Eu fui notando aos poucos esta mania de colocar queijo em tudo. Primeiro, a praga do cream-cheese nos sushis e temakis da cidade- inclusive já ouvi um cliente pedir "um temaki com muito cream-cheese e salmão". Depois, os potes de queijo ralado nos buffets dos restaurantes para almoço - e tome salada com queijo "tipo" parmesão (detesto coisas "tipo"!), sopas de qualquer sabor cobertas de queijo ralado, picanha assada com queijo, filet assado com queijo, frango assado com queijo - quem inventou esta moda? Na praia, servem caldinho de camarão, feijão, peixe e sururu com as opções de acréscimos - bacon, azeitonas, ovos de codorna e - queijo ralado, uma meleca impensável saída de garrafas térmicas suspeitíssimas. Cachorro quente de carrinho, a epítome da junk food, hoje vem com as variantes milho, molho de tomate e...sim, queijo ralado.
Mas ontem eu ví o que seria o ponto alto desta síndrome lacto/proteica. Já vou avisando - preparem-se, o relato a seguir não é para fracos.
Numa churrascaria ótima aqui em Recife, um cliente vem com o prato cheio de sushis, praticamente uma muralha feita de arroz, alga e peixes diversos. Ao lado, um potinho quase transbordando de um líquido marrom viscoso, algo entre um molho tarê e uma redução intensa de aceto balsâmico. Não era shoyu pura e simples pois era bem grosso, quase um caramelo. E então o comensal pede a um dos garçons um potinho de queijo ralado...
Neste momento, meus sentidos se aguçaram. Coloquei em prática toda minha habilidade em bisbilhotar a mesa vizinha sem ser notado, técnica esta desenvolvida ao longo das inúmeras viagens que fiz sozinho a trabalho. Pois o cliente, com a habilidade de um contumaz consumidor de comida japonesa, ao receber o recipiente de queijo ralado fez a seguinte operação - pegava o sushi com os hashis, besuntava ele no molho, rolava em seguida no queijo e depois mandava esta gororoba goela abaixo, sob meu - a esta altura nada discreto - olhar atônito. Eu tinha a impressão de que, caso houvesse uma panela cheia de óleo fervente ao seu lado, ele ainda era capaz de fritar aquele empanado estranho antes do momento final. Sorry, esqueci um detalhe - antes de comer aquele sushi ítalo-japonês, ele ainda colocava uma bola de wasabi no topo. Este ...como dizer, prato, era o típico representante da Confusion Cuisine, um braço determinado e cada vez mais presente da Fusion Cuisine.
Onde foi que esta história começou, será que foi resultado de um lobby da indústria "queijeira"? Por ser o queijo um dos alimentos primevos, será uma inconsciente volta às origens do homem? Ou será que o comensal, pura e simples, está pensando apenas na quantidade de comida que ingere - e tome acúmulos, em vez da simplicidade essencial? Ou será que eu estou implicando com uma coisa por causa da minha idade avançando?
Sei lá...esta última pergunta me deixou cabreiro...idade avançando...detestei isto.