Ristorante Santa Marta, Via Santa Marta, Milano. Sempre como bem neste restaurante, pequeno, e sem turistas. Exceto neste dia. Quero dizer, comi bem, mas...ao lado de uma montanha de turistas brasileiros barulhentos, alguns infelizmente conhecidos, falando a língua praticada pelo Totó - para quem não se lembra, uma novela brasileira recente onde todos falavam um arremedo de italiano e a tradução saía em seguida, sendo que, de cada 4 palavras, uma era "figura-te"... Para ajudar concluí que naquela noite eu não estava muito afim de comer sozinho - ou pelo menos desacompanhado.Tem horas que é legal ficar só, tem horas que não. Tudo bem, encarei meu Risotto Nero com bravura - talvez influenciado pelo gótico cartão do restaurante.
Muitíssimo bem feito, tracei o imenso prato quase que inteiro, ao lado de uma garrafa de Gavi di Gavi, o suave do vinho branco em bom balanço com o sabor forte do prato. Risoto feito com tinta de lula tem um sabor meio - sei lá, de profundeza, alguma coisa abissal...Resolvi parar com o vinho, ao achar que estava ficando meio alto, encontrando sabores que não existem. PS - lembrar de nunca mais pedir algo com tinta de lula. Os dentes e os lábios ficam enegrecidos, e as pessoas te olham com uma cara de "coitado, sozinho e esquisito. Também, com aqueles dentes pretos..."
Armani Caffe, Milano. Ao meu lado, uma periguete profissional de micro-shorts jeans, meias rendadas e botas de saltos altíssimos me lança olhares de taxímetro. Incauta...Pelo fato de estar jantando solo, ela deve ter deduzido que vim aqui para traçar outro tipo de iguaria. No, grazzie. Vim apenas para matar a fome, a caminho do hotel.
A iluminação é bastante avermelhada, quente, e a música suave é ótima, ligeiramente orientalizada com uma pegada bossa nova.
Espero´que a comida não seja "fusion" como a trilha sonora...Peço uma água sem gás e uma taça de excelente pinot noir, enquanto olho o cardápio. Estou tentando perder alguns relevos em minha silhueta, até agora sem sucesso. E a cesta de grissini e pães à minha frente não ajuda em nada. Digo minha escolha à atendente, uma Costoletta di Vitello Alla Milanesa com Pomodorini I Rucola, no meu melhor italiano, intensificado pelos dois dias nesta cidade. A loirinha aguada me responde que "é frito"...Questiono se existe este prato feito de outra forma, mas a americaninha fazendo estágio na cidade, e na condição de garçonete, não assimila minha ironia. Recusei uma entrada que prometia, um flã de alho poró, pois vi Panna Cotta na lista de sobremesas, e afinal estou de regime - ou sobremesa, ou entrada.
Bem, a carne está muito boa, já pomodorini é quase um exagero, vieram dois tomatinhos cortados pela metade que quase não configuram o plural citado na receita. Como o vinho acabou, tenho que implorar para a Jenniffer (deve se chamar assim) que me traga outra taça. Ela sorri cada vez que insisto, mas não conhece a fúria de um homem jantando sozinho e quase engasgado com as lascas de sal marinho não moídos que salpicaram no prato, desequilibrando um pouco o conjunto - tinha partes sem sal e outras salgadíssimas.
Enquanto espero a sobremesa, arriva um ragazzo molto bello, alto, magro (raiva) e cabeludo (raiva 2) para suprir a saída da perigueti. Ele está com uma calça tão baixa que mostra metade de seu derrière descoberto - ou seja, taxímetro a vista again. Chegou sozinho, tipo " não sei de onde veio, mas está claro onde quer chegar". Clara e seguramente sonda o ambiente antes de sentar e sua atenção recai sobre mim. Este, ao contrário da outra profissional, tem um senso de colocação do produto no mercado mais adequado, se é que você me entende. Traço a sobremesa,
que estava ligeiramente torta mas muito saborosa, e caio fora antes que a conta aumente. Não a do restaurante, mas a dos "serviços paralelos", por assim dizer. Total da conta - ¢54. Por enquanto, está barato. So, God Give me Strength. Fui.
Everything must change. Porque tive uma noite tensa . Tensa, não - vamos dar o peso real das palavras, tive uma noite assustadora, e tentei controlar-me o dia inteiro para não dar bandeira de que estava confuso, atordoado, atropelado por um fato que eu não esperava. Porque um maluco, infeliz resolveu através de um ato insano deixar outras pessoas mais infelizes do que ele, ceifando a vida de crianças que não mereciam sofrer isto - mesmo para as que sobreviveram, que seguramente ficarão com marcas indeléveis em suas lembranças, e nós, infelizmente, não nos lembraremos delas no futuro. Porque as pessoas procuram uma saída mais fácil para elas, esquecendo que poucas, pouquíssimas certezas são imutáveis. Porque a vida caminha independente de nossas ações, como os círculos provocados por uma pedra atirada na superfície de um lago - sempre sabemos que a queda da pedra provocará os círculos, mas nunca sabemos quantos, de qual tamanho e intensidade. Porque infelizmente a justiça divina é um conceito de muitas explicações e discutíveis acertos. E finalmente porque aquilo que os homens de fato querem não é o conhecimento, e sim, a certeza.
