food, art & spirits

food, art & spirits

quarta-feira, 20 de março de 2013

duplas dinâmicas

café com leite
pão com manteiga
goiabada com queijo
arroz e feijão
caviar com vodka
aliás, qualquer coisa com vodka
prince e stylistics
salmão com endro
fish & chips
cerveja com praia
ovo com trufas
prosciutto com figos frescos
figos com queijo de cabra
dame shirley bassey & propellerheads
tequila e limão
chardonnay e ostras
frango com farofa
burger & diet coke
burger & beer
pastel e caldo de cana
jorge drexler e susana félix
brigadeiro com guaraná
chocolate quente e inverno
coalhada com zattar
azeite com zattar
tequila e limão
water and flame (daniel merriweather & adele)
rhum and coke
gin & tonic
morango com chantilly
canja de galinha e cautela
acarajé com pimenta
cocada não precisa de mais nada
assim como elis regina





sábado, 16 de março de 2013

aquiles

Então sábado passado teve uma megasuperhiperultra festa na casa de meus amigos A. e O, queridos. A casa estava linda como sempre, mas enfeitada de flores vermelhas por todos os cantos. Manobristas à porta, champagne na chegada, canapés deliciosos - enquanto um DJ desfiava um setlist que incluia Earth Wind & Fire, Marvin Gaye e Prince, delicioso. Um chef que ainda não conhecia - Alexander Garcia - era o responsável pelo cardápio, e esmerou-se com afinco. Sobre a mesa, uma salada de base crocante com queijo de cabra e mini-legumes grelhados convivia com uma mousse de roquefort e figos turcos, mais uma quiche de cogumelos deliciosa, uma torta cuja massa tinha manjericão recheada por mozzarella de búfala e tomatinhos era uma versão assada da salada caprese, blinis com ovas de salmão perfeitos, e um "domo" de salmão com mini-beterrabas assadas absolutamente incrível. Perto da piscina, dois jovens magros e cabeludíssimos (odeio gente magra e cabeluda ...#ainvejamata...) estavam encarregados dos drinks e caipirinhas de lichia, morango, limão, kiwi e abacaxi - praticamente uma orgia gastro-etílica da maior categoria.
As sobremesas eram acintosas - e aquela "Sunset Party" foi adentrando a noite, o nível etílico subindo, a minha cintura aumentando face às opções gastro/etílicas, novos amigos sendo feitos, uma noite como deveriam ser todas as noites : bebidas, amigos, música, alegria. 
Então eu resolvi agradecer de uma forma muito simples - oferecendo um jantarzinho em casa. Mesa posta,
champagne gelada, um ótimo tinto - Cartuxa, que adoro - um late harvest esperava a sobremesa...e eu invento de última hora um prato com um fator complicante. Claro, eu tinha que complicar... Já havia feito o risotto um dia antes, para transforma-lo em riso al salto. O ragu para acompanhar o risotto estava pronto. A sopa de cenoura com gengibre e especiarias também tinha sido feita na noite anterior, para tomar mais gosto e ardência.

A mousse de manga e iogurte, levíssima, repousava em taças de dry-martini esperando apenas o tartare de manga e pimenta dedo-de-moça para coroar a sobremesa.

E eu vi uns aspargos lindos, verdes, e falei - Eureca! Aspargos com uma espécie de farofinha de pancetta, pão, parmesão e raspas de limão coroado por um ovo pochê...Aliás, cinco ovos pochês, pois eram cinco pessoas.
Mas eu e o ovo pochê somos inimigos mortais...Dias antes tinha me encontrado com meu amigo Bergamo, (que me deu este livro ótimo)
e havia comentado minha inaptidão para com este prato. Ele me deu as dicas, e ainda disse que podia cozinhar os ovos dentro de um saquinho untado, como visto pelo Prato Fundo. mas eu sou teimoso estóico, e quis fazer da maneira tradicional...
O primeiro ovo transformou-se numa espécie de fantasma dentro de minha panela, com um milhão de ramificações flutuando aleatoriamente. Lembrei-me da dica da temperatura da água dada pelo Bergamo, abaixei a temperatura, coloquei o vinagre, e agora meu segundo ovo pochê parecia um mini polvo albino, boiando na panela com seus 8 tentáculos...Nova tentativa. Quebrar o ovo numa tigelinha. Derramar ele lentamente na água, queimando a ponta dos dedos. Reunir a clara lentamente tentando dar forma decente ao ovo. Achar que o resultado está quase pronto, e ao tentar retirar descobrir que conseguiu a proeza de colar o ovo no fundo de uma panela que contém apenas água e vinagre...
Aí tive a idéia fantástica. Pegar um coadorzinho de chá de forma esférica, crendo que- como a clara era mais densa do que o líquido, com a água quente ela ia ficar mais densa ainda e tornar-se uma esfera perfeita e branca, contendo uma gema liquefeita. Na teoria, podia funcionar - em alguma realidade paralela, claro. Na prática, perdi um coador de chá, visto que um milhão de cabelinhos brancos acabou saindo pelos furinhos, e eu nunca mais terei condições de fazer chá neste recipiente novamente...
A esta altura, tocou a campainha. Eu já havia desperdiçado quatro ovos, e apenas 5 restavam na geladeira. Não tinha mais margem para o erro - ou erros, no plural mesmo. Mudei a receita - vide prato abaixo - para uns ovos quentes, com a gema densa, com umas lascas de flor de sal. Meu segundo prato não ficou aquela maravilha, apesar da farofinha ser deliciosa e dos aspargos perfeitamente no ponto. Mas meus amigos são muito elegantes, e não reclamaram. Mesmo porque eu ainda tinha dois pratos para me redimir do fiasco...Para vocês terem uma id~eia, até a foto saiu fora do foco!
Na próxima, farei souflée. Ovos nevados. Fios de ovos. Paté en croute. Mil folhas. Qualquer coisa mais simples que ovo pochê...

