food, art & spirits

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domingo, 14 de agosto de 2011

one for the road



One for my baby, one for the road...


Escutava Robbie Williams cantando isto no ultimo sábado a tarde, em casa. Relia "O Escaravelho de Ouro" de Poe, e lembrei da tequila que ganhei de minha amiga Karina D. em sua viagem ao México, esperando para ser aberta. Uma tapenade recém feita repousava dentro de um pote hermético,e o pão sueco em lâminas finas casava muito bem com estes parceiros. Cenário perfeito: uma poltrona confortável, bebida ótima e algo para mastigar enquanto lia este conto fantástico. Que me levou a outro conto do mesmo autor, e outro, e quatro tequilas depois, a concentração já não estava tão ...concentrada. Hora de comer algo, mas a cozinha me parece diferente hoje. Seriam os raios de sol neste sábado paulistano, ou os efeitos do aguardente que faziam tudo parecer mais lento, meio difuso...?
Encarei a geladeira, ela me encarou e disse, do alto de sua prepotência metálica : " E aí, está esperando o quê?"... Eu quase respondi para ela...
Uma eternidade se passou enquanto eu abria a geladeira e o freezer, esperando alguma idéia, algum estalo que contribuisse para dissolver minha falta de iniciativa e o inicio de um estranho torpor - fora a súbita vontade de deitar no sofá, deixando a geladeira com suas intimidades expostas.
Eis que de repente vejo um ligeiro brilho metálico, a ponta de uma cápsula que cobria um sauvignon blanc de excelente qualidade, deitada em berço frio, esperando que eu a retirasse deste repouso para dar-lhe corpo através da taça.
E o Cloud Bay, vinho do novo mundo, novamente não me decepcionou. Um bip ao longe me indicava: " falta algo, falta algo...". Era o alarme da geladeira de ultima geração me dizendo ACORDA HOMEM! Você não ia cozinhar, ou prefere uma inscrição on-line na AAA?
De repente, me vejo frente uma panela imensa com água e outra menor, também com água. Enquanto a panela maior ainda nem deu sinais de que está sobre a maior chama do fogão, a menor já está fervendo, e nesta despejo quatro lingüiças de lombo. Enquanto estas cozinham um pouco, apenas para que parte de sua gordura se esvaia e que eu possa tirar-lhes as peles, pico um alho-poró, dois dentes de alho, tomo mais uma taca de vinho e corto em fatias 4 shitakes grandes. Escorro as lingüiças, tiro as peles das mesmas, corto em pedaços e coloco em uma frigideira em fogo baixo, para que derretam um pouco mais de sua gordura.
Derramo azeite na frigideira sobre a lingüiça, tampo e aumento um pouco o fogo. Cadê o parmesão? Tiro um pedaço deste queijo forte, experimento-o e ele casa perfeitamente com mais uma taça do vinho. Coloco Robbie Williams novamente para tocar a música mais conhecida por Frank Sinatra e esqueço um pouco do tempo, até a água da panela grande manifestar sua fúria incandescente. Incorporo os alhos à lingüiça, e cadê o queijo de novo? Como ele foi parar na sala, sobre o meu livro? E onde foi que esconderam o ralador de queijo de casa? E porque esta panela está fervendo sem nada dentro?
Inspire. Espire. Tome uma taça de vinho, e lembre : você ia fazer " una pasta ubriaca " e quem está ubriaco é você, e não o macarrão...
Jogo o sal na panela cheia d´água, ele causa uma reação , levanta-se e diz "estou pronta, anda homem, cadê o spaghetti?"... Deito suavemente meio pacote de spaghetti integral na panela, coloco o shitake na outra, bebo mais um pouco de vinho e...CADÊ O QUEIJO DE NOVO?
Encontro-o com o ralador dentro do armário das panelas. Mistério...
Ralar rapidamente o queijo. Estancar o sangue da ponta do dedo que ralou. Catar um band-aid e não dar bandeira do que está acontecendo. Escorrer o macarrão, mas se lembrar de colocar o band-aid antes. No dedo, não na panela. Derramar uma taça de vinho branco na frigideira. Não, meia taça não pode, coloque uma taça inteira. Deixe evaporar um pouco do álcool na panela, o que está na sua cabeça não vai evaporar tão fácil. Misture a massa e dois punhados fartos do queijo assassino mutilador de dedos. Mexer rapidamente, e o que eu faço com esta salsinha que piquei tão cuidadosamente mesmo? Misturo com a pasta ainda na panela,

sirvo imediatamente, Du, vem comer porque comida quente não espera. Sinto muito, não tem vinho aberto, só um restinho, quase nada...quer coca-cola ou água?







Receita ( Mais ou Menos Sóbria ) de Spaghetti Ubriaco (que em italiano quer dizer alcoolizado, bêbado mesmo...)

250 gramas de spaghetti (usei o integral)
4 colheres de sopa de azeite de oliva virgem
1 alho poró (uso quase até as folhas, não uso apenas a parte branca)
2 dentes de alho
250 gramas de linguiça de lombo
4 shitakes grandes
1 garrafa de vinho branco seco (uma taça para a receita, o resto para o cozinheiro...)
1 xícara de parmesão ralado grosso
1 punhado de salsinha finamente picada
pimenta do reino moída na hora
sal a gosto
Escalde as linguiças e retire-lhe as peles. Enquanto cozinha o macarrão em abundante água fervendo com um pouco de sal, refogue as linguiças, acrescente o alho poró, o alho, o shitake, deite o vinho branco (apenas uma taça, lembre-se!), espere evaporar o álcool, misture a massa já cozida (que deve demorar 8 minutos se for integral, bem menos se não for), misture o parmesão e a salsinha, verifique o sal, moa a pimenta do reino e sirva. Hic!

3 comentários:

  1. Olha só! pilotando o fogão alcoolizado. Ainda bem que não encontrou nenhuma blitz da lei seca pelo caminho... kkkkkk

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  2. Olha... cheguei a ficar tonto com a sua narrativa! Não te pediram para fazer o 4 depois, na hora de lavar a louça?
    Ah, este Cloud Bay é o que me salva aqui na China no tempo de calor... um dos poucos vinhos bons que se acha por aqui.
    abs
    Rogério

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  3. bela receita
    vou tentar...

    sobre sua pergunta no meu blog
    infelizmente... eu ainda não saí desse momento negro da minha existência.

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