Receber bem é uma arte dominada por poucos. Lembro-me de ter sido convidado para um almoço certa vez, aonde seria servida uma “famosa” feijoada. Ficou famosa mesmo – pela falta. Foi a primeira vez que vi alguém fazer feijoada para 4 pessoas achando que ia servir 12. Aliás, foi a primeira vez que vi alguém CONSEGUIR fazer tão pouca feijoada, um prato onde vai tanta coisa que é impossível fazer pouco – pois esta anfitriã conseguiu. Não sei se era falta de prática ou ...prefiro não comentar.
Mas voltando ao assunto – receber é um conjunto de ações perpetradas e pensadas com precisão e carinho. E ontem aconteceu isto, a perfeição do momento – um jantar na casa do querido amigo Fábio. Ele e seu companheiro Fabiano receberam um grupo de 7 pessoas(Eu, Eduardo, Fernando, Fabio e Fabiano, Felipe e Luciano) para jantar em seu lindo apartamento cumprindo um convite há muito postergado por ambas as partes. Flores na casa perfumada, um excelente Lambrusco gelado repousando no balde, potinhos de castanhas, pistaches e outras coisinhas deliciosas, som na medida certa e a descontração de todos, tudo denotando carinho do anfitrião para com os convidados – precisa mais?
Sim, precisa. A comida, que foi feita por Felipe, seu irmão, estava simples – e deliciosa. Começamos com uma salada nas cores da bandeira italiana
composta de folhas, pequenos tomates e uma burratta impecável, com molho básico denotando conhecimento da mistura dos elementos. Prato principal – uma massa recheada de abóbora (que adoro!) com azeite de trufas , pinhole e lascas de grana padano. Comida feita na hora
(como demonstram as fotos acima), o cheiro se espalhando da cozinha aberta para a sala aguçando os sentidos e o papo rolando solto à mesa, em noite que promete ser repetida, visto a sintonia das pessoas (outro quesito importante na hora de organizar um jantar ou festa). Terminou com um sorvete com calda e biscoito,
“montado” pelo dono da casa, que, se não tem os dotes culinários do irmão, esbanja em simpatia e atenção para suprir esta deficiência. Cada um escolheu sem tipo de café para terminar a noite (o meu era fooooorte, o que foi ótimo para fazer com que eu conseguisse chegar ileso em casa apesar da alta dosagem etílica), e voltamos para casa recheados de boa comida, carinho e atenção.
Ah, e o Pogo do título deste post? Um simpático bulldog, educado e extremamente afável apesar de sua aparência um tantinho agressiva, que passeou entre os convidados com muita fleugma e charme, mas escolheu Eduardo para demonstrar sua paixão, literalmente – apesar dos protestos dos donos, coroando esta noite com o elemento que faltava: a paixão, irrefreável, incontrolável e explícita.
(Pogo deprimido pela paixão não correspondida...)
E, em homenagem ao autor da cena mais romântica da noite...
Acabo de voltar de Recife, onde passei uma semana quente, calor intenso, delicioso. Fui a trabalho, o que não me permitiu conhecer - pela enésima vez...- a Praia de Carneiros, logo depois de Porto de Galinhas. Mas Recife é mais do que as praias, é uma terra onde tudo é pujante e superlativo - desde as belezas até as mazelas. Mas é na gastronomia que esta cidade se revela...Fomos jantar no restaurante Camarada, próximo à nossa loja, para comprovar - neste restaurante é feita a melhor empadinha de camarão do mundo! Uma massa suave, desmanchando, revelando o interior cremoso e farto de grandes camarões. Como o restaurante é especializado neste crustáceo, repetimos um pedido anterior - um imenso prato de Camarões na Cerveja, no ponto perfeito, coberto por cebolas e em porção generosa. O serviço é impecável, dos melhores do Nordeste - atencioso e presente na medida. E o preço? Pagamos módicos
R$ 75,00 - para duas pessoas!
Almoçamos no Restaurante Leite, onde fomos atendidos por Bigode em pessoa, e comi uma costelinha de porco com farofa matuta de comer rezando. De sobremesa - Cartola, a melhor da cidade (qualquer dia ensino a fazer este doce de banana com queijo-manteiga). Ainda fomos no Beijupirá, no Spettus (uma verdadeira orgia de lagostas e camarões - acho que consumi meio oceano destes bichinhos...) e outros lugares entre o correto e o perfeito.Mas o que não posso deixar de comer naquela cidade é o Mungunzá, ou Munguzá - ou Manguzá. É na verdade uma comida ritual votiva, de Santo, pertinente aos orixás. Trata-se de um alimento feito de milho, leite de coco, leite fresco e canela, simples e despretencioso. Mas é daquelas comidas que aquecem a alma e amolecem o espírito. No sul/sudeste, é chamada de Canjica, porém feita com milho para canjica branco. Lá, os grãos amarelos ressaltam num caldo branco leitoso, remetendo imediatamente à uma comida feita por mães, anterior aos termos cozinha molecular, tecno-emocional ou outros termos deste quilate. Aliás, em magnífico contrasenso, nada mais emocional do que um prato morno de canjica com canela polvilhada. É um prato tão revigorante e, ao mesmo tempo tão lenitivo, confortável, que deveria ser servido em altas cúpulas, nas discussões entre as potências mundiais, propiciando a seus líderes a oportunidade de enxergar questões maiores sob o ponto de vista apolítico, e apenas sob a ótica humanista. Mungunzá for all!!