segunda-feira, 4 de março de 2013

uma longa caminhada


Ainda em Recife, domingo. Decidi fazer uma caminhada - uma loooooonga caminhada. Saí de Boa Viagem e fui caminhando, caminhando, caminhando...passei pelo bairro de nome divertidíssimo - Brasilia Teimosa - com sua arquitetura peculiar, carros com os porta-malas abertos recheados de alto-falantes (verdadeiros trios elétricos em miniatura) disseminando toda sorte de música ruim em som idem, montanhas de carrinhos fazendo de batatas-fritas a bolinhos fritos e peixes fritos e mais uma montanha de coisas fritas, tudo isto em uma área que tinha o perfil perfeito para ser um polo turístico de beleza inconteste. A calçada quase inexistia, paisagismo zero, sequer uma plantinha mirrada. E eu andando, andando...

Num dado momento, este braço de terra - não sei se configura um istmo, mas parecia - tem pouco mais de 5 metros de largura. De um lado, um paredão de concreto e pedra e o mar aberto, imenso, oceano. Do outro o Rio e a vista do centro da cidade e do Cais Estelita. 
E eu andando, andando...
Cheguei no parque de esculturas Brennand. Ligeiramente abandonado, apesar de ter sido construído não faz muito tempo. Uma placa mostrava data de fundação, arquiteto responsável, paisagista responsável - e novamente procurei um jardinzinho, uma plantinha, uma muda sequer - nada...(Estranho a falta de paisagismo numa cidade de calor inclemente como Recife). Então peguei um barquinho e atravessei até o Marco Zero, para fazer um lanche no Boteco, de minha amiga MD. Mas estava lotado, com fila de espera - e eu já com fome, sede, e as pernas pedindo um pequeno descanso depois de pouco mais de 11km andados.
Peguei o barquinho de volta, atravessei aquela água prateada pelo conjunto de sol e dia nublado, em dia branco cegante, 


e decidi dar uma parada na Casa de Banhos, que conheci recentemente. Um boteco à beira do Rio, coberto de telhas de cimento amianto , com dois ótimos cantores desfiando um repertório de MPB da melhor estirpe. Pedi uma mesa no lugar lotado, para um - e o garçom me olhou com cara de "tá me gozando, não?". Como não esmoreço, esperei alguns minutos até conseguir uma mesa no meio da muvuca. no centro do restaurante, entre duas mesas imensas e barulhentas. Pedi uma cerveja gelada, e um caldinho de peixe. Correção - "o" caldinho de peixe. Delicioso, cheio de aromas sutis, sem um mísero pedacinho de osso ou espinho, fantástico. Pedi outro, e a esta altura os 600ml da cerveja já tinham misteriosamente evaporado.

Tempo para uma caipirinha de rum e o segundo copo de caldinho estava igualmente perfeito, quente sob o teto quente numa tarde quente. A caipirinha desceu perfeita, o doce do rum e o azedo do limão, e eu cada vez mais imerso na música que tocava, nos sabores que provava esquecendo o mundo à minha volta.
Peço duas agulhas fritas - recuso a porção inteira pois tinha uma longa caminhada de volta. 
antes
depois

E uma nova cerveja. O restaurante estava misteriosamente silencioso - embora eu olhasse as pessoas falando, agitadas, eu só ouvia a voz suave do cantor, o violão e o pandeiro, e o barulhinho da água batendo sob o restaurante. 
Nesta hora o cantor dá uma parada, eu levanto um brinde solitário a ele - parece que ninguém o ouve, somente eu - que retribui o brinde e ataca com uma música que eu não ouvia há muito. E que tem a frase "mais solitário que um paulistano" encaixada em seus versos de forma perfeita. Como se encaixou igualmente ao momento, pois eu estava sozinho no mundo naquele momento. 

Pedi a conta. Gozação comigo não! (mesmo porque ainda tinha 11 km de caminhada na volta...)