numa calda de laranja e gengibre. Servi com couscous marroquino, e todos adoraram mesmo. Eu já havia preparado um pudim de damascos, mas 2 horas e meia antes do jantar, decidi fazer uma outra sobremesa. Queria algo com gosto brasileiro, já que o jantar tinha sabores e perfumes do Mediterrâneo. Encarei rapidamente uma panna cotta de coco - correção, o conceito por trás do prato era esta sobremesa típica do Piemonte, mas na realidade virou outra coisa, pois fui juntando aqui, juntando ali, mudando um pouquinho e consegui algo absolutamente ESPETACULAR, em todos os sentidos. Os convidados adoraram, e quando eu disse que havia feito naquele dia, um ligeiro OOOOOHHHH pode se ouvir em torno da mesa. Eu consegui fazer algo pouco calórico, saboroso, original e muito, muito leve. Michelle me disse que era uma das melhores sobremesas que tinha comido ever. Será por isso que a considerei extremamente inteligente?

                           
Quase uma Panna Cotta de Coco 
500 ml de creme de leite fresco
400 ml de iogurte desnatado
600 ml de leite de coco
1 colher de sopa de sementes de cardamomo
4 colheres de sopa de açúcar peneirado
2 pacotes de gelatina em pó sem sabor
200 gramas de coco ralado sem açúcar
1 clara de ovo batida em neve
Coloque o creme de leite para ferver junto com o cardamomo, abaixe o fogo e coloque o leite de coco, o coco ralado e o açúcar. Cozinhe por 7 minutos para o cardamomo soltar seu aroma e perfume. Retire estes do creme, tire a panela do fogo e transfira o líquido para um bowl grande. Espere esfriar um pouco (mas deixe ainda morno), acrescente o iogurte e mexa bem. Incorpore lentamente a clara em neve, e em seguida colocar a gelatina já hidratada e amolecida conforme as instruções do fabricante.
Colocar em forminhas individuais (ou taças ou até copos pequenos). Levar à geladeira por no mínimo 4 horas, aqui eu acelerei o processo pelo freezer. E eu servi com uma calda de banana-passa (que tinha no armário) com cachaça (que sempre tenho no armário) e um pé-de-moleque "gourmet"... 



ps - eu só consigo fazer esta receita agora para 12 pessoas, sorry...

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Raphaelices e Gabrielices e...

Cena 1 - Gabriel (já citado aqui) vem à Galeria na sexta feira à tarde. Doce e animado como sempre, pergunta coisas sobre algumas obras, questiona outras, come uns biscoitinhos, joga charme sobre a gente e vai embora, levado pela mãe. À noite, comadre me liga com a novidade, descrevendo o papo entre eles muito tempo depois de que daqui saíram:
"-Mamãe, quando eu crescer quero ter uma galeria.
- Galeria de que, Gabriel?
- Galeria de Arte, mamãe!"
Cena 2 - No dia seguinte, sábado recebendo convidados para a exposição de obras de Luis Pons, grande designer Venezuelano, topo com Annita, uma menina de 7 anos super despachada e perspicaz. Sentamos na escada com sua mãe, e ela me diz que adora arte. Segue o papo
"- Annita, se você quiser trazer os amiguinhos da sua turma da escola até a Galeria para eles conhecerem, pode trazer ok?

- Posso? Então eu vou organizar isto! Mamãe, marque uma reunião para fazermos isto.
(...passado...)
- Mamãe, você vai me ajudar a organizar isto, tá?!
(...passado#2...)
Tiramos uma foto, e ela fez "a" pose.

Cena 3 - no final deste mesmo dia, recebo um telefonema:
"-Dindo, vamos fazer biscoito?
- Oi Raphael, tudo bom? Você quer fazer biscoitos?
- SIIIIIIM. Vamos fazer biscoito aqui em casa amanhã? Eu preciso comprar os "inguedientes"?
- Não Rapha, eu levo."
No domingo, fomos para a casa da comadre. Raphael e Thomas me recebem animados, "vamos fazer biscoito?!?!??!", almoçamos e o Raphael cobrando a promessa. Fomos para a cozinha, ele já de avental e lenço na cabeça. Botou a mão na massa, me ajudou a esticar e cortar os biscoitos, passou no açúcar e comeu vários, super feliz.

Mais feliz estava eu.

Biscoitos "Raphaelitas"
Confesso que eu nunca tinha feito biscoito na vida. Contava com a internet para na hora sacar uma receita do IPad, mas na hora "H" cadê a internet? O jeito foi improvisar.
1 e 1/2 xícaras de farinha de trigo
1/2 xícara de açúcar
50 gramas de manteiga
1 ovo
2 colheres de leite 
1 colher de café de bicarbonato
1 colher de sopa de raspas de limão siciliano
Calda
suco de 1 limão siciliano
4 colheres de açúcar
Misture a farinha, o açúcar, o bicarbonato e as raspas de limão. Acrescente a manteiga e incorpore até virar uma espécie de farofa. Acrescente o ovo e 1 colher de leite, incorpore até que a massa fique em ponto de esticar. Se precisar, coloque o resto do leite.
Descanse a massa por 30 minutos na geladeira (o que, no caso, não aconteceu. Meia hora para meu assistente era demais...). Abra com o rolo, corte com o molde desejado, coloque em forma ligeiramente untada no forno a 180 graus por 10 minutos. Vire os biscoitos, e deixe por mais 5 minutos.
Misture o suco de limão e o restante do açúcar, e leve ao fogo até virar uma calda fina. Molhe uma face do biscoito sobre a calda morna, polvilhe açúcar de confeiteiro sobre a superfície molhada e sirva.
(este post foi escrito sem nenhuma intenção ou influência do dia da criança. foram meras coincidências.)