Mungunzá, Munguzá, Manguzá
500 gramas de milho amarelo para canjica
300 ml de leite fresco
200 ml de leite de coco
2 xícaras de açúcar
1 xícara de coco fresco ralado
1 colher de sopa de manteiga
2 canelas em pau
4 a 6 cravos
Deixe o milho de molho em água durante 8 a 12 horas. Escorra, lave e coloque para cozinhar na panela de pressão com água suficiente, por 30 minutos. Espere esfriar um pouco, adicione o leite fresco, o açúcar, o leite de coco, a canela em pau e os cravos. Cozinhe mais 8 minutos sobre fogo baixo, acrescente a manteiga, o coco ralado e cozinhe por mais 10 minutos. O milho deverá ficar macio, porém sólido, sem desmanchar. Polvilhe canela ao servir. Pode ser servido frio ou gelado, mas morninho é ...pecaminoso, de tão bom!
Perdemos tempo. Perdemos dinheiro. As vezes perdemos os dois...
Perdemos cabelo, a forma, perdemos o peso (não no meu caso, infelizmente...), perdemos o trem da história, a oportunidade do beijo roubado, a chance de ganharmos sozinhos na mega-sena...
Perdemos o show que queríamos ter visto, aquela exposição que rolou e você adiou, adiou e acabou não vendo, perdemos a paciência, a inocência...
Para quase toda perda existe um paliativo. Perdemos a forma? Academia, plástica, personal trainer.
Perdemos cabelo? Implante, peruca ou um look Lawrence da Arábia, turbante enrolado e muita pose para sustentar isto. Perdemos tempo? Dá até para recuperar alguns momentos.
Mas para uma coisa não temos substituto. Para a perda da lembrança.
Pensei nisto anteontem, quando fiz de almoço uma prosaica salada de sardinhas com tomates,
azeite, pimentão e muita cebola, para ser comida com fatias de pão grelhado e um bom vinho branco.
Estava muito boa, fresca, tempero na medida certa. E era uma pequena homenagem a meu pai, que sempre a fazia aos domingos, prenunciando o almoço. Entre copos de caipirinha e limonada, este prato era um elemento perfeito para a boa conversa, risadas soltas e largas, enquanto na cozinha minha mãe terminava um assado, ou uma massa, o que fosse - mas a salada de sardinha era quase obrigatória, comida entre nacos de pão fresquinho , que usávamos para absorver o caldo/tempero no fundo do prato.
Executei a salada com todo cuidado, não incluindo nada que não pertencesse à receita original, respeitando a medida de azeite e vinagre, o pouco sal e a pimenta moída na hora. Mas algo se perdeu neste tempo - e creio, não era uma questão de decilitros de azeite ou gramas de cebolinha. O que se perdeu foi a lembrança dos domingos despreocupados, do som da risada de meu pai, do calor de seu afeto, que provavelmente imbuiam algum gosto ao que ele fazia.
Não há substitutos para a perda da lembrança. Mas, por sorte temos a oportunidade de sonhar e criar -inclusive o que esquecemos.
SALADA DE SARDINHAS
2 latas de sardinhas em conserva no azeite de primeira qualidade, sem pele e sem espinhas
2 tomates caqui não muito maduros, cortados pela metade e depois em fatias
2 cebolas grandes cortadas pela metade e dsepois em fatias finas
1 pires raso de cebolinha picada
12 azeitonas pretas portuguesas
30 ml de azeite de oliva virgem
10 ml de vinagre de vinho tinto
pimenta do reino moída na hora
sal a gosto
Misture tudo, despedaçando ligeiramente os filés de sardinha, e sirva com torradas de pão integral.
Adoro comida e bebida. Adoro abdômens trincados. Sim, sou geminiano... Pois somente um geminiano teria coragem de colocar esta situação numa mesma frase. Enquanto escrevo este post, por exemplo, estou tomando uma taça de um razoável Malbec e comendo torradinhas de pão integral com sardella...Se eu tivesse um mínimo de coerência com minhas intenções estéticas, estaria neste exato momento malhando na academia, sob o som insano do bate-estacas e consumindo no máximo, uma barrinha de cereais. Mas não – estou comendo e bebendo sentado, enquanto ouço Elis. Acabo de preparar as panquecas de palmito que serão servidas daqui a pouco, e estão num refratário esperando a hora certa de ir ao forno. Serão acompanhadas de uma salada e mais vinho.
Muito embora tenha diminuído sensivelmente o número de calorias ingeridas diariamente, não suporto pensar em regime. Detesto, odeio, abomino esta palavra e seu conceito básico, que insere uma idéia de privação em primeira ordem.
(...pausa para mais algumas torradinhas com sardella...)
Ontem à noite, fui à festa de aniversário de um querido amigo, no Terraço Itália, no topo de São Paulo. Bebida boa e farta, amigos queridos, som de primeira qualidade e minha cidade aos meus pés. Quando o garçom nos ofereceu as duas opções de prato do jantar, ambas aparentemente bastante apetitosas, eu escolhi o risotto, que estava muito bem executado. Alguns de nosso grupo optaram pela massa, e também foram unânimes em dizer que estava excelente. Menos um amigo nosso, que polidamente recusou ambos. Silêncio entre os barrigudinhos...
