food, art & spirits

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sábado, 5 de novembro de 2011

o mistério do pf perfeito


Cedi à tentação de ilustrar este post com uma foto do George Clooney fardado, para evitar trocadilhos com o título - muito embora ele se encaixasse perfeitamente in every senses. Mas eu quero é falar do tradicional PF, prato feito, que geralmente por ser de preço mais acessível, é bastante apreciado e consumido em restaurantes e bares (as vezes suspeitos). Mas este prato, aparentemente simples, tem um segredo para aqueles que querem comer bem, e não apenas comer muito. Fora as questões básicas de qualidade da comida, inerentes à qualquer culinária, o sucesso de um PF para mim está nas proporções.
Explico...
Pense num PF básico, um picadinho. Com arroz, feijão, farofa, couve e bananinha (e as vezes um ovo pochê para arrematar). Em alguns lugares ele vem em proporções absolutamente erradas - uma montanha de arroz, uma montanha de picadinho, um tiquinho de feijão, meio tiquinho de farofa - complica tudo! Você quer um pouquinho mais de feijão, e cadê? - fica aquele arroz pedindo um caldinho, e nada. Um pouquinho mais de farofa, que você fica raspando no prato, em claro desrespeito às normas da elegância. Você começa comendo um prato completo, e termina comendo arroz com carne, em suma. Eu gosto de ter um prato completo do começo ao fim. Não, não estou pregando a quantidade, que as vezes é exagerada. E obviamente não estou falando do PF do bar da esquina, mas sim de restaurantes que, se não estão no toplist dos conhecedores, ao menos fazem seu trabalho direitinho.
No começo da semana eu estava pensando nisto, enquanto me encaminhava para o almoço. Qual seria a minha proporção adequada de um PF que contenha proteínas, algum carboidrato, legumes e uma farinha para dar um terroir (vide post anterior para entender esta frase, please.)? Cheguei à seguinte conclusão, quando passei em frente ao restaurante AMSTERDAM, bem próximo à minha loja. O cardápio do dia exibia 3 pratos (fora o menu habitual) - risotto de frutos do mar, frango com couscous marroquino e picadinho com aipim. Parei o carro imediatamente, mudando meu roteiro e fui conferir se minhas idéias quanto às proporções do PF estavam certas.
Em primeiro lugar, este restaurante não é badalado (do ponto de vista gastronômico), mas faz uma culinária muito caprichada, tudo muito bem temperado, com ótimos pratos do dia. Aos sábados é uma festa, impossível de conseguir um lugar sem esperar. O serviço é atencioso, os donos simpaticíssimos, e ao sentar já tinha meu pedido feito. Enquanto recusava o couvert (a cintura não permite couvert e PF...), tentei fazer um gráfico/fórmula da perfeição matemática deste prato (em um smartphone, o que para mim seria um feito), mas eis que chega o prato, que não deu nem tempo de fotografar, pois eu estava morto de fome. Este consistia em uma porção generosa  de arroz, uma cumbuquinha de feijão muito bem feito, uma porção de tamanho preciso de um picadinho de filé com cubos macios de mandioca sob um molho que denotava a tempo e paciência, um montinho de farofa (um pouquinho maior do que o necessário para o perfeito equilíbrio das proporções por mim apregoadas) amarelinha muito bem temperada, uma salada de tomates com cebolas curtidas no azeite - adoro cebolas, mesmo no almoço... tudo perfeito, saboroso, sem exageros. Tinha espaços em branco no prato, para não ficar aquele tumulto, aquela confusão. Embora tenha sobrado um pouco de quase tudo , exceto as cebolas, foi fruto de meu recem adquirido auto-controle, que não sei quanto tempo vai durar. O mesmo auto-controle praticado no dia seguinte no TAVARES, simpático restaurante na Rua da Consolação, bom para um almoço em dia de sol. Eu estava meio irritado - para variar, acho que vou incluir definitivamente este traço em minha personalidade - e queria comer num lugar mais calmo, ainda próximo ao trabalho, e que não provocasse um rombo em meu orçamento. Novamente fui de um "PF du Jour" - um franguinho de leite assado, acompanhado de salada de pupunha e tomates, e abóbora assada com queijo de cabra. Não podia ter pedido melhor - a carne estava tenra, a salada muito bem temperada e a abóbora impecável, surpreendente. A porção era generosa, mas não exagerada.  E segundo o filósofo espanhol José Ortega y Gasset, "o exagero é sempre a exageração de algo que não o é."  
Minha alma barroca vai pedir divórcio depois disto...


8 comentários:

  1. agora fiquei com fome...
    e com vontade de te convidar pra comer...

    obrigado por concordar comigo no blog
    é dificil alguém concordar comigo sobre aquele assunto, e mto obrigado por dizer q é um crime eu estar solteiro. obrigado mesmo.

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  2. vou conhecer os restaurantes, fiquei com vontade. e adorei a frase final, ´parabéns.
    giulio m.

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  3. pois é, além de todas as qualidades, ainda sou um exímio cozinheiro. =)

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Direi apenas uma coisa: tp (texto perfeito). Gostaria de tê-lo escrito (acho que além de guloso, sou invejoso!).
    Abraços,
    Marcelo

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  6. Olha, confesso: diante de um PF suculento (qualidade, não quantidade), não tenho autocontrole algum!

    E já passei por isso aqui no Rio, de começar comendo um prato de picadinho e, depois de me dar por satisfeito, ainda ter à minha frente meio prato de arroz branco de tanto arroz que havia sido colocado. Eu hein.

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  7. Oi Wair, vim aqui retribuir sua visita lá no Temperaria. Adorei esse post! Tenho sérios problemas com PF porque também gosto de comer com todos os itens até o final. Eu sou meio doida, cada garfada tem um pouquinho de arroz, feijão, farofa e carne (seguindo seu exemplo). Quando sobre aquele monte de arroz no final fico chateada!
    Espero que volte mais vezes! Eu voltarei.
    Abraços, Vivian

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  8. Li seu texto na revista do Casa Shopping aqui do Rio. A questão do arroz branco foi perfeita!!! Sempre sobra! Só não concordo com o "às vezes suspeito" para caracterizar bares que, digamos assim, atuam de forma diametralmente oposta à alta gastronomia. Aqui no Rio, sem dúvida nenhuma, os melhores PFs (e muitas vezes as melhores refeições e ponto) são servidos em bares, botecos, pés sujos e afins que espantariam muita madame do Jardins ou de Ipanema. Elas, e talvez você também, não sabem o que estão perdendo!

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