food, art & spirits

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quinta-feira, 2 de setembro de 2010

desconexos

Recentemente, em uma pizzaria tradicional da capital paulista, vi a seguinte cena: um casal sentado a mesa, esperando sua pizza. Ambos com Black Berry nas mãos, num frenesi digital mandando ou recebendo mensagens – ou o que fosse. Chegou a pizza, comeram e voltaram a se conectar sabe-se la com quem ou com o que. Na necessidade de estarem conectados com o mundo, desconectaram um com o outro. Esta cena se passou as 22:00 horas, e não no horário comercial.



Segunda cena : num almoço de sábado, uma família num restaurante recém aberto na mesma cidade. Pai, mãe, mais dois adultos, um bebe e um pré-adolescente. Este ultimo, com um telefone celular grudado nas mãos, movia os dedos tão rapidamente - e visivelmente tão distante dos parentes ao seu lado, que parecia estar entrando numa espécie de transe, e nada o fez largar o aparelho por um minuto durante toda a refeição. Nem durante o trajeto ate o carro. E provavelmente depois disto. Deve estar fazendo o mesmo ate agora...


Não, não proclamo o fim da conectividade. Sou usuário de uma serie de gadgets eletrônicos, tenho um celular de quase ultima geração, participo de algumas redes sociais e mesmo assim não entendo a necessidade da hiperconectividade atual. Estranho ver uma mãe deixar seu filho pequeno, de repertorio ainda em formação, ligado a um celular como se fosse uma baba' substituta. Incomoda-me – e muito – ouvir as conversas alheias, geralmente desprovidas de conteúdo, pelo simples fato de que as pessoas falam alto ao telefone, onde quer que estejam – principalmente em restaurantes, teatros e cinemas. E falam o nada, o absoluto niilismo – sem as implicações deste conceito filosófico. Não bastam hoje termos todos os problemas constantes ao pegarmos um simples vôo – atrasos, aeronaves apertadas, mais atrasos e aeroportos lotados (no Brasil, claro). Ainda temos aquela bateria de campainhas e toques de toda sorte ao simples fato do avião pousar em solo. Agüentam a comida geralmente desprovida de sabor, consistência e textura adequada. Agüentam as poltronas mais estreitas e mais duras. Agüentam as filas de embarque e desembarque. Mas não agüentam ficar um misero minuto de suas vidas sem estarem ligados a este grande e imenso nada, que e' a comunicação exagerada.


E hoje li (na internet) uma noticia de um restaurante, cujo projeto e construção consumiram um orçamento de proporções inacreditáveis – muito provavelmente oposto a qualidade da comida que neste local será servida -, que no lugar do cardápio oferece uma espécie de celular simplificado, um micro-tablet, onde você escolhe sua comida, manda sua escolha diretamente para a cozinha (sem o auxilio de um garçom na maioria das vezes), recebe posts/informações da preparação de seu prato (quem vai a um restaurante e espera receber mensagens do tipo telemarketing , mais ou menos “ estaremos selando seu file” ou “estaremos providenciando o parmesão ” ?...argh!!), e um aviso de que ele chegara' em breve. E ainda pode acessar a internet gratuitamente neste ínterim. Sorry...em primeiro lugar – cafona!!!Tudo que e' excessivo e' insignificante, disse alguém. Ou “o excesso prejudica mais do que a falta”, vaticinou Cícero. O excesso pode nos empobrecer, imenso paradoxo.


No jargão popular, contem-me fora desta. Sou um grande apreciador da modernidade e da contemporaneidade, mas às vezes percebo-as desconexas. Ainda quero chegar ao restaurante, ouvir uma boa musica (e talvez a conversa baixinho dos comensais presentes), escolher minha refeição num cardápio conciso e elegante, ser muito bem servido por um garçom profissional e, no final, pagar a conta. Que ate' pode ser via celular. Sem ringtone, please.

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