Na hora dos parabéns, foi servido um delicioso - e irrecusável - bolo, que todos aceitaram, exceto o que tinha recusado o prato principal. Foi a deixa para um verdadeiro levante – “Como, você não vai comer nada?!?Está de regime?Não come à noite?” – e outras perguntas mais. No que ele respondeu no máximo de sua polidez e educação características –“Não posso comer glúten, sou alérgico. Senão traçava tudo...”. Todos acreditaram menos eu. Tenho certeza que, por trás daquele capricho em recusar calorias, existe um abdômen seco, trincado. Aquela resposta prontamente colocada – a alegação da alergia ao glúten – esconde não apenas um homem fino e cortês, que frente ao problema deu uma solução elegante. Ela oculta um ser que consegue recusar os prazeres de Baco para encontrar-se com Adonis.
Óbvio que ele não é geminiano...
Obs – Tks Fernando, querido amigo, que possibilitou com sua deliciosa festa a idéia deste post.
SARDELLA DA MINHA AVÓ
·4 tomates grandes maduros
·4 pimentões vermelhos grandes
·4 dentes de alho picados
·40 gramas de anchovas em conserva
·½ colher de café de açúcar
·1 colher (café) de pimenta calabresa
·1 colher (chá) de sementes de erva-doce
·10 folhas de orégano fresco
·1/2 xícara de azeite de oliva virgem
·sal a gosto
Retire a semente e as peles dos tomates e pique-os em pedaços médios. Reserve. Toste os pimentões na chama do fogão até que fiquem ligeiramente chamuscados, retire as peles e corte em pedaços médios. Refogue-os na metade do azeite, acrescente os tomates sem pele e sem sementes, adicione as folhas de orégano, as anchovas e os alhos picados grosseiramente, e mantenha no fogo até que a água evapore. Tire do fogo, espere esfriar um pouco e bata com o mixer até que vire um purê grosso. Volte ao fogo com o restante do azeite, adicione as sementes de erva-doce esmagadas, a pimenta calabresa, o açúcar e verifique se há necessidade do sal, pois as anchovas são salgadas. Espere esfriar e sirva com pão italiano. Fica melhor no dia seguinte, guardado em pote herméticamente fechado.
Porque hoje é sexta, e estou cercado pelos meus cachorros em casa, depois de ter trabalhado feito um maluco hoje; Porque hoje comecei a escrever no site da Cris e da Sophia, e estou adorando isto; Porque o calor lá fora me induz a ficar aqui dentro; Porque o Joãozinho Caminhador Red Label está fazendo efeito, depois de 3 doses... Porque o dia teve seus altos e baixos, mas sou meio Poliana e prefiro lembrar dos altos; Porque eu recusei sair para uma festa badalada, pois achei que não valeria a pena; E finalmente porque o Thom Yorke canta como poucos, boa noite! Radiohead - Reckoner (Leftside Wobble Off-World Excursion) WAV by Leftside Wobble
A primeira vez que ouvi esta música não entendi direito, pela falta do domínio do idioma . Entendia o básico, mas sutilezas apenas na minha lingua materna. Pensei em Ryuichi Sakamoto hoje, enquanto jantava no Nagayama - de como, apesar de não ter nenhum parente oriental, tenho um profundo interesse pela cultura japonesa. Embora minha mãe fosse filha de um espanhol com uma italiana, e meu pai filho de uma libanesa, não sei porque cargas d´água escolheram o bairro da Liberdade para eu nascer, mesmo não morando em São Paulo na época. Foi neste bairro que tomei contato com a culinária que admiro e cultuo, de tal forma que me recuso a aprendê-la por achar que ainda tenho um longo caminho antes de enveredar por esta trilha de precisão e simplicidade. Foi em um karaokê típico no mesmo lugar que conheci meu companheiro há quase 24 anos atrás. É para lá que caminho sempre que estou sozinho, para fazer compras, descobrir lugares e me fartar de toda sorte de iguarias, o que contribui - e muito - para minha silhueta fora de minhas próprias expectativas. Sinto-me completamente à vontade para entrar sem nenhuma companhia em um restaurante japonês e alegrar-me de saquê ou shochu(que descobri recentemente e virei entusiasta) enquanto observo o trabalho meticuloso e quase sempre silencioso dos sushimen.
Bem, voltando ao Nagayama, enquanto eu me deliciava com um Saba Toro,
suaves sushis de Polvo, "algumas" duplas de Massago e perfeitos, impecáveis sushis de Toro (o que acrescentou alguns dígitos à minha conta...) e mais alguns Buri Toro
- ou olho-de-boi, busquei na minha memória quem tinha me apresentado à culinária japonesa. Lembrei-me que foi a mesma pessoa que também me apresentou à delicada música de Sakamoto - meu primo, um querido amigo e percebo hoje, responsável por uma série de características de minha bagagem cultural. Com ele conheci todos os filmes do Hitchcock e Polanski, fui à minha primeira Bienal de São Paulo, vi os inesquecíveis shows de Nana Caymmi & Cesar Camargo Mariano e Alberta Hunter no extinto bar do Hotel Maksoud. Ele me apresentou à música de Milton Nascimento e Duran Duran, em nossas viagens ao Guarujá e Iporanga nos finais de semana, onde nos fartávamos de caipirinhas e mariscos. Com ele adentrei pela primeira vez no imponente prédio do Masp, onde vi meu primeiro Van Gogh. E foi através dele que conheci o Nagayama, ainda em seu início, no Itaim, no começo dos anos 1990. Gosto de pensar que, se ele ainda estivesse neste mundo, estaríamos com nossos companheiros dividindo bons momentos.
