food, art & spirits

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terça-feira, 12 de outubro de 2010

caju amigo

Fui jantar na casa de um amigo pernambucano, que me ofereceu um prato - uma salada de camarões, lagosta, folhas verdes e uma fruta que adoro - caju, em duas formas: grelhado e emulsionado no molho.A salada, assim como todo o jantar, estava impecável. Boa mesa, excelente papo, casa linda com um acervo de arte invejável, uma bela noite, como deveriam ser todas. Mas o caju literalmente mexe comigo. Esta fruta me traz lembranças muito pessoais. Era a fruta que meu pai mais gostava, e na época em que ele estava vivo, não era uma fruta comum nos mercados. Hoje, encontra-se em qualquer bom super mercado ou feira. Mas, voltando - ele adorava suco de caju, caipirinha desta fruta, doce, qualquer coisa. E esta e' uma lembrança dele. Estranho como nos fechamos em alguns pormenores quando a pessoa nos falta. Não me lembro direito da voz dele, nem de suas falas mais comuns, mas recordo perfeitamente que ele adorava conversar em torno da mesa de jantar. E toda vez que vejo esta fruta, a primeira sensação não e' o cheiro, ou o gosto, ou o travo na boca se ele não estiver maduro. A primeira sensação e' a lembrança de meu pai.Estranho depender de um gancho, uma muleta para lembrar de alguém tão importante. Mas creio que esta e' a forma de evitar a perda da lembrança, pior do que a perda da pessoa. Sim, perder alguém e' triste. Esquecer este alguém e' infinitamente pior. Talvez seja por isso que adoro caju - me traz a memoria de tempos mais amenos, onde podia contar com a figura paterna, mesmo não precisando dela. 

Um comentário:

  1. Outro dia eu parei o carro no farol. Ai eu lembrei do frango de panela que minha mãe fazia, refogado com uma colherinha de açucar queimado. Nunca mais vou comer esse frango e por isso chorei no meio da rua.

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