food, art & spirits

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terça-feira, 17 de setembro de 2013

back to 80's

Domingo à noite, e eu transformando os restos de um bacalhau do almoço de sábado em uma torta para o jantar de segunda - puro Lavoisier. O fato é que detesto desperdícios, e descarto de minha cozinha apenas e essencialmente o que é para ser descartado. Aquela história de utilizar "somente a parte branca do alho-poró", por exemplo, não cola comigo. Então juntei palmito, cebolas, cenouras, aipo, batatas, pimentão, refoguei com azeite, acrescentei o bacalhau, fiz uma rápida massa podre e coloquei para pré-assar uma torta com bacalhau (não confundir com torta de bacalhau, se é que você me entende). Seria consumida na segunda, e realmente o foi. Ficou muito boa, mediterrânea e bastante calórica.
E, para variar, o play list de meu laptop - fiel companheiro nas noites de cozinha - me prega peças. Toca "Toda menina baiana" (veja AQUI) de Gilberto Gil, e minha mente - sem nenhum aditivo químico, diga-se de passagem - voltou imediatamente à primeira metade dos anos 1980, eu começando a conhecer meio que tardiamente a noite paulistana. Por questões particulares, decidi me empenhar nos estudos e trabalho muito cedo, para cedo ter minha independência financeira (se seu soubesse que anos depois estaria fazendo contas no final do mês tinha aproveitado mais...), e não tinha tempo nem grana para sair com frequência. E quando comecei a fazê-lo, o point (ainda se usa esta palavra?) era o OFF, um diminuto clube noturno no Itaim, frequentado pelos amigos e por gente legal. Um pequeno espaço no térreo de um prédio, muito charmoso e elegante (pelo que eu me lembro, claro...), dividido em duas partes - uma, a "pista" propriamente dita, um semi-círculo circundado por uma espécie de arquibancada cujo teto abobadado ostentava uma cascata de pingentes de acrílico, de belo efeito. Neste espaço dancei muito, assim como vi shows de gente "nova" como Emilio Santiago e outros emergentes da MPB. O outro lado era o bar propriamente dito, composto por um balcão com barmen atenciosos e mais uns sofazinhos e mesinhas, para a gente paquerar conversar facilmente. Neste lugar, criado por um grande agitador cultural - Celso Cury - passei noites paquerando, bebendo com amigos e ouvindo uma trilha sonora deliciosa - da qual a música citada fazia parte. E foi neste local que eu tive uma tardia paixão adolescente, um grego de nome Christos. Era bonito, alto, voz grave e fã de Nina Simone, mas eu nunca levei muita fé em Christos (não podia deixar passar este trocadilho infame...) apesar da confessa paixonite. E ele me apresentou a um restaurante da colônia aonde íamos com sua família quase todo final de semana, no triângulo entre o final da Artur de Azevedo e a Faria Lima. Entre quebras de pratos, doses cavalares e fatais de Ouzo e danças típicas como esta (demorei para pegar a "coreografia", mas depois entrei no ritmo)
tomei gosto pela culinária grega. Faço até hoje uma moussaka de categoria, viciei no iogurte grego que finalmente chegou por aqui, e meu tzatsiki pode remeter a tempos imemoriais -  mais ainda do que as noites no Off nos longínquos anos oitenta.
(em algum lugar já existe pronto - mas qual é a graça?)

Tzatzkiki
2 pepinos sem casca nem sementes
250 ml iogurte integral
1 punhado farto de endro (dill) bem picado
2 dentes de alho grandes
1 colher de café de suco de limão
azeite a gosto
sal 
pimenta do reino moída na hora
Picar os pepinos em cubinhos minúsculos. Deixar escorrendo por meia hora em uma peneira. 
A parte, misture o iogurte com o azeite, limão, a pimenta moída, o alho amassado e microscopicamente picado e o endro. Incorporar todos os ingredientes até que o molho fique homogêneo. Acrescentar os pepinos picados, colocar na geladeira em recipiente fechado por uma hora antes de servir. Servir com pão rústico ou pão sírio - pode ser utilizado como um excelente molho de salada de batatas ou acompanhando um filé de peixe grelhado, também.

14 comentários:

  1. Quase chorei aqui!
    Eu LEMBRO desse restaurante grego! Foi a 1ª vez que "quebrei louça" na minha vida!!!!
    Bjs

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  2. Adoro lembranças. As minhas e as de outras pessoas. Faz eu viver com certa clareza momentos que não vivi.

    E vamos anotar a receita.

    Bêjo

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  3. Adoro lembranças. As minhas e as de outras pessoas. Faz eu viver com certa clareza momentos que não vivi.

    E vamos anotar a receita.

    Bêjo

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  4. Ai..ai... os anos 80 hein!! Quem viveu, viverá para sempre, impossível comparar com qualquer outra época. Não tive o privilégio de conhecer todos os points, pois voltei pra Bahia e fiz o caminho inverso! Mas é claro que seu texto nos remete a tempos bons e únicos!

    Imagina então se eu tivesse conhecido "seu" Christos!! hummmmmmm
    A imagem que me veio à mente, foi daquele filme: Casamento Grego"..não me pergunte por quê! hehehehehe..

    Parabéns por mais este texto "delicioso", como sempre! bj

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  5. Q coisa querido ... este final de semana degustei Tzatzkiki na casa de um amigo ... não conhecia e adorei ...

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  6. Adorei as suas lembranças. Fiquei daqui tentando imaginar cada coisa que você descreveu... Me parecem boas lembranças!

    Abraços

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  7. Ai, ai... nostálgico fiquei! Maravilha, Wair! Hugzitos - gregos - pra ti!

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  8. Tentei fazer tzatziki há um tempinho atrás mas ficou faltando uma graça... seria o dill?? Vou experimentar a sua receita, o iogurte Grego, que também me conquistou de jeito, já reside permanentemente na minha geladeira... homemade, claro!

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    1. Renata, sem dill não fica igual. Eu coloco muito mais, pois adoro o sabor e o perfume...
      Abraços!

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  9. Parece gostoso! E parabéns, adorei a escrita. Abraços
    Leila

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  10. me lembrei da universidade, que tinha um bolinho na janta apelidado de lavoisier... tu já imagina,né?

    respondi seu comentário no blog, sobre a lei do retorno...

    abraços!

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  11. Gosto de molhos ou patês que levam tanto iogurte quanto coalhada(comidas árabes).
    Esse barzinho devia ser uma delícia... uma lembrança a se preservar.

    Mas me diga, a a torta ficou deliciosa?

    Abraços

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    1. Margot, a torta ficou uma porrada! boa, masculina, nada delicada - mas fantástica de sabor.
      abs

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