A frase acima não é minha, é de Albert Einstein. E Denis Diderot vaticinava que " A ignorância não fica tão distante da verdade quanto o preconceito", em versão literal. O princípio da isonomia garante a todos a igualdade de direitos, e isto está consagrado na Constituição Federal. Portanto, não é apenas inadmissível que pessoas sejam vítimas de agressão ou violência, verbal ou física, pelo simples fato de serem diferentes, pensarem diferente, agirem diferente da grande maioria. O diferente é a gênese da criatividade, a centelha que articula a evolução. Ações que agridam a liberdade e suas manifestações não são somente moralmente intoleráveis, como também legalmente inaceitáveis.
Esta é apenas uma introdução a um ato, pacífico, contra as agressões homofóbicas que ocorreram recentemente ( tanto em nosso país quanto em outras nações ), que fiquei sabendo pelo blog do Thiago Lasco, um piquenique que acontecerá sábado próximo, dia 12 de fevereiro. Este evento, de nome poético, é um claro recado - o direito ao amor, ao respeito, aos direitos civis e ao bem-estar é inalienável a todo ser humano, independente de sua cor, credo, condição social ou gênero.
Aproveite o sábado de sol, carregue sua cesta de piquenique com coisas leves, não deixe sujeira no parque, divirta-se e, se quiser, leve os sanduiches abaixo, receita típica dos chás ingleses, mas adaptada ao nosso paladar.
Sanduíche de Pepino (ou Tea Time Sandwich)
2 pepinos japoneses
80 gramas de cream-cheese
1 pires de galhos de endro fresco
2 echalotes
2 bulgos de cebolinha (apenas a parte branca)
4 folhas de hortelã frescas
1 colher de café de suco de limão
1 colher de sobremesa de raspas de limão
12 fatias de pão de forma branco sem casca
sal a gosto
pimenta-do-reino branca moída na hora
Corte o pepino em rodelas finas, salgue e deixe escorrendo na peneira por 30 minutos.
Corte as echalotes, os bulbos de cebolinha, a hortelã em tirinhas , desgalhe o endro e misture ao cream-cheese. Coloque o suco de limão, e tempere com o sal e a pimenta-do-reino.
Enxugue ligeiramente as rodelas de pepino.
Coloque um pano de prato limpo ligeiramente úmido em um tabuleiro ou forma retangular para receber os sanduíches enquanto montados.
Distribua o cream-cheese temperado nas 12 fatias de pão de forma, disponha as rodelas de pepino harmoniosamente na metade destas fatias, tempere com mais um pouco de pimenta do reino branca e cubra com a outra metade. Corte os sanduíches em retângulos ou triângulos, e coloque no tabuleiro com o pano e cubra com a outra metade , como se fosse uma embalagem, para que não resseque o pão. Tire da geladeira pouco antes de sair de casa. Se você tiver em casa, ou achar em algum lugar em São Paulo, pode acrescentar ao pepino sementes de papoula, dão um crocante especial.
Ótimo com limonada geladíssima temperada com um pouco de suco de cranberry, fica ligeiramente rosada e verde e rosa são as cores de uma famosa escola de samba. Sem erro...
Não sou contra anglicismos. Au contraire...Mas tem horas que a gente vê certos Frankensteins na linguagem que incomodam aquele que conhece um pouquinho mais do que o ABC. Jovens de minha equipe falam "...- vou printar esta imagem...(e eu tenho ataques de fúria pela substituição do verbo imprimir pelo to print aportuguesado). Eles costumam "startar" os trabalhos, outra variação absurda do to start, no lugar de começar, iniciar. Camões & Machado viram e reviram na cova ininterruptamente...Mas esta é apenas a introdução de um assunto - como certas receitas migram de culturas originando as as vezes acertos deliciosos, mas também verdadeiras catástrofes culinárias. Já vi receita de tapenade sem azeitona (o que era aquilo, não sei, e prefiro não saber - alias, prefiro nem lembrar...). Pasta a carbonara com molho branco e presunto e caldo de carne...Confit de magret de canard (ainda não sei o que pretendia o autor desta receita, mas não era nem um - confit, nem outro - canard).
Porém, algumas vezes as receitas modificam-se totalmente para melhor. É o caso do Hot Dog, que na versão pernambucana virou um delicioso Cachorro-Quente temperado, único, verdadeira refeição. Por melhor que seja o binômio salsicha/pão do Gray´s Papaya (mais as coberturas, molhos e etc), sua versão do Nordeste Brasileiro dá de 10! Just in case (anglicismo!), confiram pelas fotos ao lado. Um, uma mistura de carne moída e salsicha, com molho de tomate temperado (e ainda pode ser acrescido de cebola em fatias e tomate picado). Outro, salsicha e mostarda...
Abaixo, a minha receita desta iguaria pernambucana, que faz o maior sucesso em casa, onde troco a salsicha por linguiça. Oxente, hope you like it!
CACHORRO QUENTE PERNAMBUCANO
3 colheres de azeite de oliva virgem
500 gramas de patinho moído com pouca gordura
50 gramas de bacon picado
250 gramas de linguiça de lombo sem pele, despedaçada e picada
2 cebolas médias picadas
2 dentes de alho finamente picado
1 pimentão verde
1 lata de tomates pelados
2 tomates maduros sem pele e sem sementes
1 pimenta dedo de moça
1 colher de café de açúcar
sal a gosto
Derreter a gordura do bacon na panela quente, colocar o azeite, refogar a cebola, o alho, a carne e a linguiça. Refogar e deixar a panela tampada por uns 15 minutos, até que a carne fique cozida porém sem água. Acrescentar os pimentões e a pimenta dedo de moça, mexer e acrescentar os tomates picados. Provar o sal, acertar o sal e a pimenta, e esperar até que o molho do tomate incorpore à carne e vire um molho grosso.
Sirva com pão francês fresco.
Surpresas podem ser boas. Não ter surpresas pode ser ótimo. É o que sinto toda vez que volto ao Tappo Trattoria. Um lugar pequeno, mas de grande cozinha. A primeira vez em que lá fui, experimentei um prato que minha avó fazia muito parecido, Pasta com Le Sarde, um bucattini com sardinhas, erva doce e tomates, muito bom mesmo. O que me fez voltar algumas vezes, e pedir o mesmo prato, uma busca aos sabores perdidos da infância. Mas desta volta, estive com meu compadre para um jantar de última hora numa quinta feira, e a primeira boa surpresa foi que não tive que esperar por uma mesa, cheguei e deram-me um lugar. Pedi um excelente vinho da Emilia-Romagna, cujo nome me foge no momento, e esperei comendo ótimas fatias de pão com azeite. A mesa ao lado pedia, neste ínterim, um prato de Cozze a la Marinara, mexilhões aromáticos ao molho de vinho branco e cebolas, que quase me impeliram a pedir um, dado a proximidade das mesas (um pouco mais próximas do que deveriam umas das outras, mas...). Minha pedida foi algo também que me lembrava aos domingos na casa dos avós, quando eu ajudava na preparação dos gnocchi, as mãos enfarinhadas apertando as pelotinhas de massa num garfo para dar a forma desejada e receber melhor o molho, que estava no fogão desde cedo. E, novamente, o Tappo não surpreendeu - trouxe um excelente prato, generoso, de Gnocchi con Ragú di Carne, a massa de excepcional leveza, e o molho revelando o tempo de cocção, bem feito, bem temperado, farto na medida e por preço bastante razoável.. Infelizmente, a esta altura, a mesa ao lado dividia um tentador - muito tentador - prato de Brasato Al Vino Rosso, pelo qual terei que voltar pois novamente tive que me controlar para não invadir a mesa alheia, ou pelo menos molhar o pão no caldo escuro que acompanhava a carne. A cada dia mais admiro o trabalho de Benny Novak, empreendedor e chefe de qualidade indiscutíveis. A receita de gnocchi aqui apresentada não é a do Tappo (infelizmente...), é a da minha avó. Mas é quase igual. Lembra a sabores generosos, de tempos em que a apresentação do prato era importante, porém o gosto era soberano.
GNOCCHI CON RAGU DI CARNI I SALSICCIA Para a massa:
1/2 kg de batatas
100 gramas de farinha de trigo
1 gema
50 gramas de manteiga
noz moscada ralada (opcional)
Cozinhe as batatas com casca, retire as cascas e amasse até formar uma espécie de purê, sem pelotas. Misture a farinha de trigo peneirada, a gema, a manteiga e a noz moscada, até ficar uma massa homogênea. Faça rolinhos da largura do dedão (era a indicação de minha avó...), e corte em pedacinhos do tamanho do polegar (licença poética). Enfarinhe para que não grudem. Role cada bolinha sobre um garfo, apertando suavemente, para que deixe sulcos em um lado e uma depressão suave no outro, para receber melhor o molho.Coloque pouco a pouco em água fervente e, ao subirem, estão prontos para serem escorridos e colocar o molho, imediatamente. Para o Ragú:
50 gramas de pancetta
azeite de oliva virgem
1,5 kg de lagarto limpo
200 gramas de linguiça calabresa
2 cebolas
1 litro de vinho tinto seco
1 kg de tomates maduros
1 cebola média
2 dentes de alho
1/2 cenoura
1 talo de aipo
2 folhas de louro
2 ramos de tomilho
sal e pimenta do reino moída na hora
Coloque o azeite numa panela de fundo grosso (de preferência de ferro), coloque a pancetta para que solte a gordura, e refogue a cebola e o alho finamente picados. Sele a carne neste refogado (virando por todos os lados , para que adquiram uma cor ferrosa), salgue e assim que o fundo da panela estiver grudando, derrame o vinho. Espere evaporar todo o álcool, coloque 300 ml de água quente, tampe e deixe por 30 minutos. Acrescente a cenoura em pedaços, o aipo e as folhas de louro - e, se for necessário, um pouco mais de água. Deixe cozinhar em fogo baixo por mais 30 minutos no mínimo, até que o caldo reduza à metade. Acrescente os tomates sem pele e sem sementes, em pedaços e a linguiça (previamente escaldada em água fervente) esfarelada, sem a pele. Acrescente uma colher de café de açúcar, tampe e deixe em fogo baixinho por mais 30 minutos. Retire a carne do molho, que a esta altura reduziu para metade de seu tamanho, e desfie em pedaços médios. Volte à panela, retire as folhas de louro, coloque o tomilho, e mais 30 minutos sobre a chama baixa do fogão. Corrija o sal, coloque a pimenta do reino e sirva sobre a massa. Ralar queijo grana padano ou, se gostar de sabores mais fortes, um provolone defumado.
Receita para 4 pessoas.
Estava pensando na sopa que tomei no E.A.T. , em NY, e no balcão à entrada deste misto de restaurante, boulangerie & rostisserie, endereço obrigatório do Eduardo naquela cidade - seja para tomar café da manhã, almoço ou lanche da tarde. Bem, voltando - o balcão é uma palheta de cores absurda, e tudo com boa cara. Não tem luxo, o único luxo é a qualidade da comida lá servida - e os guardanapos, lindos de matar, FRETTE, o que nos provoca verdadeiros ímpetos cleptomaníacos. E a tentação de pedir mais do que se pode comer sempre é grande, entre os verdes e rosas da salada de vagens com presunto e ervilhas frescas, o rosa e negro do salmão com gergelim e cebolas torradas, ou o amarelo intenso da salada de batatas com curry e frango entre outros. Mas, como desta vez resolvemos parar para almoçar um pouco tarde, e tinhamos uma reserva para jantar em um restaurante onde seguramente iríamos extrapolar a quantidade ingerida, fomos de sopinha mesmo. Pelo menos, isto é o que pensávamos, ao pedir um Borscht Quente. Chegou um prato de proporções fartas, mas de um vermelho intenso, onde pedaços grandes de beterraba nadavam em um caldo bastante aromático onde sobressaía o caldo de carne, generosos nacos de músculo bem cozido, gomos de cebola, pedaços de cenoura e alguns ramos de tomilho. Duas fatias grossas de um pão bastante rústico, e fomos obrigados a pedir um vinho para acompanhar tudo isto. O almoço demorou mais do que o previsto - mas valeu cada caloria...
B O R S C H T 1 litro de caldo de carne feito com pedaços de músculo 1 cebola média 6 beterrabas médias 2 cenouras 1 colher de café de açúcar 1 colher de café de vinagre branco sal pimenta do reino branca creme fresco ramos de tomilho gotas de molho inglês
Descasque as beterrabas e leve para cozinhar em 1 litro de água fria durante aproximadamente 30 minutos, sem que fiquem muito macias. Incorpore nesta água o vinagre, para que elas não percam a cor. Retire-as do caldo quando estiverem quase frias, pique em pedaços médios, e devolva-as ao caldo. Adicione o açúcar, o caldo de carne com os pedaços de músculo, as cenouras em pedaços de mesmo tamanho, a cebola cortada em conhas pequenas e leve ao fogo médio, com a panela tampada, até a beterraba ficar macia, porém firme. Corrija o sal, salpique a pimenta do reino, coloque as gotas de molho inglês e sirva imediatamente. Derrame uma colher de creme fresco no meio do prato e coloque o ramo de tomilho.
É um prato forte e apaixonantemente vermelho.
Deve ser inveja, pois eu não fui no show da Amy, mesmo sabendo que eu podia me decepcionar com ela (como aconteceu com a grande maioria) e pirar no som da Janelle, que já postei aqui no passado, e adoro. Mas continuo maluco pelas performances dramáticas e teatrais de PALOMA FAITH, e se alguém souber aonde e quando ela se apresenta, please, me avise - esta não vou perder...
Cena dramática - dia 26 de dezembro, domingo, e uma nevasca em New York como eu nunca tinha visto nesta época. Da janela do hotel, não enxergava o outro lado da rua - e taxi, a esta altura, nem pensar...
Porém uma agenda de reservas tinha sido feita através de super prático site de reservas de restaurantes, e eu queria conferir a comida de um restaurante pequeno - JOJO - do grande chef Jean-Georges Vongerichten, que já conhecia de outros restaurantes (o belíssimo VONG, que fechou, o prático e badalado MERCER KITCHEN, o SPICY MARKET no Chelsea - todos em NY), e pelo qual tenho um particular apreço - nunca comi mal em nenhuma das vezes em que estive em seus estabelecimentos. Mas, a nevasca... Quando liguei para o restaurante para confirmar o endereço, descobri que ficara a uma quadra do meu hotel (160 East 64th Street, tel. 212.2235656). Grata surpresa!! Liguei para os amigos do quarto ao lado para encararmos nossa party of four - que nos apelidamos rapidamente de The Fab Four - ô falta de senso de auto-crítica! Não gastei muita saliva tentando convencer todos, apesar do aspecto siberiano do lado de fora de nossos quartos. Well - fomos caminhando, realmente uma quadra, e a nevasca era tão intensa que quase passamos pelo restaurante, sem notá-lo. O que teria sido uma pena, pois era pequeno, acolhedor e fomos imediatamente bem recebidos pela gerente da casa, que nos conduziu até nossa mesa.
Primeira bom sinal, uma coincidência - a nossa mesa era a mesma fotografada pelo nymag.com.
Comecei por um Peekytoe Crabmeat, uma espécie de brandade fria de caranguejo, com pedacinhos de manga e uns biscoitinhos de cominho, magníficos. Preço?Módicos U$ 14...
Depois, fui de pato, num duo super bem executado - na versão peito (ou magret...), com um molho de echalotes agridoces, com um triangulo de excepcional massa folhada recheado da coxa do pato (confit), em porção farta, por apenas U$ 27.
Como continuava a nevar lá fora, ainda arriscamos uma sobremesa. Um amigo pediu a Bouche de Noel que está em primeiro plano na foto, e eu dividi - sob protestos - uma espécie de duplo cheese-cake com mel (que está sendo garfado no exato momento da foto) cuja receita você pode conferir aqui.
Saímos plenamente satisfeitos, inclusive com o valor da conta, bastante acessível, mesmo com as 3?4? garrafas de vinho.
A neve caía, e mesmo depois de ter parado, continuou lá por alguns dias. O que mais se via na TV eram discussões sobre a falta de iniciativa do poder público para retirar a neve que alcançou inacreditáveis 25" em um único dia. O pior foi depois - as pilhas de lixo que se acumulavam sobre as montanhas de neve. Por sorte o frio intenso conservou o lixo, não permitindo que a cidade de NY, que já estava caótica, com carros parados no meio das ruas e calçadas mais escorregadias do que tobogã ainda ficasse pior com o mau cheiro de lixo parado . Saí de lá antes da anunciada segunda nevasca, que seria hoje à noite. Ainda não sei esquiar o suficiente para encarar uma empreitada destas...
~ Gostaria de ter o despreendimento de quem não vive em casa. Acabo de chegar de uma viagem de 2 semanas, muitissimo bem instalado em um hotel com cozinha no apartamento - o que me facilitava a mecânica diária de tomar café e não sair para comer quando não quisesse - e, embora adore conhecer coisas e lugares novos, chegar em casa é um alento. Burt Bacarach é um destes gênios, poetas, que com pouco consegue expressar alguns sentimentos em poucas frases. Este vídeo mostra o que sinto a cada vez que volto para casa, com minhas coisas me cercando, meus discos, livros, músicas, cachorros, espaço, amigos e meu companheiro. "...And a house is not a home When there's no one there to hold you tight, And no one there you can kiss good night..." Talking about home, belas interpretações de home com Diana Ross e uma versão bem bonita com Kristin Chenoweth para Glee aqui.
Vi este cartaz em uma rua de NY, e se não é uma promessa, pelo menos é um bom desejo - e que não seja apenas em 2015, pois o mundo não pode esperar por este tipo de benesse. Desejo menos
i-phones de ultima geração, i-pads cada dia mais complexos, redes sociais sem conteúdo e a conectividade exagerada.
E desejo mais saúde e um mundo melhor para as novas gerações.
Sei que é lugar comum - foto de cachorro vestido de papai noel, fazendo carinha de safado, irresistível. Mas não vou pagar o mico de vestir Leopoldo, meu schnauzer, com gorrinho e tudo - sem chances. Bem, como diria a Simone, então é natal... Este ano vou fazer um programa diferente - passarei a noite de natal no avião, a caminho de uma cidade que adoro - NY. Eu, Eduardo - meu companheiro de 23 anos, e mais dois amigos - Rob e Fernando - vamos passar sem aquela comilança padrão e aquela alegria forçada da distribuição dos presentes. Vou estar cercado de pessoas que curto, lendo, ouvindo música, vendo filmes, bebendo, conversando, e , se possível, dormindo mais tarde. Vou sentir falta de estar com meus compadres Cris e Rodrigo, Glaucio e Mariana, meu afilhado querido e lindinho Raphael e seu irmão Thomas, a gatinha da Valentina - que me chama de padinho a toda hora, Maca - meu amigo de todas as horas, e mais alguns amigos queridos. Espero este ano ultrapassar uma etapa de minha vida - a de superar as ausências. Algumas ainda frequentam minha memória, as vezes de forma prazeirosa, vez ou outra de forma dolorosa. Tive a sorte de passar por um período muito complicado de perdas contínuas - inúmeros queridos amigos (no início da Aids), irmã, um primo que me era particularmente caro, meu pai, minha mãe - e conseguir superar sem grandes depressões. Alguns ainda me fazem uma puta falta, mesmo depois de tantos anos. Outros me acalentam com lembranças um tanto melancólicas, um tanto poéticas. Sei lá se existe uma outra dimensão, onde encontraremos as pessoas que perdemos. Do alto do meu ceticismo, decidi que duvido de quase tudo - do certo e do duvidoso. A única coisa que não duvido é de que estas pessoas foram fundamentais para mim, e estarei pensando nelas, nas alturas, e pensando como o mundo foi melhor quando todos estavam nele. À Liane, Aimar, meu pai, meus avós, Toninho, Chico, Rubens, Márcia, Paulinho, e minha mãe. 7. Wish you were here by Rohs! records
Gosto do termo one of a kind. Define o que sentia por Janete Costa, uma querida amiga, excepcional profissional, arquiteta que tinha o dom da palavra e sempre me surpreendia com frases e constatações simples de definição genial. Em um jantar onde ela falava em português com uma norte-americana, e ouvia respostas em inglês, sem que nenhuma dominasse a lingua da outra, questionei como elas se entendiam. A resposta foi lapidar - " Wair, o princípio da comunicação é o objeto. Se eu estou com sede, aponto um copo...". Veja aqui o depoimento de seus amigos, a respeito desta grande criadora e imensa criatura. Foi dela que me lembrei ao ver este curta, vencedor na categoria de curta de animação do Vimeo, feito por Kirsten Lepore em stop-motion. Uma comunicação transoceânica entre dois personagens, uma parábola de resultado sutil e comovente. Comunicação, de conteúdo - é para poucos.